quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Reitor.

Acordei faltando 10 minutos para estar dentro da sala do reitor. Pulei da cama. A Débora ainda estava dormindo. Coloquei as primeiras roupas que estavam na mochila, que continuava do mesmo jeito que havia deixado quando cheguei.
Fui correndo, quase batendo nas pessoas que já estavam caminhando pelo campus. Cheguei sem fôlego no prédio, mas logo encontrei a sala do reitor. Estava 10 minutos atrasada. Já pensando na desculpa que daria, ele abriu a porta.
- Suponho que você seja a Manuela?
- Sim, desculpe-me o atraso, mas não consegui achar a sala do senhor - disse sem fôlego.
- Isso sempre acontece - sorriu gentilmente - entre por favor - fez sinal para eu passar.
- Sente-se - disse enquanto fechava a porta.
Conversamos durante meia hora. Ele me explicou as regras dos dormitórios, o que não era permitido. Ainda me explicou mais algumas coisas, sobre a cozinha, sala, horários, enfim tudo que pôde ser dito em meia hora de um quase monólogo interrompido apenas com sim e não para responder as suas perguntas.
O dia passou muito rápido, ainda tive que assinar alguns papéis, combinei com o Rogério que voltaria na sexta a noite para concluir os documentos restantes sobre a casa. Conheci rapidamente onde seriam minhas aulas, a biblioteca, que era simplesmente maravilhosa, o RU. Comi alguma coisa rápida, liguei para o frete e confirmei a sua ida amanhã, terça-feira. Lembrei-me que havia combinado com a Patrícia. Será que ela iria se lembrar?
Chegando ao quarto, vi que a Débora ainda não estava.
Aproveitei então para tomar coragem e ligar para a Patrícia, afinal de contas precisava lembrá-la sobre amanha de manhã. Mas e se ela pensasse que estava apenas querendo falar com ela? Esses últimos dias foram tão corridos que nem pensara nela. Mas agora, com a iminência de falar com ela e ouvir sua voz, meu coração começara a bater mais forte. Tomei coragem e disquei os números que já sabia de cor. [E aí cara leitora, você pode me advertir que hoje em dia os celulares conseguem armazenar o nome das pessoas e que liga diretamente, sem precisar digitar os números, porém vos digo, digitar número por número da mais emoção. Na verdade da mais tempo de decidir se é a coisa certa a ser feita.] Eu demorei, quando chegou no último 9 pensei em desistir, mas percebi que já estava chamando.
Chamou, chamou, chamou. Caiu na caixa. O relógio marcava exatamente 18 horas. Fui tomar um banho ainda pensando nela. Talvez ela realmente estivesse muito magoada comigo, ou talvez nem mais lembrasse de mim. Ok, um pouco dramática de mais.
Liguei novamente às 19h, às 20h, às 21:35, às 22:23. Deitei na cama, já estava quase marcando meia noite. Ainda olhei para o celular, mas nada dela aparecer, nem sinal.
Débora dormia fazendo alguns barulhos engraçados. Minha mochila continuava intocada. E meu coração ainda apertado. Amanhã será o grande dia, vão recepcionar os "bixos". Provavelmente vão querer pintar meu rosto, espero que seja só isso. Ouvi histórias absurdas sobre os trotes que já passaram por aí. Adormeci pensando no dia que viria.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sobre o Campus

Com preguiça de guardar as coisas e até porque não tinha lugar para colocá-las, dormi com a roupa que viajei. Acordei com barulhos na porta.
- Não, eu sei - falou a menina entrando no quarto ao telefone - Tchau! Amanhã eu vou às 8h - disse se referindo a uma pessoa do corredor talvez - Beijos - voltando-se novamente ao telefone.
- Bom dia - disse ela vindo em minha direção - você, se não está tentando assaltar meu quarto - sorrindo olhando para a bagunça - deve ser a Manuela certo?
- Oi, sou sim e você é a Débora do bilhete, né?
- Prazer - disse enquanto estendia a mão.
- Prazer, cheguei muito cansada ontem, acabei capotando na cama - disse na tentativa de me desculpar pela bagunça.
- Imagina, aqui é assim mesmo, nem da tempo para arrumar nada. E veja bem, já vou te avisando, nada de estresse por arrumações aqui, se não vai destoar muito da atual decoração - rindo, agora olhando para a sua bagunça.
- Combinado.
A Débora me parecia uma pessoa legal. Pelo menos não fechou a porta na minha cara.
- Nossa está muito quente lá fora, preciso urgentemente de um banho, se você não se importa, vou lá e depois te mostro onde ficam as coisas, pode ser?
- Claro.
Peguei meu celular para ver que horas eram. Haviam 3 mensagens de texto e uma de voz. Abri e vi que eram todas da Luciana. Pensei em apagá-las, mas minha curiosidade foi maior. Entre outras coisas, ela disse que estava com saudade e me perguntou como foi a viagem. Não quis respondê-las, mas talvez isso fosse mais um motivo para ela me ligar e me xingar. Como estava sozinha no quarto, liguei para ela. Demorou um pouco para atender.
- Alô? - disse ela sonolenta.
- Acorda menina!
- Manu? - perguntou com uma nítida satisfação na voz.
- Sim, sou eu. Você me mandou mensagem.
- E liguei, mas você não quis me atender. Mal chegou à capital e já está assim?
- Não, é que cheguei cansada mesmo. Capotei quando cheguei.
Silêncio.
- Tudo bem com você?
- Tudo.
Silêncio.
- O que você queria?
- Saber como foi a viagem.
- Foi boa, está tudo dentro dos conformes.
Silêncio.
- O que você vai fazer hoje? - falei para cortar o silêncio que começava a ficar embaraçoso.
- O de sempre.
- E o que é o de sempre?
- Nada - riu - ainda estou de férias, o cursinho só começa semana que vem, e ainda não estou disposta para estudar.
- E quando que você já esteve?
- Eu sempre estive, você que nunca me deixou estudar.
- Eu? Você que nunca me deixou, mas isso não vem ao caso também.
- Claro que não né? Porque você passou e eu estou indo para o quarto ano consecutivo de cursinho. Não agüento mais estudar. Estou pensando em mudar de curso.
- Você também quer o curso mais difícil? Só pra brincar de médico com as menininhas que eu sei.
- Também - riu maliciosamente.
- ...
- Manu, eu..
- Lu, eu tenho que desligar, ta? - eu não queria começar o dia com chantagens e melodramas, ainda mais vindo dela.
- Ok, ok. Você agora é uma federada, né? Logo mais vai esquecer das amigas. Mas ok, ok, vai lá. Beijos.
Em seguida meu celular tocou. Sem número. Deveria ser o André, ele sempre fazia isso.
- Fala André.
- Como você sabia que era eu?
- Mágica.
- Menina, que susto! Então, leu a cartinha?
- Eu estou bem, ocorreu tudo bem na viagem e também estou com saudade.
- Querida, eu não quero saber disso, porque isso eu já sei. Notícia ruim chega de pressa, quero saber da carta.
- O que tem ela?
- Fiquei curioso, prometi a ela que não abriria, logo, você agora vai me contar o que está escrito nela.
- Nada de mais, ela me xingou, me chamou de coração de pedra, disse que eu era egoísta.. Essas coisas de sempre.
- Eu estou preocupado com ela.
- O que aconteceu Dé? - disse sentindo uma angústia repentina.
- Nada. Esse é o problema, ela não me ligou ainda.
- Ela deve estar ocupada - disse mais calma.
- Você não lembra mais de como ela é?
- Ela deve estar ocupada, vamos deixar ela em paz.
- Não sei se deveria te contar isso, mas desde o dia que vocês pararam de se ver por causa da Lu, ela me liga quase todos os dias, e ficamos conversando durante horas.
- Não sabia disso.
- Pois é, e continua sem saber ok? E aí, algum bofe que preste por aí?
- E o Beto?
- Ele está no banho agora, conte-me. Algum com mais de um metro e meio?
- Seu libertino, não!
- Eu sei, você não é ligada em homens. Então reformulando a minha pergunta, e aí, muitas gatinhas?
Ri alto - Você só pensa nisso?
- Não venha me enganar dona Manuelita, que você não é flor que se cheire.
- Ta.. Eu vi uma sim, bem simpática.
- Sabia!!! Você é das minhas, não é como a Patrícia que fica entocada dentro de casa, conte-me já!
- Trombei com três meninas ontem a noite.
- Esse é seu novo método de pegar menininhas? Atropelar elas para depois poder cuidá-las?
- Pára, ô! Eu não as vi. Mas acho que duas eram namoradas.
- Assim, descaradamente? Capital é outra coisa né? Já lhe disse que ano que vem eu vou morar aí. Mas me conte, e aí, já se pegaram e tudo mais?
- Que isso, homem! Elas apenas me ajudaram a achar o meu dormitório.
- Elas? Antes era só uma.
- Quem sabe você presta atenção no que eu falo? Eram três, duas que pareciam um casal, apesar de não terem ficado na minha frente, e a outra muito lindinha.
- Muito lindinha. Conheço você muito bem Manuelita. Vê se não apronta muito hein? Que agora você está dona do seu próprio nariz, não precisa dar satisfação para mais ninguém.
- Você quer me dizer que estou sozinha no mundo né?
- Mulheres e seus dramas. Eu estou indo, que o Beto saiu do banho.
- Manda um beijo pra ele.
- Eu dou um beijo nele. Tchau linda, aproveita essa loucura aí.
Parando para pensar eu estava sozinha. Nem tia mais eu tinha para quem dar explicações. Nunca me achei uma pobre coitada que nunca teve seus parentes por perto. Mas agora uma amarga sensação de solidão me bateu.
- Ei garota, que cara é essa?
Nem tinha visto que a Débora havia entrado no quarto. Estava só com a toalha no corpo ainda molhado - interessantíssima visão. Virei meu olhar rapidamente para o lado, fingindo que ia arrumar minha mochila.
- Não é nada não, falei com meu amigo agora.
- Amigo é? Ta bom.
Eu ia dizer que era amigo mesmo, mas para que tantas explicações? Não são todas as pessoas do mundo que aceitariam sem problemas ouvir que o meu amigo provavelmente já pegara muito mais homem do que ela. Então apenas sorri.
- Você deve estar querendo tomar banho, comer alguma coisa né? Larga essas mochilas, depois você arruma. Vou lhe mostrar como funcionam as coisas por aqui.
Ficamos conversando durante quase toda a manhã. Ela me contou que fazia jornalismo e estava no 5 semestre, mas deveria estar no 6. Disse que a menina do lado em todo esse tempo nunca falara nada gentil para ninguém. Todos a conhecia como a "mal-comida". Mas confesso que não prestei muita atenção nessa parte pois um cartaz no mural de avisos me chamou atenção. Havia várias coisas escritas que não davam para distingui-las, mas o seu fundo era inconfundível. Um grande arco-íris. Anotei mentalmente que voltaria ali para poder vê-lo melhor. Débora nitidamente estava empolgada me mostrando as coisas, contando-me sobre tudo e todos. Mostrou-me onde ficavam os banheiros para tomar banho, a cozinha comunitária, a sala, o prédio inteiro. Depois de tomar um belo banho, saímos para aproveitar a tarde daquele domingo ensolarado. Aproveitou para me levar no melhor café do campus. Apresentou-me à algumas amigas. A Cláudia que também fazia Jornalismo, a Alessandra que fazia Marketing, a Daniela que fazia História, e mais algumas que confesso não me recordar os nomes. Legais elas, me disseram onde havia meninos bonitinhos, os lindos e os "chuta-que-é-macumba". Fingi me interessar, dizendo "sim", "sério?" e "aham". Já estava escurecendo quando resolvemos voltar para o quarto. Ainda fiquei na esperança de ver alguma das meninas de ontem, mas nem sinal delas. Na volta tentei ver novamente o cartaz do arco-íris, mas o falatório da Débora não permitiu. Ela estava muito animada, com um sorriso de orelha a orelha.
- A noite foi boa ontem, hein? - arrisquei.
- Está tão na vista assim?
- Eu não lhe conheço muito, mas está sim.
E lá se foi o resto do domingo com ela contando sobre seu namorado, que haviam voltado, depois dela pegar ele com outra e que...

domingo, 31 de agosto de 2008

Federal, aqui vou eu!

Cheguei na rodoviária e como previa não havia ninguém me esperando. Da carta que a Patrícia me escreveu, a única coisa que ela estava errada é em pensar que eu não me importava com ela. O resto, infelizmente era tudo verdade. Sou egoísta mesmo. Ela me conhece. Então para que me mandar uma carta? Para me xingar, me jogar na cara que eu consegui estragar algo que seria perfeito com ela, por causa dos meus mimos, minhas vontades.
Olhei para as pessoas a minha volta, cada uma no seu próprio mundinho, um rapaz ouvindo som no seu fone de ouvido, uma menina correndo atrás dos seus pais, alguns homens sentados lendo seus jornais, enquanto uma moça tentava recolher todas as suas moedas que haviam caído no chão, e ninguém se dispôs a ajudá-la. Todos pareciam estar imune a qualquer manifestação de humanidade ou solidariedade. Acho que cheguei à cidade que comporta pessoas como eu. Uma cidade egoísta.
Procurei um táxi, e dei o endereço a ele. Sabia mais ou menos onde era a faculdade. Uma das várias vezes que Patrícia e eu fugimos pra cá em busca de uma balada GLS havíamos passado por lá.
- É aqui moça - disse o taxista meio mal-humorado - quer ajuda com as malas?
- Não, obrigada - disse eu pagando pela corrida.
Retirei minhas bagagens e quando as coloquei nas minhas costas o táxi já não estava mais lá. E agora? Onde era o meu quarto? Estava eu e minhas malas que conforme o tempo passava ficavam mais pesadas, olhando para a entrada da faculdade. Mas aprendi com minha tia, que quando não sabemos para onde ir, o melhor a fazer é seguir a multidão, que sempre chegamos a algum lugar. Ok, decidido. Mas qual das várias multidões eu deveria seguir? Havia um grupo de meninos e meninas emos, vestidos de preto, com uma super produção, maquiagens e alguns seguravam garrafas peti, que provavelmente não continham apenas refrigerante dentro. Claro, era sábado, dia de balada. Primeiro alvo eliminado. Olhei para a direita havia um grupo de meninas que pareciam ser meio nerds. Perfeito, nada mais correto do que perguntar para elas. Fui andando em sua direção, quando topei com outras pessoas que estavam caminhando em sentido oposto ao meu. Lá se foram as bagagens para o chão. Bati em uma menina que estava na companhia de mais duas meninas que estavam com os braços dados. Será que eram namoradas? Logo assim a recepção calorosa da cidade? Fui recolhendo minhas bagagens que estavam espalhadas pelo chão, a que a princípio estava desacompanhada me ajudou pedindo desculpas. Era uma japonesinha da minha altura.
- Desculpe-me, é que eu cheguei agora aqui, ainda estou meio perdida, nem vi vocês.
Ela era realmente muito bonita.
- Que isso - disse ela me ajudando a levantar a mochila. - Você está carregando tudo isso sozinha?
Fiz que sim com os ombros. Olhei em direção onde o grupo de "nerds" estavam, mas elas haviam sumido.
- Olha, será que vocês podem me ajudar? Estou procurando meu quarto, não faço a mínima idéia onde fica.
- Em primeiro lugar, você tem nome por acaso? - sorriu ela.
Gaydar apitando. Gaydar apitando.
[Fazendo um à parte. Se existe ou não gaydar, segundo dizem por aí eu já não sei, mas sinto, e não sei se é assim com todas as pessoas gays, que tem certas pessoas que não adianta. Está na cara. Não por ser meninos que são afeminados de mais ou moças bofinhas. Mas algo além das aparências, talvez um jeito de olhar, de falar, de sorrir. Claro, tem vezes que nosso gaydar falha fazendo até pagarmos micos achando coisas que não são, levando um belo de um toco. Mas algo apitou. Ainda mais que ela estava acompanhada de duas meninas abraçadas. Claro, claro, poderiam ser amigas que estavam com frio? Sim, principalmente porque estávamos no verão. Mas quem sabe?]
- Manuela, prazer - sorri meio encabulada.
- Hm, Manuela, você sabe qual prédio?
Tirei o papelzinho amassado de dentro do bolso e mostrei a ela.
- É perto do de vocês - disse ela referindo-se ao casal.
Elas estavam arrumadas, talvez também estivessem indo para alguma balada.
- Vem com a gente - disse a suposta namorada da mais baixa.
Sorri ainda encabulada. Se minhas suspeitas estivessem corretas, isto na minha cidade nunca aconteceria. Um casal aparecendo em plena "luz do dia" por aí.
- Hei, você é de onde mesmo? - perguntou a japonesinha sem-nome.
Enquanto eu contava resumidamente a minha história para elas, a mais baixa disse baixinho para a outra que iriam se atrasar. Mas a sua suposta namorada disse que não custava nada me acompanhar até lá. Gostei dela logo de cara. Ela fazia psicologia, a mais baixa matemática e a japonesa arquitetura. Todas no segundo semestre, menos a mais alta que já estava na metade do curso. Descobri também que a mais alta se chamava Carol e a mais baixa Ma. Foi o que eu ouvi quando elas conversavam entre si. A japinha estava me olhando, com um sorriso meio estranho. Sorri de volta.
- É aqui - disse ela apontando para um monstruoso prédio antigo.
- Boa sorte - disse a Carol com um largo sorriso - eu também já passei por isto, também sou do interior. Pode ser assustador no começo, mas depois você vai se amarrar. A sua faculdade não é longe da minha, a gente ainda se vê por aí. Qualquer coisa dá um grito.
A Ma concordou com um sorriso um pouco desgostoso e disse - Estamos indo agora que temos uma festa para ir.
- Você podia aparecer por lá, acho que você gostaria. Fica depois daquele prédio - apontando - já tem uma galera indo pra lá - disse Carol.
- Se eu conseguir eu vou, faz tempo que não saiu mesmo. Desculpa fazer vocês se atrasarem - falei olhando para a Ma - mas muito obrigada mesmo por tudo e prazer em conhecer vocês - disse dando um beijo na bochecha de cada uma. Quando chegou a vez da japonesa ainda falei - prazer em conhecer moça-sem-nome - sorrindo.
Ela apenas retribuiu o sorriso.
Subi as escadas um pouco mais animada. As meninas realmente me pareciam chegadas. Talvez fosse só impressão. Talvez não. Com a conversa parei de pensar um pouco na Patrícia. Ela disse que eu pareço pedra. Verdade, até aquele momento estava sem chorar, mas quando continuei lendo a carta, fui lembrando-me de todas as coisas boas que passamos juntas e não consegui conter.
Subi um lance de escadas, mais um, mais um, e cada vez as mochilas ficavam mais pesadas.
4° andar. É este.. Agora achar o número.. Ok, encontrado. Mas e a chave? Nossa.. Havia me esquecido completamente disso. O reitor combinou comigo que me daria ela na segunda de manhã. E agora?
Resolvi bater na porta, para ver se alguém atendia. Vi que havia um bilhete colado, perto da maçaneta.
"Olá Manuela
O reitor me avisou sobre a sua chegada. Como precisei sair, deixei a chave no quarto ao lado.
Seja bem-vinda.
Amanhã de manhã conversamos.
em comida dentro da geladeira, sinta-se a vontade para comer.
Ass: Débora"
Débora, essa seria minha futura colega de quarto por uns 5 anos. Legal. Bati na porta ao lado e uma menina de pijama me atendeu tirando os fones do ouvido.
- Sim? - disse ela com um visível desconforto.
- Hm, desculpa bater a essa hora, mas a Débora - mostrei o bilhete - deixou a chave aí?
- Ah sim, perai - fechando a porta na minha cara. Educadas as pessoas por aqui, pensei. Abriu novamente entregando-me as chaves com um chaveiro do Frajola.
- Tchau - fechando a porta mais uma vez.
Ok, ela deve estar de TPM.
Abri o quarto. Estava levemente bagunçado. Casacos e calças em cabides em cima da cama. Acho que a Débora havia mandado lavar. Olhei para a mesinha de cabeceira e tinha uma xícara em cima juntamente com um livro. Algo sobre Marketing e Comunicação. Larguei minhas mochilas no chão ao lado da cama.
Estava começando uma nova jornada na minha vida. Federal aqui foi eu.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

