segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Claro que sim

- Vem?
- Sim, eu vou.
- Mesmo?
- Sim.
- Não acredito.
- Ta, então eu não vou.
- Ai que brabinha...
- Meu, até daqui a pouco, beijos.
Ele riu – beijos, vem bem linda que tenho contatos pra te apresentar.
- Vê lá, hein?!
Não tinham se passado tantos dias assim pra eu chegar num estado de completo bem estar. Mas tinha conseguido chegar a uma conclusão, não deixar mais assuntos relacionados com Yumi me afetar daquele jeito. Imagine, eu fazendo escândalo na frente da minha casa. Não que fosse algo tão atormentador assim, mas o fato de um escândalo e o motivo dos gritos sem respostas era no mínimo fora do meu contexto. Mas havia decidido com aquela certeza de domingo à noite, na eminência de uma segunda feira cheia de promessas de dias melhores, que aquilo não se repetiria. Sabe, desencanar de Yumi. Porque ela sim havia entendido meu recado, eu é que não entendi seu silêncio e sua cara de confusão.
Pois bem, cheguei na festa do Paulinho. Sozinha, mas satisfeita.
Logo de cara encontrei Renata e Carol, ambas tagarelando sem parar.
- E aí suas bêbadas!
- Ahhh você veio! – gritou Renata levantando o copo no ar, derramando algumas gotas no carpete.
- Claro que sim, eu disse que viria.
- É que a gente achou que... – Carol falou diminuindo exponencialmente sua voz.
- Eu vou resolver isso.
- Vai resolver como?
- Cadê ela?
- Ta lá na cozinha.
- Hei, o que você vai fazer? – Carol me segurou pelo braço.
- Calma, como te disse, vou resolver essa idiotice – falei me sentindo meio enjoada. Ou seria só um embrulho no estômago por ter que falar com Yumi depois da nossa nada amigável conversa no hall?
Passei por mais alguns conhecidos, abanei, dei beijo na bochecha, brindei mesmo sem copo, mais algumas pessoas e enfim a cozinha. Yumi estava fazendo uma caipirinha e tinha mais dois rapazes conversando. Não os conhecia, mas pareciam namorados.
- E essa caipa aí, sai ou não sai? – falei forçando um tom descontraído.
Yumi chegou a dar um pulinho de susto.
- Ahm.. Manu.. –falou ficando levemente corada, ainda segurando em uma mão a faca e na outra metade de um limão.
Apenas sorri.
- Não sabia que você viria –tentou colocar de qualquer jeito a faca em cima da mesa, derrubando um montinho de cascas de limão no chão.
As recolhi, colocando-as em cima da tabuinha, chegando mais próxima dela.
- Olha só Yumi...
- Não, Manu... eu que...
- Deixa eu só falar uma coisa – continuei ignorando sua menção de me interromper – é idiota a gente brigar por coisas idiotas – ri da minha própria construção de sentença – sério Yumi, eu não to a fim de ficar brigando contigo, não faz sentido. Você faz o que você quiser com as tuas coisas, e sério – segurei seu braço – não to sendo grossa, ou pelo menos to tentando falar de boa com você. Eu gosto de você, a gente é amiga, eu não tava num momento bom, você tem suas coisas eu as minhas e pronto ta? É ridículo a gente brigar desse jeito.
Mas aquela vontade de beijar persistia. Desde há muito tempo atrás. E mesmo com meus momentos de silêncio, pensando no que fazer olhando para o teto, não desfizeram minha atração por ela. Era só chegar perto, naquela mesma distância que estávamos. Era o suficiente para querer estar nela, de alguma maneira além da que estávamos. Atração passa, forcei meus olhos novamente para os seus, com o coração batendo descontroladamente mais rápido com o seu silêncio e sua cara indecifrável.
- Você não concorda? – insisti, tentando parecer sensata.
- Sim... – sorriu.
Ai pronto. Aquele sorriso. Que merda. Odeio quando não consigo controlar minhas vontades.
- Então pronto.
- Pronto.
Eu podia estar louca, mas ela permaneceu me olhando. E olhava de um jeito estranho.
- Ta – virei as costas e comecei a sair da cozinha.
- Onde você vai?
Sair de perto de você porque quero te dar um beijo, pensei.
- Vou ao banheiro.
- Ah ta. A caipirinha já ta quase pronta – sorriu como se nada tivesse acontecido – vê se não demora que eu guardo um gole pra você.

Nenhum comentário: