quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O que não faz um triângulo.

Supostamente estava tudo como estivera antes da nossa discussão. Conversávamos alegres, um pouco da bebida, um pouco do clima agradável da sala, das pessoas muito felizes, estranhamente felizes para falar a verdade, estranhas, mas ainda sim felizes.
- E você, cadê a sua menina?
- Que menina?
- Marta.
- Ai, que Marta nada, to solteira gata – Carol e suas insinuações.
- Opa!
- Opa nada, você sempre me dá foras e mais foras homéricos – brincou Carol.
- Eu? Você que namorava antes.
- Agora você que namora.
- É.
- Eu não namoro – falei mais rápido do que meu cérebro pode processar, mais devagar do que conseguia pronunciar todas as palavras num volume audível e sem comer tantas vogais.
- Olha! – falou Renata botando fogo.
Apenas sorri embriagada.
- Vocês bem que podiam ficar mesmo – falou Yumi me olhando.
- O que? Eu e a Carol?
- É – concordou Renata.
Olhei para Carol tentando focar somente nela. Ela ria. Mas ficou ali, parada na minha frente me olhando.
- Nahh – falei – não rolaria.
- Pouts, mais um fora – resmungou Carol.
- A gente tem ficado muito próximas, amigas sabe?
- E desde quando amigas não ficam? – retrucou Yumi.
Olhei pra ela querendo lhe fazer a mesma pergunta.
- É, mas não rolaria mesmo – falou Carol um pouco mais séria – porque a Manu não faz meu tipo.
Senti minha autoestima ser atacada de leve e vendo minha cara ainda completou – a Manu é gata de mais pra mim – riu.
- Ah sim...
Me perdi no meio da conversando olhando para uma menina sentada no sofá, tinha a impressão que a conhecia de algum lugar.
- Quem é ela? – perguntei sem ser ouvida.
- Gente! – Paulinho saiu da cozinha gritando com um CD na mão – trouxe as melhores músicas para dançar em casalzinho. Quero ver todo mundo pegando a mão do coleguinha, chamar pra pista e arrasar no forró.
- Desde quando Paulinho gosta de forró? – perguntei para Yumi.
Ela ria – não sei, desde que terminou com o Leandro ele anda assim, meio estranho mesmo.
- Ele ta aprendendo danças com um amigo nosso aí. Acha que todo mundo quer dançar essas porcarias agora – respondeu Renata.
Empurraram os sofás para os cantos, tiraram a mesinha de centro da sala. Começou aquelas musiquinhas regadas a triângulo e sanfona que eu não fazia ideia de quem era.
- Vem comigo gata – Renata puxou Carol pela mão, nos deixando sozinhas.
- Não vai dançar? – perguntei pra Yumi, enquanto me escorava na parede atrás de nós.
- Eu não, não sei dançar essas músicas aí – sorriu se escorando ao meu lado.
Ficamos durante alguns minutos em silêncio apenas olhando aquele bando de bêbados tentando dançar forró. Paulinho era o único que parecia querer seguir o ritmo da música. O restante dos casais se balançavam como podiam, uns riam, outros desistiam e apenas começavam a se pegar. Era como ver um clipe de Lady Gaga dentro de um show do Falamansa.
Por breves minutos me distrai de tudo, me distrai da presença de Yumi tão próxima de mim. Voltei ao mundo quando nossas mãos se encostaram de leve. Na verdade foi meu coração que me puxou à realidade.
Deixei meus dedos onde estavam, e os dela permaneceram ali, encostando de leve em mim. Talvez ela nem tivesse se dado conta de nada. Mas continuei sem olhá-la nos olhos. Fingia atenção a um casal que vez ou outra se aproximava de nós, quase nos pisando os pés.
Estiquei meu indicador em direção à Yumi, o entrelaçando com o seu. Ela mexeu de leve seus dedos. Num segundo de completo gelo na barriga pensei que ela tiraria sua mão da minha, mas ao contrário do imaginado, ela passou seus outros dedos em volta dos meus, segurando minha mão de forma estranha.
Arrisquei olhar para ela. Levou alguns segundos até que seus olhos se voltassem para mim.

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