A despedida de Patrícia

Ela havia escrito uma carta para mim."Manu.Eu não sei nem por onde começar a escrever esta carta. Ainda não acredito que você não ia me falar nada sobre sua ida, e se nós não nos encontrássemos no mercado? Eu ia ficar sabendo quando? Eu sei que fazia muito tempo que não nos falávamos, mas deixo bem claro que foi você quem quis assim. Você.. Sempre esta egoísta.Não repare nos borrões. Estou chorando. É Manuela, você sempre me fazendo chorar. Gostava mais quando este choro era de felicidade, das suas surpresas, dos seus presentes, da sua companhia. Sinto falta de você. Nunca encontrei ninguém que me completasse dessa maneira como você me completa. E você sabe disso. Acho que é por isso que você não quis mais saber de mim. Por que você é egoísta. Geminianas.. Todos iguais... Queria que você tivesse mudado nesse tempo que passamos longe uma da outra. Você mudou, mas continua a mesma. Mudou porque, eu sei que agora você vai dar aquele sorriso de canto, virar os olhos e coçar o nariz, como você sempre faz quando alguém lhe elogia, mas você está cada dia mais linda. Nem acreditei que era você no mercado. Está mais mulher. Mais decidida. Mas continua a mesma egoístasinha de sempre. Você me da raiva. E é por me dar raiva que eu te amo tanto. Eu não sei o que lhe dizer. Se o Dé não lhe deu a carta antes, você já deve estar a cada momento mais distante de mim. No ar frio do ônibus. Você pegou um casaco para não ficar doente? Sempre ficando gripada. Quem vai cuidar de você?Desculpa estar bancando a mãe.. É que foi só isso que você me permitiu ser na sua vida. Uma mãezinha chata. Nada de namorada, só uma irmãzinha. Para de vez em quando lhe satisfazer, matar as suas vontades. Você me usou e ainda teve a audácia de querer ir embora sem ao menos se despedir. Porque como você mesma me falou ontem à noite "eu não gosto de despedidas". Tudo deve ser feito da maneira como você gosta, se não, não está bom. Pois bem, estou fazendo mais uma vez as suas vontades. Não vou ir na rodoviária me despedir de você. Vou ficar aqui, na mesa do meu trabalho olhando o relógio imaginando onde você já está, com que roupa você está indo. Como lhe conheço bem, aposto que vai ir com aquela calça horrorosa preta, que você diz ser estilosa, só porque sabe que fica extremamente sexy com ela. E com aquele moletom desbotado que você tanto gosta. Deve estar com frio, pois você nunca se preocupa com sua saúde. Deve estar sem chorar, pois você às vezes mais parece uma pedra. Deve estar querendo tudo e nada. Porque você é assim mesmo. Tudo e nada, e azar de quem quiser lhe acompanhar. O Dé me contou que iriam fazer uma festa surpresa para você, e quer ver como eu lhe conheço? Aposto que a coisinha foi, e aposto que você não resistiu aos seus encantos. Eu gostaria de socar você nesse momento. Pelo menos ela teve você por alguns tempos. Ela pode ter a oportunidade de ficar com você e poder lhe chamar de minha namorada sem medo de você sair correndo. Criançona que você é. Nunca quer compromisso com nada. Egoísta que você é. Sempre com medo de desapontar os outros e por isso prefere ficar nesse seu mundinho. Eu já chorei muito por você, quis ligar para você hoje, mas para que? Ouvir suas desculpas esfarrapadas de novo? Se ao menos elas lhe trouxessem de volta. Meu chefe está me chamando. O Dé daqui a pouco está vindo aqui para pegar a carta. Você deveria aprender com ele, como ser uma pessoa mais amiga, mais fiel, mais companheira.Você agora deve estar com a sobrancelha arqueada, pois está brava comigo. Não fique. Pois hoje, eu não lhe dou mais o direito para isto. Não lhe dou direito para mais nada. Lembre-se que foi você quem quis assim. Eu sempre estive a sua disposição. Sempre. Agüentando suas ladainhas sobre a jeca lá, sobre a não sei quem, ouvindo seus comentários maliciosos sobre as menininhas. Todas, né? Sempre querendo tudo. Um dia você ainda vai ficar sem ninguém. Meu chefe gritando de novo. Que cara chato! Você deve estar ficando enjoada né? Não consegue ler em viagens, por isso nós tínhamos sempre que arranjar outra coisa para fazer enquato viajávamos. Você nunca me deixou ler um livro, sempre me chamando a atenção. No passeio do último ano do colegial. Nem acredito que fizemos aquilo com todos dormindo. Ainda acho que a Fê nos viu, mas com você nunca adiantou dizer "agora não", porque o agora sempre foi as suas vontades, o seu agora.Então Manu, aproveite o seu agora, a sua faculdade, a sua nova vida que faz tanto tempo que não faço mais parte. Eu ainda não sei o que eu lhe fiz de mal para tudo acabar assim. Mas deixa eu lhe contar uma coisa. Ontem à noite, eu lhe usei, porque dessa vez eu matei somente as minhas vontades, sem me importar com o que você queria. Só me importei com o que eu queria. Apesar de que, o que eu queria, e sempre quis, foi você."

domingo, 13 de julho de 2008

Adeus Cidade!

Já dentro do carro não pude conter minha curiosidade.
- Andrézinho..
- O que você quer agora - disse ele sorrindo para mim. Ele gostava de mim, era um amigo único.
- O que ela lhe disse? Só isso?
- Ok, ok menina. Ela contou que vocês passaram a noite juntas..
Alegrei-me.
- E para você aumentar este sorriso bobo, ela disse que foi uma das melhores vezes.
Não contive minha felicidade. Ela gostava de mim, disso eu sabia. E ontem, era impossível ela não ter gostado...
- Agora pare de se achar, ok?
- Mas ela lhe contou que foi embora sem me dizer nada?
- Ela me disse muitas coisas, mas assim como não contei a ela sobre sua ida e mantive o segredo, não vou lhe dizer mais nada, e agora me deixe dirigir - ainda continuava sorrindo.
- André, você realmente é um crápula. Fala logo o que ela te disse, poxa, você não tem coração mesmo? Eu estou indo embora.
- Está nada - interrompeu-me - Querida, deixa eu te contar uma coisa que pode ser que você ainda não saiba. - fez um silêncio de suspense - A capital não fica em outro planeta. - soltou uma gostosa gargalhada.
- André..
- É sério minha querida, vocês podem se encontrar sempre que quiserem.
- Mas você sabe que a faculdade dela é longe, e de lá até a minha leva muitas horas...
- E? Isso não quer dizer nada.. O grande problema é qual das duas você vai querer.
- Você é muito engraçadinho ?
- Sou realista minha querida. Até eu acho a Lu estonteante.
Deixei escapar um sorriso.
- Então vocês transaram na minha excelentíssima cama sem a minha autorização? Exijo detalhes.
- Nós nem fizemos nada..
- Acredito.
- Prometi guardar segredo - devolvi.
- Ok, ok. Não está mais aqui quem perguntou. Mulheres...
Dei um soquinho de leve no seu ombro. Ia sentir saudade da maneira que ele encontrava para resolver os prolemas.
Chegamos à rodoviária, mas ainda não estava acreditando que iria embora. Mal deu tempo de retirar as bagagens do carro, o ônibus já estava aguardando os passageiros.
Dei mais um abraço no André, agradeci a ele por tudo que ele sempre fez por mim e pela Patrícia.
- Menina, você sabe que mora no meu coração purpurinado para sempre ? - disse ele me estendendo os braços para mais um abraço apertado.
- E você também, vê se vai lá me visitar, já que não vou para outro planeta.
Despachei minhas bagagens. Olhei mais uma vez para a rodoviária. Essa cidadezinha nunca foi minha mesmo. Nunca pertenci a ela. Mas eu iria sentir falta de algumas coisas.. Principalmente dessas pessoas, André, Patrícia e porque não da Luciana também.. Pessoas que fizeram da minha vida algo real, não só expectativas. Estava esperando que a Patrícia aparecesse. Ela não precisava me dizer nada, bastava aparecer para eu poder ver seu rosto mais uma vez.
- Moça, está na hora - disse o motorista - garanto que seu namorado vai lhe esperar voltar - sorriu se referindo ao André.
Inevitável rir. Este ainda não sabia do André.
- E você, minha primeira dama - disse o André entrando na onda do motorista - cuide-se bem, ok? Estou de olho em você. Você sabe que eu não vou aprontar por aqui, vou trabalhar com o Beto em casa, nem vou sair lhe aguardando voltar. E me abraçou mais uma vez. - Isso aqui é para você. Mandaram lhe entregar - disse cochichando no meu ouvido.
Subi as escadas do ônibus. Abri o envelope que André havia me dado. Era a letra de Patrícia.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Tchau

