segunda-feira, 13 de julho de 2009

Quando tudo vira bosta

Cheguei à sacada e desabei chorando. Não sabia por que chorava tanto, mas sentia alívio.
Depois de alguns minutos consegui me recuperar. Me sentia outra pessoa. Uma pessoa renovada que depois de tanto tempo voltara a correr atrás das coisas que acreditava. Por mais que tivesse sido daquela maneira bêbada de resolver as coisas.
Ouvi alguns passos vindo atrás de mim.
- Pronto, meus parabéns, você conseguiu - Renata chegou-se por trás de mim, me abraçando pelas costas. Colocara seu rosto ao lado do meu, por cima do meu ombro. Igual fizera Yumi há vários dias atrás, na casa de Maurício.
Me virou para frente dela.
- Me deixa cuidar de você? O mais importante que era desabafar isso que você tinha a tanto tempo dentro de você, você já fez, agora me deixa cuidar do resto? - falou se aproximando muito rapidamente da minha boca, me beijando. Me senti desarmada naquele momento, como se nada me impedisse de nada. Senti sua mão passando pelo meu rosto. Existia uma ternura imensurável vindo de Renata. Ela parecia saber do que eu precisava naquele momento, mesmo não sendo Yumi. Naquele instante percebi que não queria ver Yumi nem pintada na minha frente. Estava muito brava com ela. E mais do que brava, estava triste. Como alguém que eu confiava tanto estava apostando coisas sobre minha vida com os outros? Então ela deixara-se levar pela minha "massagem" só para ver aonde eu ia, pra ganhar uma maldita aposta? Era esse o objetivo dela me fazendo pensar que ela estava na minha? Descobrir mais uma pessoa gay no mundo. Então eu era uma espécie de experiência para Yumi, para treinar seu gaydar.
- Shh, pára de pensar - falou Renata retirando sua boca da minha.
- To pensando alto?
- Não, mas seu silêncio ta me dizendo isso. Você deu o primeiro passo, largou tudo assim de bandeja pra ela. Agora espera ela entender e processar isso que vai dar tudo certo.
- E o que é esse tudo certo?
- Não sei, quando chegar a hora você vai saber o que é melhor pra vocês duas.
- Como assim?
- Ora, pra você e a Déia o melhor é a amizade de vocês.
Apenas sorri olhando para o lado.
- Eu sei que vocês ficaram - sorriu me forçando a olhar nos seus olhos - mas a questão não é essa.
- É o que então? - falei me segurando nela, ainda estava muito tonta da caipirinha.
- Sei lá to muito bêbada pra dar meus sábios conselhos pra você. Prefiro te beijar - disse me beijando novamente.
Estava me sentindo completamente vulnerável, mas até que não era ruim estar assim ali nos braços de Renata. Sentia que talvez ela quisesse ficar comigo mais para seu próprio ego, para que ela soubesse que podia ficar com qualquer menina que quisesse. Ela era assim, uma conquistadorazinha barata que todo dia transava com uma mulher diferente. Talvez quisesse ter a certeza de que eu por ser mulher, também o faria com ela. Mas sentia que seu beijo naquele instante era muito mais terno do que outra coisa.
- Então era isso - ouvi uma voz rouca, vindo de trás de Renata.
Abri meus olhos, me desvencilhando dela, olhando em direção ao som. Yumi estava ali com os olhos vermelhos, talvez de choro, nos olhando.
- Era isso, vocês estavam ficando o tempo todo e você nunca me falou isso. Depois vem querer cagar moral pra cima de mim que eu não deveria ter feito uma aposta sobre você. E você aí ficando com Renata o tempo todo sem me falar. Aparecendo com supostos chupões no pescoço que você sempre mudou de assunto pra não dizer. Agora tudo faz sentido, você ir dormir na casa da "Déia" - forçou seus dedos no ar - e eu sou a escrota agora MANU? - Yumi gritava. Via que suas lágrimas começaram a cair sem parar de seus olhos. - Então eu venho aqui me sentindo culpada de ter feito isso com você, e você aí se pegando com a Renata no meu nariz sem NUNCA ter me falado? E eu achando que tava sendo sacana com você por nunca ter te falado isso antes, tentando te preservar, e você ficando com todas as mulheres por aí sem me falar?
- Você só pode estar brincando né Yumi? Me preservar do que, posso saber? Você que tava me usando pra saber se eu era ou não. Ou agora você vai vir me olhar com esses olhinhos puxados aí - me detive alguns instantes olhando-os - me dizer que não aconteceu absolutamente nada há uns dias atrás no quarto.
- Quando?
- Quando eu te fiz massagem.
Ela ficara quieta, e nitidamente envergonhada. Álcool não fazia desaparecer tudo.
- A questão não é essa, a questão é que você mentiu pra mim.
- Quando que eu menti pra você Yumi?
- Omitir também é mentir Manu.
- Você é que mentiu pra mim o tempo todo.
- Eu menti? Nunca omiti nada.
- E porque nunca fiquei sabendo que você ficava com meninas?
- Porque nunca chegamos nesse assunto. Eu namorei com o cara aquele - ela coçou forte a cabeça - nem lembro o nome dele.
- Nossa! como você gostava dele.
- Não interessa o nome dele. Você e essa sua neura por saber o nome das pessoas. O que interessa - cada vez mais sua fala ficava rápida, conforme nossa briga ia aumentando o volume. Porém isso fazia com que sua pronúncia ficasse péssima. Pelo seu nível de álcool e pelo meu nível de bebunzice, não conseguia entender tudo que ela falava.
- O que interessa Manu, é que eu sempre te falei quando ficava com as pessoas. Você é criança Manu, eu bem sabia porque nunca tive essa conversa com você.
- Agora você arranjou outra desculpa por ter feito essa aposta, porque eu sou criança? Não entendo porque você, com todo esse jeito liberal de ser, teve tantos dedos pra conversar isso comigo.
- Eu digo o mesmo.
- Só que eu não fiz nenhuma aposta com ninguém.
- Você acha que isso e só isso que é importante?
Não entendi sua pergunta. Naquele instante eu estava completamente escorada em Renata. Conforme falava, sentia meu corpo cambalear para frente e para trás, numa tentativa muito frustrada de me manter ereta. Fiquei calada pensando, ou tentando organizar todo o turbilhão de coisas que aparecia na minha mente.
- O que interessa é que eu achei que você confiasse em mim e pelo visto não é isso que acontece.
- Digo o mesmo - falou saindo.

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