quarta-feira, 15 de julho de 2009

Outras verdades

- Estava passando pela vizinhança? - perguntou muito formalmente, demponstrando apenas um sorriso gelado.
- Pati... - falei completamente desconcertada.
- Não sabia que você vinha Manu... - disse ainda no mesmo tom frio.
- Nem eu - falei sorrindo, tentando quebrar aquela barreira que se instaurara entre nós.
- Dé - ela foi em direção a ele e deu um abraço demorado. Deu um breve aceno ao namorado de André e resmungou algo baixinho - depois eu venho falar com vocês, minha mãe ta me chamando.
Fiquei em estado de choque. Meu coração batia muito rápido, quase fazendo doer meu peito. Patrícia cada dia ficava mais linda e isso era impressionante.
André me olhava inquieto.
A festa seguiu no seu ritmo normal, parecia que ninguém sentia aquela revolução que ocorria dentro de mim. Tudo parecia calmo de mais, muito diferente do que acontecia com meu coração que cada vez batia mais rápido.
Por um momento pensei que André estava errado, para Patrícia tanto fazia se eu estava ali ou não, afinal ela me tratara daquele jeito frio.
A festa já estava acabando, tinham poucas pessoas. Era impossível que Patrícia não me visse, até porque o lugar era muito pequeno. Quando muito raramente ela passava por nós, nem me olhava. Fingia que eu fazia parte da decoração. Só naquele momento que percebi que as todas as paredes tinham cartazes com várias fotos de toda a trajetória da vida de Patrícia. Meu coração deu um pulo. Será que tinham fotos comigo também? Resolvi dar uma olhada, fui caminhando lentamente seguindo o caminho das fotos. Ela bebezinho, com alguns coleguinhas. Festinhas de aniversário. Nenhuma foto minha. Fotos dela sozinha, com os meninos da rua. Caminhei com um pouco mais de velocidade indo de foto em foto me procurando, mas nada. Continuei com a minha busca quase fazendo volta em todo o barzinho, nada.
Estava desistindo, afinal, porque ela teria uma foto minha se quem foi a má da história fui eu? Ela não me devia nada, provavelmente já havia me esquecido, e mais do que isso, já havia esquecido tudo que vivemos juntas. Tudo bem era o preço que eu pagaria por ter feito tanta sacanagem com ela e comigo.
- Não te achou aí? - senti uma voz falando logo atrás de mim. Era Patrícia.
Me virei meio encabulada, então ela percebera, e não ia adiantar falar absolutamente nada, ela sabia. Apenas sorri então. Um sorriso sincero e tímido.
- Tem coisas que não mudam mesmo - falou se virando já saindo de perto de mim.
Não ia deixá-la partir como no dia que eu fui embora. Segurei-a pela mão.
Ela não se virou pra mim, apenas parou olhando para frente. Senti o peso daquele seu silêncio.
- Pati...
- Fala - virou-se pra mim como se falasse com a atendente de telemarketing.
- Você não ia me contar que ia ficar um ano longe da gente?
- E você me contou quando resolveu ficar longe de mim?
- Como assim, claro que contei, eu to aqui, onde eu moro não é tão longe assim.
- Não, - negou com a cabeça - esse aqui - apontou para o meu peito - esse aqui você nunca me contou onde ficava, nunca me contou que ficaria tão próximo de mim e depois tão distante. Nunca me contou quando ele - pousou seu indicador na altura do meu coração - foi pra longe. Tive que descobrir assim, num desses nossos tantos encontros casuais - seus olhos ficaram marejados. Eu continuava segurando sua outra mão, e sentia nela um frio que subia pelo meu braço e chegava até o meu coração. Eu não sabia o que dizer, fiquei em silêncio pensando em todas as desculpas que eu poderia dar. Mas nenhuma mais cabia. Nada mais cabia ali, entre nós.
Ela soltou-se de mim.
- Por mais que você não mereça, eu fico feliz que você de novo sem querer, acabou me encontrando num momento importante das nossas vidas. Primeiro da sua vida, agora da minha. Mas sinceramente - seus olhos enfim fixaram-se nos meus - não me interessa mais se você veio aqui sem querer, por saber, por nada. E eu sei do quanto você já foi na minha vida, isso você pode ter certeza de que nunca vai ser esquecido. Agora, o que você é hoje, infelizmente eu tento todos os dias esquecer.

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