- Vamos lá? O pessoal já foi embora, cansaram de esperar você.
- Mentira, sério?
- Seríssimo, eles sabem que você é a namorada da Luciana, expliquei a eles que vocês estavam se despedindo.
- Que namorada nada, ô!
Fomos conversando enquanto íamos para a garagem pegar o carro.
- Como não são namoradas? Agora você virou uma bicha libertina? - se deliciando com a minha raiva.
- Você sabe que eu não sou assim... Ela não veio - mudei de assunto.
- A Patrícia? O que, não me diz que você ia dar uma com as duas juntas? Está me saindo melhor do que a encomenda.
Para André tudo se resolvia com sexo. Homens.. Bicha, mais ainda assim, homem.
- Ela ficou muito magoada com você. Ligou-me sexta e hoje ao meio-dia.
- O que ela lhe falou? - perguntei com o coração batendo mais forte.
- Contou que você se tornou uma devassa louca por sexo - rindo.
- Pára de bobice André, eu estou falando sério. Você e suas piadas inoportunas.
- Ela me contou que vocês se viram sexta sem querer no mercado, que vocês conversaram que ela foi com você numa loja de não sei o que, e que quando você estava dirigindo ela atendeu o seu celular..
- Ela percebeu né? - falei entrando no carro.
- Sim, ela me disse que achou muito estranha a sua cara de pavor quando disse que era do frete, e que você inutilmente tentou enganá-la dizendo que eram as coisas para a sua tia.
- Mas você não falou nada né?
- Eu disse que na história de vocês eu não me metia, só se fosse para vocês namorarem - divertia-se conosco.
- E ela?
- Ela o que? Disse que ia resolver isso sozinha já que eu estava sendo segundo as palavras dela, um crápula manipulador, que só protegia você e suas besteiras sempre. E me contou que foi na sua casa e vocês conversaram. Repetiu que eu era do mal, que eu não deveria ter mentido para ela, me sentou os cachorros.
- E não disse mais nada? - perguntei com expectativa.
Ele sorriu, sabia o que eu estava querendo ouvir.
- Mulheres.. São todas iguais. Por isso que eu gosto de homem.
Descemos em frente à minha casa para pegar as bagagens. Enquanto colocávamos tudo dentro do carro expliquei a ele como seria com a casa, com tudo. Ele ainda se espantou que a Patrícia fosse esperar o frete terça-feira. Pegou umas revistas que estavam atiradas ao lado da pia do banheiro, disse que era sempre útil.

sábado, 28 de junho de 2008

Super Surpresa!

Luciana. Sim, depois de um mês sem vê-la, ela estava alí parada na minha frente. Vendo minha cara de espanto, sorriu:
- Surpresa!!
- É - disse eu embaraçada com a situação.
Mas fomos interrompidas pelo resto do pessoal que estava na festa, André extravagante como nunca tinha visto veio me dar um abraço me tirando do chão. Em seguida Beto, Cátia, Leila, Marcelo, Diego, .. Todo o pessoal do cursinho e da escola. Procurei mas a Patrícia não estava no meio do grupo.
- Então você achava que ia embora assim? - falou André me servindo um copo de cerveja - Mas nunca!!!
Conversamos sobre a viagem, o cursinho, quem havia passado nas faculdades, de como era bom rever o pessoal, que tínhamos que marcar alguma coisa um dia desses, enfim, aquele papo de sempre.
- Antes de você ir, gostaria de falar com você - disse Luciana pertinho do meu ouvido. - E dessa vez você não me escapa!
Resolvi então conversar com ela, afinal o que poderia acontecer? Que falasse então de uma vez que não queria mais nada com ela, que achava ela muito legal mas que não dava mais.. Todo aquele meu repertório decorado e redecorado que nunca havia dito a ela. Por medo, por preguiça, por sei lá o que só havia dito uma vez a ela para me deixar em paz. Na verdade Patrícia estava certa, eu gostava dela correndo atrás de mim, saber que depois de tanto tempo ela estava na minha mão. Maldosa ou não levei o nosso fim do namoro assim, me fazendo de morta, que não estava nem aí, até que um dia realmente parei de estar.
Pegando na minha mão ela me levou até o quarto do André.
- Calma, é só para conversarmos melhor - disse ela vendo a minha expressão ao fechar a porta trancando-a.
Indo mais para longe dela, disse:
- Então, - sem olhar para ela - o que você quer conversar?
- Que bicho lhe picou que você está mal educada? Você não era assim quando lhe conheci - sorriu.
- Eu - paralisando ao vê-la. Esse um mês a fez ficar ainda mais deslumbrante. Estava com um vestido que eu adorava que tinha um decote que mostrava o suficiente para qualquer pessoa ficar louca - Eu não fui picada por ninguém não - sorri voltando ao posto de quem comandava a situação - só que daqui a pouco já tenho que ir para não perder o ônibus.
- Sei - disse chegando mais perto de mim - Eu só queria saber porque você não atende mais as minhas ligações, finge que eu não existo mais. Você sumiu sem me dizer nada..
- Eu disse sim Luciana, eu falei com você, você que não acreditou no que eu disse.
- Mas estava tudo tão bem.. Não entendo o que aconteceu.
- Estava tudo bem com você, comigo não. E estava falando isso para você há tempos, mas você nunca me deu ouvidos. Sempre achou que eu estaria a disposição para tudo. Cansei disso..
- Foi a Patrícia né?
- O que? Não coloca ela no meio da história que ela não tem nada a ver.
- Não? - sorrindo - bem se vê que não, então para que ficar tão nervosa?
- Não estou nervosa Luciana.
- É ela sim.. Você e essa sua "amiguinha" que nunca deixaram de se gostar.
- Olha Luciana, se era isso que você queria falar comigo, então com licença que eu vou me despedir do pessoal.
- Calma Manuzinha - segurando meu braço - eu não quero brigar com você. Eu gosto tanto de você. - me puxando para mais perto. Confesso que ela ainda conseguia me atrair. Com seu jeito. Seu jeito era inexplicável. Ela conseguia seduzir qualquer pessoal. Até quem não era muito chegado na fruta. Com seus cabelos sempre muito bem arrumados, seu perfume, sua maquiagem, suas roupas ou com a falta delas.
- Quero ouvir você dizer que não sente falta de mim - disse ela chegando tão perto que conseguia sentir a sua respiração.
Como dizer não para uma mulher como ela? Mas para que prolongar uma coisa que não ia durar? Mas porque não aproveitar já que eu estava indo embora?
- Lulu, você continua a mesma né? - disse olhando para os seus olhos. Não poderia deixar meus olhos chegarem a sua boca, porque rapidamente estaria envenenada pela sua estonteante beleza e sexualidade. Tudo com ela era sexy. Já estava ficando atordoada com o seu corpo virado contra o meu, roçando a cada movimento que ela fazia. Suas mãos já estavam enlaçadas na minha cintura. A hora era essa, ou eu saía, ou eu me entregava. Não pelo amor, não pelo namoro mal acabado, mas pelo prazer que ela me proporcionava. Não, eu não sou uma cafajeste, não sou uma pilantrinha, mas tem certas coisas na vida que aprendi que não precisam de muita razão para acontecer.
- Só mais um beijo, e deixo você em paz - disse ela aproximando sua boca da minha me beijando. Para que? Com ela a combustão era imediata. Ela me tocou na cama, subindo em cima de mim não dando espaço para eu me mexer. Forçou seu ventre contra o meu. Nossos beijos ganhavam cada vez mais intensidade. Fazia tempo que não ficávamos juntas, mas era como se tivesse sido ontem que havíamos nos visto. Veio uma lembrança de Patrícia, que logo foi apagada pelos beijos de Patrícia que já ultrapassavam minha calcinha. O sexo aconteceu em poucos minutos, com a mesma avidez de sempre. Sexo, só sexo.
Fechei o resto da roupa que ainda estava aberto, mas ela permanecia deitada na cama me olhando.
- Acho que nem a Patrícia é capaz de fazer o que eu faço com você - sorriu ela presunçosa.
- Você que continua a mesma, sempre colocando a Patrícia no meio da história.
Mas era incrível como essa menina conseguia ser tão sensual. Repito que não sou uma infamezinha qualquer. Mas a sua sensualidade. Gostaria de lhe mostrar ela para ver se você não concordaria comigo.
Mas além de sensual, ela era insaciável. Ainda sem a parte de baixo da roupa fez menção de que iria se tocar, ali na minha frente.
- Vem cá que meu assunto com você ainda não acabou - sorriu maliciosamente para mim.
Fiquei extasiada olhando-a. Olhei para o relógio e já eram 16:34.
- Pelo amor de Deus, pára com isso - disse eu torturando-me para não ir em sua direção e tocá-la também - eu tenho que ir, meu ônibus.. Ele não vai me esperar.
Mas ela continuava me deixando hipnotizada. Para findar com o meu suplício bateram na porta. Era o André.
- Mocinhas, não quero incomodá-las mas Manu, se você não vir logo, irá perder o ônibus. Temos que pegar as suas coisas ainda.
Luciana parou. Levantou-se da cama, caminhando em minha direção. Olhou-me profundamente e me deu um beijo. Colocou o restante de suas roupas e abriu a porta, saindo sem olhar para trás.
André entrou no quarto olhando para a cama e sorrindo soltou um suspiro.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Surpresa!

Acordei com a respiração de Patrícia no meu ouvido. Suas pernas estavam entrelaçadas nas minhas. As nossas roupas permaneciam atiradas pelo chão. Sentia seu gosto em mim. Olhei-a e continuava dormindo, com seu semblante revelando um leve sorriso. Procurei o meu celular em cima da cabeceira, para saber que horas já eram. Da última vez que tinha visto já passavam das 5. Com dificuldade de enxergar, ainda com os olhos doloridos de sono - 6:45. Não sabia que horas ela iria para o seu trabalho, mas acordei-a com um abraço apertado. Ela apenas me olhou. Desvencilhou-se dos meus braços delicadamente, checando as horas no seu relógio de pulso. Levantou-se da cama ainda em silêncio, e assim permaneceu enquanto colocava suas roupas. Fiquei estática acompanhando os seus movimentos. Colocou seus sapatos fazendo em seguida um rabo de cavalo. Virou-se para mim, mas não disse nada, apenas ficou me olhando. Senti-me embaraçada com a situação, pensando que talvez tivesse feito alguma coisa errada. Quando abri a boca para falar ela fez sinal com seus dedos para que continuasse em silêncio.
Pegando o casaco, o celular e sua bolsa foi em direção à porta, olhou mais uma vez para mim e saiu. Ainda paralisada pelo seu silêncio ouvi o barulho de chaves na porta da casa. Levantei colocando a primeira peça de roupa que vi e desci as escadas correndo em sua direção. Mas ela já havia partido. Olhei para os dois lados da rua e não a enxerguei. Como ela sumiu? Ainda arrisquei em gritar "Patrícia", mas foi em vão. Não faço idéia de quanto tempo fiquei parada na porta esperando ela voltar. Não estava acreditando que ela simplesmente havia partido sem um tchau, sem falar nada, e eu pateta, ainda envolvida pelo sono e pelas lembranças da noite passada continuei deitada parada, esperando-a ir embora. As pessoas já estavam acordadas na rua, percebi olhares curiosos sobre mim, me dando conta que estava com "pouca" roupa, entrei em casa.
Peguei o telefone para ligar para ela, mas na quinta tentativa desisti de vez. Quem sabe não seria melhor assim, sem despedidas, sem choro, apenas com lembranças da noite que passamos juntas.
Tomei um banho demoradamente, ainda não acreditava em tudo que havia acontecido.
8:15 marcava o relógio. Ainda precisava embalar o resto das coisas, rádio, televisão, tirar as últimas coisas das gavetas, levar o canarinho para a vizinha, prometi dar a seu filho, já que um passarinho não teria uma boa moradia comigo, recolher o resto das roupas que ainda estavam atiradas pela casa, ir me despedir do Dé.
Já eram 15h quando consegui terminar as últimas coisas e ir ao André para me despedir dele. Como na minha pequena cidade tudo era muito perto, resolvi ir caminhando, assim espairecia um pouco, em uma tentativa meio frustrada de parar de pensar na Patrícia.
Chegando ao seu prédio, vi que havia alguns carros parados na entrada. Toquei a campainha que logo foi atendida com um "Entra". Subi pelo elevador e quanto este abriu vieram me receber várias pessoas com chapeuzinhos e apitos. Sim, uma festa de despedida. Ainda não acreditando no que via, senti uma mão me puxando. Atordoada pelo barulho dos apitos, segui aonde a mão me levava. Em meio de tapas nas costas e "E aiii meninaa", cheguei ao apartamento do André. Então pude ver de quem era a mão que me puxava, e não acreditei no que vi.

domingo, 22 de junho de 2008

Quando palávras são desnecessárias

Toque, carícia, pressão, atrito, carinho, suor, gemido, mordida, beijo, lambida, coxa, com coxa, boca, na boca, movimento, movimento, gemido, mãos e dedos, corpo e corpo, olho, no olho, língua, chupão, gemido, desejo, pedido, sexo com sexo, sexo mais sexo,pele, na pele, boca, sem boca, língua, com língua, gemido, suor, carinho, atrito, movimento, movimento, suspiro gemido, sexo, e sexo, sexo, sexo, gemido, gemido, movimento, gemido, movimento, sexo, gemido, mordida, gemido, movimento, lambida, gemido, gemido, gemido, gemido... Puxando sentindo, sentindo passando, passando tremendo, tremendo sentindo, querendo pedindo, passando mais rápido, mais rápido gemendo, gemendo suando, passando tremendo, sentindo mexendo, sentindo tremendo, tremendo mais rápido, mais rápido sentindo, sentindo tremendo, tremendo gozando.

sábado, 21 de junho de 2008

Patrícia e eu

- Então você já tinha tudo planejado é? - levantando-se da cama e passando suas mãos pela minha cintura.
Eu não respondi. Palavras são desnecessárias em certos momentos. Empurrei-a para a cama.
Ela estava deslumbrante. Como havia saído do trabalho e vindo direto para cá, ainda estava com o uniforme. Ela de camisa ficava absurdamente sexy. Começamos a nos beijar e não resisti, desci minha mão pela sua barriga e coloquei-a embaixo da camisa, sentindo que ela se arrepiara. Mas a camisa era justa de mais e não acompanhava meus movimentos, que insistiam em continuar subindo. Após mais um longo beijo, abri meus olhos e os dela ainda permaneciam fechados. Tinha um leve sorriso no canto da boca. Tanto tempo eu fiquei sem ele. Quanta falta ele me fez. Comecei a beijar o seu pescoço enquanto minhas mãos iam desabotoando sua blusa. Senti o seu sorriso nos nossos beijos. Ela estava com o sutiã que eu havia dado para ela.
- Eu também tinha os meus planos - falou esperando a minha reação.
Eu simplesmente ficava louca quando ela usava ele. Preto e liso. O contraste perfeito com sua pele branquinha. É humanamente impossível ficar apenas olhando para o desenho do seu corpo, mas também é impossível não repará-lo. Desde pequena, ela se achava o patinho feio da rua, sempre jogando futebol entranhada no meio dos meninos. Nunca ninguém dava valor a sua beleza. Nunca ninguém reparava no seu sorriso, no seu jeitinho de morder os lábios quando queria alguma coisa. Mas esse "problema" segundo a sua mãe denominava o futebol, se tornou em uma arma infalível para a sua beleza. Ainda praticante de esportes, o seu corpo a cada dia ficava mais lindo. E mesmo suada após os jogos, continuava provocante na simplicidade dos seus movimentos. Por sempre se achar inferior aos outros, não se dava conta que aquele patinho feio havia se tornado numa linda mulher. Não percebia os vários olhares que a acompanhava quando passava pelas pessoas. Talvez esse fosse seu ponto fraco, seu segredo. No dia em que se desse conta da sua beleza, perderia a sua magia. Na verdade as situações, piadas, músicas, momentos e beijos são muito mais gostosos quando são inesperados. Ela é assim. Surpreendente. Cada nova descoberta que ela faz de si mesma, é mais um motivo para se apaixonar por ela. A sua ingenuidade é apaixonante. Mas a sua beleza não transparece para ela mesma, pois toda a Patrícia se esconde atrás de sua timidez. Por ser gay, sempre se achou no "dever" de não aparecer muito. Já eu, sempre me achei na "obrigação" de fazer alguma coisa para mudar isso. Mas a situação que mais me interessava no momento era ver ela deitada, me olhando, calculando com os olhos cada novo movimento que eu fazia. Fui beijando seu colo nu, abrindo seu sutiã devagarzinho (confesso que nunca me dei bem com ele, a Ana Carolina que me perdoe repetir suas palavras sem autorização prévia, mas "mulher, melhor sem sutiã", ele só atrapalha). E lá estavam eles, seus seios perfeitos me aguardando depois de tanto tempo. Mordi, lambi, chupei, e ela gemeu, tremeu e me puxou mais forte. Quando ficamos muito tempo sem sexo parece que temos nossas sensações dobradas, mas quando essa falta é com a pessoa que gostamos, os sentidos e suas respostas vêm com a tríplice força. No êxtase de sentir o seu gosto, abri o zíper da sua calça e com a mesma facilidade, a retirei. Ela me virou, subiu em cima de mim e me trancou com suas coxas fortemente presas nas minhas.
- É minha vez - disse baixinho ao pé do meu ouvido. Beijando minha barriga, foi retirando lentamente minha blusa. Quando sua pele nua encostou-se à minha tive a melhor sensação do mundo percorrendo pelo meu corpo inteiro. Com uma sessão de longos beijos molhados e mordidas, as nossas roupas já estavam atiradas para qualquer canto do quarto. Ah esse quarto!, como havia feito companhia para nós. Do primeiro beijo a última transa. Sua mão não se conteve e desceu pelo meio das minhas pernas, mas sem entregar o ouro, ficou apenas naquele - vai-não-vai esperando meu pedido. Ela gostava desses joguinhos. Sempre me chamou de "homenzinho", pela rapidez com que as coisas aconteciam comigo. Aprendi com ela que sexo não é só mão aqui e ali, acabou, boa noite, passar bem. Aprendi a ter mais calma, a curtir mais os momentos. Mas aquilo já era tortura. Ela se divertia com isso. Se divertia ao me ver implorando pelo seu toque. Então ela cedeu meus pedidos silenciosos, desceu novamente sua mão e pude sentir a segunda melhor sensação da noite, sua mão encostando em mim, no único lugar onde não existiam mentiras, que era impossível "dizer" que eu não era dela, que eu não a desejava loucamente...

"I've got a right to be wrong my mistakes will make me strong"

- Então, - troquei de assunto - tenho uma coisa para você.
- O que?
Abri a mochila, retirei o saco vermelho, e dei a ela.
- Isso é a consciência pesada de não ter me falado nada, é?
- É sério, acho que você vai gostar.
Rasgou o saco e deu um gritinho agudo.
- Eu não acredito, aonde você arranjou isso? Meu Deus!
- Ah, tenho as minhas fontes.
Era o exemplar número 1 do Batman em quadrinhos. Aquele velhão mesmo. Nunca gostei do Batman. Outra briga diária nossa, ela gostava do Batman, já eu gostava do Homem-Aranha, apesar de que com os filmes e com todo mundo gostando dele, ele perder a graça.
- Manu, não sei nem como agradecer a você - me abraçando forte. - e eu, nem sabia que você ia embora. A única coisa que trouxe para você é o seu casaco que ficou lá em casa.
- Pode ficar com ele, ele sempre ficou melhor em você do que em mim.
- Que isso, Manu, ele é seu, você não tem tanta grana assim para ficar me dando suas roupas.
- Ele vai ficar bem cuidado com você. E outra, assim você não esquece de mim.
- Isso nunca vai acontecer...
Se aproximou de mim, passou sua mão direita sobre meu rosto.
- Você é linda de mais, ainda não acredito que vai embora - abaixando o rosto para esconder as lágrimas que agora caíam. - Você sempre foi o meu nada e o meu tudo. Nossa amizade, nosso.. nunca soubemos como nos descrever né? - sorriu.
- Você que é linda, não quero que quando eu for você comece a sair por aí sozinha, não do um mês para você começar a namorar com alguém e me esquecer.
- Eu já lhe disse, isso nunca vai acontecer - e sem que eu pudesse reagir, puxou delicadamente meu rosto para perto do seu, sua boca para perto da minha e nos beijamos. Nossa! Quanto tempo não sentia seu gosto, seu toque.
Tudo porque Luciana apareceu nas nossas vidas. Quando digo nossas, é porque paramos de nos ver com tanta freqüência, para depois não se ver em definitivo. Mesmo quando a mãe dela sabia e nos proibia de nos vermos, sempre dávamos um jeito para se encontrar escondidas em algum lugar. Mas quando comecei a namorar com Luciana, ela me fez largar tudo. Eu no começo aceitei, ainda viciada nessa nova droga que se chamava Luciana. Seu corpo e suas vontades, tudo era meu. E eu, cega pela paixão, fui deixando a minha vida para viver a vida dela. A vida dela, pois eu era um detalhe na sua vida. Um detalhe que, conforme eu fui deixando de gostar de fazer parte de tudo isso, mais ela gostava de me ter. E me querer mais, sempre mais. Eu uma época, confesso, também queria, mas ao ver que estava deixando de viver a minha vida para viver a dela, dei um basta nisto. Não existia a "nossa" vida como acontece normalmente com os casais, eu nunca me encaixei na vida dela. Na verdade, pensando bem, nunca formamos um casal. Faltava alguma coisa. Dizem que geminianos não gostam de ficar com uma pessoa só por muito tempo. Talvez tenha sido isso. Ter desejado tanto ficar com ela, que depois de ter conseguido o "troféu", ele perdeu a graça. Luciana era o sexo, Patrícia o amor. Mas uma hora tive de escolher. Escolhi o amor, claro. Pois com Patrícia tudo se resolvia. E o amor, tornava-se sexo em poucos segundos. Bastava o primeiro toque para a reação em cadeia acontecer.
- Pati.. - em meio dos seus beijos que tentavam me impedir de falar - você sabe que eu gosto muito de você. Eu juro que daria tudo pra você ir comigo.
Mas ela não queria conversar, ela estava com saudade de mim, assim como eu dela. Não conseguia parar de pensar que no outro dia não poderia mais vê-la a qualquer hora.
- Manu - foi a vez dela interromper nossos beijos que começavam a ganhar mais voracidade - eu senti muita saudade de você. Tudo aquilo que disse para você era mentira. Não estava ficando com a Rafa. Na verdade ficamos uma só vez. E nem foi aquilo tudo - sorriu.
- Porquê? - retribui seu sorriso já esperando a resposta.
- Ah, não sei não - mordiscou o lábio inferior. Como ela sabia fazer isso! Soltava um olhar meio de ladinho, e eu caia no seu encanto.
Como pode, nos conhecemos a tanto tempo e sempre que eu a vejo consigo sentir tudo que uma pessoa consegue sentir por outra. Quer dizer, por uns tempos fiquei cega pela Luciana. Mas hoje.. Hoje eu só precisava da Patrícia. Não pense que eu sou daquelas que tem várias, nunca fui tão popular assim. O que eu tenho hoje, são mais espectativas do que algo real. Na verdade, nem sei o que tenho. Às vezes acredito realmente que eu tenho as duas na minha mão. Às vezes acontecem fatos que me comprovam isso. Outras vezes, me mostram que eu nada sei, nada tenho. Mas com a Patrícia, eu nunca me enganava.
Essa história é complicada, pois começou a muito tempo. Logo que cheguei aqui e encontrei com ela. Foi a primeira pessoa que eu falei quando cheguei (a tia não conta, só para ficar mais interessante a história). Mas como eu disse, não é fácil, exige um tempo para contá-la. E tempo era tudo que eu não tinha nesse momento. Pois a Patrícia ainda estava deitada na cama comigo, me olhando, tentando decifrar meus pensamentos.
- Como é que é? - perguntou ela.
- Como é que é o que? - retruquei.
- Não vai compartilhar seus pensamentos?
- Estava pensando na vida..
- Na Luciana? - jogou verde.
- É, na Luciana - sorri maliciosamente, envolvendo meus braços em sua cintura e ficando em cima dela novamente. Me levantei ficando sentada.
- Quero lhe mostrar outra coisa.
Levantei e fui em direção à minha escrivaninha. Havia deixado o cd alí. Tirei alguns papéis que ainda restavam na gaveta quase vazia. Coloquei a mão mais para o fundo e senti a caixinha de plástico. Ela me acompanhava com os olhos, com uma ligeira curiosidade no olhar.
- O que você está aprontando agora?
Não respondi, tirei o rádio já embalado de dentro da caixa e coloquei na faixa 07 - era a música da Joss Stone "Right to Be Wrong", sua música favorita, e automaticamente a minha também, pois foi com ela que tivemos a nossa primeira vez.
Ela sorriu.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Certas mentiras que contam por aí

- ...

Olhou para o lado. Ela queria. Eu também queria. Mas eu não queria ir embora ainda com o gosto dela. Mesmo fazendo tanto tempo que não ficávamos juntas.

Sai de cima dela, com um pequeno protesto de "Ah, fica" que mal foi ouvido, sendo abafado pelo telefone.

- Esse telefone não pára - resmungou ela.

- Alô? - atendi - Sim... Ta tudo certo... Mas e agora? ... Tem certeza?... Aqui? Pode ser... Mas.. Ok, tchau.

- Quem era?

- Era o Rogério. Ele disse que os caras do frete não vão conseguir levar tudo amanhã. Como falei para você ontem, as coisas da tia vão tudo para caridade - esse era seu grande desejo, muito antes de ficar doente ela já havia me falado isso - o que eu vou levar é só o meu quarto, que também não tem muita coisa. Queria pedir um favor para você.

- Pode pedir.

- Eles só vão poder pegar na terça-feira, você pode vir aqui pra casa recebê-los? Sabe como é, não queria deixar a chave por aí. O Rogério vai ficar com uma cópia, e na imobiliária vai ter outra. Ele disse que vão chegar aqui às 7:30, será que você tem como?

- Eu dou um jeito, não se preocupa. Será que eles fazem frete de pessoas também? Eles podiam me levar junto - novamente fazendo beicinho. Tratei de olhar para o lado. Não queria dar margem para.. para nada, na verdade. Desejá-la era a única coisa que eu havia feito nesse último mês. Após o término definitivo do namoro, tive vontade de ir correndo para a sua casa, acordá-la de madrugada e dizer...Não dizer nada. Não havia nada para lhe dizer, nunca teve. As coisas com a Patrícia nunca precisaram ser ditas. Bastava um olhar. E o que eu mais queria era poder olhá-la novamente, sem receio de ser mal interpretada. Ela sabia o que eu queria. Mas algo me dizia para não fazer nada, não queria provar novamente do seu gosto, do seu toque, pois sabia que a despedida seria muito mais dolorosa. Hoje, a única coisa que eu tinha, era a sua lembrança, de quando passávamos horas juntas, conversando, discutindo, brincando. Namorar ou somente ficar não era o nosso interesse principal, quer dizer, o meu nunca foi - eu sempre achei. O que nós gostávamos mesmo era da companhia uma da outra. Apenas estar juntas, mesmo sem fazer absolutamente nada, já era tudo.

Agora foi a vez do telefone dela tocar.

- Oi mãe, fala.. Não... Eu to bem, to na casa da.. do André.

André.. Esse foi meu codinome durante muito tempo. Depois que a mãe dela descobriu tudo e da pior maneira possível nunca mais pudemos nos ver como antes. Nossos encontros eram camuflados com festinhas do pijama com a turma. Na verdade a festinha em si existia, mas era só com nós duas, e pijama, era a última coisa que usávamos.

- Ta bom mãe, tchau. Ela ficou feliz que eu estou na casa do André. Tadinho dele. É usado e abusado - riu - Vou ligar pra ele e falar que eu estou "lá".

Na verdade André existe. É o nosso amigo que pode ser tudo, menos homem. Uma bixa dessas de cinema, quase dois metros de altura, faz academia há muitos anos, forte, robusto, tem o cabelo com o corte de "homenzinho", aquele mesmo, quadradinho. Quem passa por ele na rua chega a ter medo, pois seu tamanho intimida qualquer pessoa, mas basta ele abrir a boca e falar "Meninaaa, isso é tudo!" que não restam dúvidas de que ele é gay. Mas um gay muito macho. Assumiu para todo mundo, se vira em mil para trabalhar e ganhar dinheiro. E como ganha dinheiro. Publicitário bem sucedido. Foi por causa dele que me apaixonei pela carreira. Como nos conhecemos não vem ao caso, mas ele foi nosso padrinho. Sempre cuidou de nós. E se tornou o provável namorado da Patrícia. A mãe dela só tinha visto ele uma vez, enquanto passávamos de carro pelo centro. Achou ele "Um filezão. Esse eu queria como genro Patrícia!", foi o seu comentário. Nós sentadas no banco de trás, riamos muito, e se tornava mais engraçado ainda pois todos da cidadezinha, que insisto em dizer, cidadeZINHA, sabiam do seu "passado obscuro", mas esses "dizem por aí" ainda não haviam chegado aos ouvidos da Dona Amélia, mulher de 3 filhos, casada há 40 anos, que achava que sua filhinha mais velha tinha um namorado "filezão". Ainda não acredito como ela nunca quis que a Pati o apresentasse para ela. Segundo a própria, ele é tímido, ainda não oficializamos o namoro, não podemos assustar o menino. Admiro-me ainda que Amélia sempre permitia ela dormir na casa do tal namorado. Talvez porque só depois dos quase 20 que sua filha arranjou um homem para ela. "Moça de família não pode ficar solteira para sempre, vão começar a falar por aí, até parece que você não gosta homens". E lá vinha a Patrícia explicar para a mãe que não tinha homem que prestasse nessa cidade, outrora falava que estava ficando com o Paulo, o José, o Ricardo (aliás, esse fui eu que inventei), o Pedrinho, mas que nenhum era bom o suficiente para ela. Aí a Dona Amélia sossegava. Até passar mais alguns meses sem um comentário sobre homens da parte da Patrícia, então começavam mais histórias, de que ela pegou o Zé Carlos com outra, que estava tudo acabado, que o Marquinho viajou para os EUA, que ela estava gostando muito de um certo rapaz lá da turma, e eu, sua fiel companheira ainda concluía "Esse a senhora vai gostar, é parecido com o Raí". Dona Amélia tinha uma paixão secreta pelo jogador Raí. Então, seus olhos brilhavam de orgulho da filhinha que "ta virando gente, às vezes parece bicho do mato que nunca sai de casa. Só quer saber de ir jogar futebol, coisa de homem. Ainda bem que você existe filha - referindo-se a mim - pelo menos ela ainda vai à sua casa estudar". Mal sabia a pobre Dona Amélia que sua filhinha já não era mais uma criancinha há muito tempo. E que eu, definitivamente, não era a melhor companhia pra ela.

- Dé.. Tenho que pedir aquele favorzinho de sempre para você... O que? Ta ocupado.. Sei, seu safado! Depois me conta.. Ah Dé!! Dé!! Cachorro, desligou na minha cara. Ele ta com o Beto lá. Eles ainda vão casar.

- Mas eles não tinham terminado?

- Terminaram ué. Desde quando precisa estar namorando para se fazer certas coisas - e sorriu para mim. Confesso que fiquei sem graça. Ela era a única que me conhecia e que conseguia me deixar sem graça. Única que conseguia me atingir de verdade, nem Ela conseguia isso.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Desculpa - Não é o suficiente..

- Mas como você vai assim, tão de repente? Já sabe onde vai ficar? E você falou que vai trabalhar lá? Já tem até emprego e não me falou nada? Eu não acredito, eu simplesmente não acredito.
- É, eu expliquei a minha situação para o reitor. Falei com a professora Venusa, ela que me ajudou a fazer tudo.
- Ela gosta de você – sorriu –Sempre achei que ela desse em cima de você!
- Jura... Ela tem marido, filhos, só quis ser gentil comigo.
- Ela não falava com você direito, nem eram amigas. Foi ela te ver com a.. com aquela idiota que quis ser tua amiga na hora. Ela é enrustida.
Rimos. A professora tinha cara mesmo de ser, seus olhares para as meninas, principalmente para Ela. Não tinha nenhum menino ou menina que não a achasse linda. Era fato, podia ser qualquer coisa, mas sempre sua beleza falou mais alto, e todos ao seu redor acabavam se encantando por ela. Quando tirou 4,5 na prova de matemática (Deus não dá tudo para uma pessoa só), chorou no colo do professor e ele se viu "obrigado" a refazer a prova, segundo ele “tem uma questão que não foi passada para vocês ainda”. Todos caíam no seu charme. Ele era fatal.
- Ela sendo ou não, não me interessa!
- Sua devassa! Eu sei que você tem uma quedinha por ela. Aliás, por todas ? E olhou para o chão tristemente.
- Mas você é a minha preferida!
- Nem me venha com seus chavecos baratos que já tenho seu antídoto. E não mude de assunto, ainda não me esqueci que você vai embora amanhã! E a casa, como vai ficar?
- Falei com o Rogério, ele me ajudou a fazer os papéis. Como a tia Med era solteirona e não tinha filhos, o parente mais próximo sou eu. Ganhei a casa.
- E o que você vai fazer com ela?
- To pensando em alugar, mas ela tem vários problemas, do chão ao telhado. Eu só não ofereço a você porque ficaria muito caro para você se manter aqui, ainda mais que sua faculdade é meio longe. Ela já está na imobiliária para venda ou locação.
- Pelo visto você já resolveu tudo sozinha ?! Nem precisa mais de mim.
- Ah, não fala assim – me aproximando dela, tentando pegar na sua mão, mas ela retirou-a rapidamente. - Eu vou ficar bem, não contei a você antes porque..
- As suas desculpas não me interessam. Você vai embora!
- Eu vou sentir saudade de você.
- Vai nada, você nem gosta de mim, me quis longe em um dos momentos mais importantes da sua vida. - fazendo uma cara de mocinha abandonada - Mulheres e seus trejeitos.
- Ah vem cá que você sabe que eu não vivo sem você, minha irmãzinha - e puxei-a para mim. Como é bom abraçá-la, seus abraços sempre fizeram milagres comigo. Aquela pessoa certa, do tamanho perfeito para um encaixe perfeito.
- Manu - sua voz estava pastosa de choro. Levantou seu rosto e me fitou um longo tempo. Seus olhos são lindos de mais, uma mistura de tudo que existe de mais puro no mundo. E eles eram meus quando eu quisesse. Não sei quando este poder me foi concebido, mas ele era meu. E eu não queria perde-lo.
- Nossa.. Nem parece que fazem 14 anos que nos conhecemos, que você veio falar comigo, me perguntando se eu queria jogar futebol com você - sorri relembrando.
- E que você me respondeu um sonoro não e saiu correndo para dentro de casa.
- Ah, eu recém tinha chegado na cidade e uma baixinha estranha, toda suja de terra perguntou-me se eu queria jogar bola. Assustei-me, oras.
- Baixinha uma ova, eu sou apenas meio centímetro mais baixa que você! Aliás nesse momento, você está mais baixa do que eu.
E a nossa eterna briga sobre altura começou. Ela começava desse jeito mesmo, depois vinham os empurrõezinhos, alguém acabava caindo no chão. Dessa vez foi na cama. Engraçado como a cama sempre ajuda nessas horas, parecia que ela já estava a nossa espera. Ela já nos conhecia. Depois mais alguns empurrões, e eu ficava em cima dela segurando seus pulsos, dominando-a. Era sempre assim, ela ali, toda pra mim. Nos fitamos novamente. Dessa vez vi que a tristeza dos seus olhos tinham dado lugar a um estranho brilho, aquele brilho que dava antes de nós.. Bem, antes de nós nos entendermos melhor.
- Eu não quero que você vá - disse ela me puxando para mais perto. - É um saco tudo isso aqui sem você.
- Como você sabe? Desde que nos conhecemos nunca mais nos separamos.
- Mentira... Você foi aquela vez para o Rio e ficou um mês inteiro longe. O pior mês da minha vida, e você sua vaquinha, nem me convidou para ir junto - fazendo beicinho.
- Ahh.. mas você sabe porque eu fui, não foi minha culpa. Foi para resolver os problemas lá com a tia.
- Eu sei. Manu.. eu..

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Despedida

- Ela me disse... me pediu..
Sorri.
- O que você está sorrindo?
[Silêncio]
- Olha.. eu também não sei porque tenho que ficar dando esses recados.. Por que vocês não conversam? Sabe, to cansando de ficar dando conta da sua vida para todo mundo.
- Nunca lhe dei essa incumbência, rs.
- Você nunca me deu essa opção né?!
- Olha... Eu já falei pra parar de me ligar, de me mandar e-mails, recados no orkut, de me acordar às 4 da manhã dizendo que está com saudade... É complicado.. – sorrindo novamente.
- Eu acho que você está gostando de tudo isso, sabe?... E pare já de ficar se achando.. Só porque..
- Ela está atrás de mim.. Depois de tanto tempo... Eu achando.. querendo.. sonhando.. Às vezes nossos sonhos podem se tornar pesadelos... – conclui. Ela me olhou desacreditada.
- Bom, o recado está dado. E nem pense que vou dizer isto ou aquilo. Essa vez foi a gota d’água. Você sabe que no meu trabalho é complicado, o pessoal cai em cima mesmo. Ainda mais porque ela veio.. Falando alto, dizendo que precisava achar você. Ela e aquele jeito dela – o sorriso era inevitável. Eu sabia do seu jeito. Eu que sabia. Vem como quem não quer nada, enfeitiça e você fica dependente pro resto da vida. No meu caso, o feitiço se virou contra o feiticeiro. No caso a feiticeira mais linda que eu já conheci.
É nessas horas que paro e penso sobre a vida. Na fugacidade dela, na verdade. Não me recordo de quando tudo isso começou, só sei que estou aqui, e o “sem ela” não me é mais tão ruim.
As pessoas são assim mesmo, desejam, desejam e quando conseguem, desistem, desistem. Eu fiz parte dessas pessoas. Se eu não faço mais? Não sei, só sei que somos assim mesmo.
Deixei-a na mesma facilidade em que me apaixonei por ela. Tão fácil, tão simples.. E foi melhor assim, é melhor assim – eu espero.
- Ta ficando tarde.. É melhor eu ir.. – a voz não enganava ninguém, qualquer que fosse o manifesto para ficar ia ser acatado imediatamente. É muito mais complicado quando temos o controle da situação, é muito mais difícil decidir o que fazer ou não.
- Quer que eu leve você?
- ... Não precisa, é perto. Vou a pé, to mesmo precisando emagrecer. – sua decepção estava nítida.
Mulheres.. Sempre precisando de um elogio, sempre precisando de alguém que as venerem, que as desejem com toda a voracidade que seu ego pode agüentar. E mais, porque o ego de uma mulher tem começo, mas nunca um fim.
- Escuta – falei. Não adiantava mais ficar prolongando esse assunto. A esperança ressurgiu nos seus olhos castanhos rajados de verde.
- Fala. – um sorriso tímido estava querendo aparecer.
- Ahm.. Abre o meu guarda-roupas.
- Ãn?
Sorri outra vez. Não consegui falar nada. É extremamente doloroso se despedir das pessoas que gostamos. Ainda mais sendo dela. Ela não é ELA, mas é a “ela” de sempre.
Ela foi caminhando em direção ao guarda-roupas, desviando das roupas atiradas no chão, da mochila semi-aberta que revelava um saco vermelho. Logo puxei-o para mim, ela nem percebeu.
Abrindo a porta, me perguntou com um certo quê de tristeza. Ela já sabia, ou pelo menos desconfiava, todo meu esforço para não lhe contar foi pelo cano quando ela atendeu meu celular ontem à tarde.
- Onde estão suas roupas? Está tudo sujo? – quis fazer menção de que não sabia de nada.
- Eu sei que é em cima da hora.. Não sei porque não falei para você antes. – estava me segurando para não desabar ali na sua frente. Olhei pela janela. Dava para ver a lua, linda como sempre. Minha paixão pela lua começou muito cedo, quando ainda morava com meus pais na praia, tinha mais ou menos 5 anos. Meu pai, amante nato da natureza me levou para ver a lua cheia a beira-mar. Aquela noite foi inesquecível.. Principalmente pelos seus acontecimentos posteriores.. Inesquecível..
- Aonde você pensa que vai? – disse ela interrompendo meus pensamentos. Dei-me conta de que ela estava me olhando, esperando o que eu tinha para lhe falar. Apesar dela saber... sempre soube tudo de mim. Sempre. Quando contei a ela, ela que concluiu... – mas isso é outra história.
- Você lembra que eu estava tentando ir para a federal, não lembra?
- Você conseguiu... – sua voz tinha um misto de felicidade com uma profunda tristeza.
Não precisei responder, ela veio em minha direção e me abraçou. Estávamos chorando. Tratei logo de parar, pois sempre tive que ser a mais forte, a confiante, a positiva, a otimista, enquanto ela sempre foi a insegura, a indefesa, a chorona.
- Olha – falei me separando dela – eu quis contar a você antes.. Mas não queria causar falsas esperanças. Nem tristezas antes da hora.
- Você sempre foi essa egoísta mesmo! Você acha que pode controlar a vida das pessoas e seus sentimentos...
- Eu..
- Não me interessa o que você acha, quando você vai? – e soluçando foi para a beira da janela. Seu rosto ficava mais lindo ainda iluminado pela luz da lua. A lua, minha fiel companheira.
- Eu quis lhe contar antes..
- Quando? – interrompeu-me ainda olhando para a rua.
- Amanhã de tarde...
- Amanhã?! – gritou ela, mas ainda sem me olhar. – Você só pode estar louca!
- Você sabe que eu não ia continuar aqui por muito tempo. Depois que a tia Med se foi, a única coisa que me fez ficar aqui foi você.
- Eu não acredito. Eu simplesmente não acredito. E você ainda foi comigo, fez a minha matrícula, viu a casa de estudante para eu ficar. Planejamos tudo. Que iríamos nos visitar, uma semana aqui, outra semana lá.
- Eu..
- Você nada! Como pôde fazer isso comigo? Vai me deixar aqui.. nesse fim de mundo e sozinha?
- Ah, não é tão ruim assim – sorri sem graça – pensa pelo lado positivo, pelo menos não vai mais ter que dar satisfação pra ninguém sobre mim. – eu não agüentava vê-la chorar, quis me aproximar dela, mas acho que ela não iria me receber tão bem assim. Estava tremendo, engolindo o choro ainda disse:
- Que horas?
- Eu não queria que você fosse, sabe como sou, não gosto de despedidas..
- Que horas Manuela? – seu olhar ainda estava na rua.
- Às 17h. Mas eu não...
- Eu ainda vou estar no trabalho. – olhou para a lua. Voltando seu olhar para mim, respirou fundo. Antes que ela pudesse começar a me xingar ou desaprovar falei:
- Essa é a grande chance da minha vida. Ir pra capital. Estudar na faculdade federal, e ainda trabalhar lá. Lembra quando nós fizemos um pacto que iríamos morar e fazer faculdade lá?
- Você falou certo - sorrindo. Nós iríamos, não você sozinha me deixando aqui. Não pense que eu não fico feliz por você. Esse sempre foi seu sonho. Agora eu penso, muito mais seu do que meu. Você merece isso. Virando novamente seu olhar para qualquer lugar, menos para mim.
Eu queria abraça-la, dizer que ia ficar tudo bem, mas nem eu sabia se ia mesmo. Cheguei a pensar em desistir. Mas a vida é feita de escolhas, e a minha eu já tinha feito. Aqui, nesta cidade pacata do interior eu tinha que vestir uma máscara, ser uma personagem. Minha vida toda foi um teatro. “Olha, como você está linda! E o namorado, não quis vir? Não, ele está trabalhando”. Pelo menos não tive que encarar isso com meus pais. Eles foram antes que pudessem saber de qualquer coisa. Lembro deles, mas com o passar dos anos, as lembranças estão se apagando. Mas a noite da lua cheia... Inesquecível.