terça-feira, 17 de junho de 2008

Desculpa - Não é o suficiente..

- Mas como você vai assim, tão de repente? Já sabe onde vai ficar? E você falou que vai trabalhar lá? Já tem até emprego e não me falou nada? Eu não acredito, eu simplesmente não acredito.
- É, eu expliquei a minha situação para o reitor. Falei com a professora Venusa, ela que me ajudou a fazer tudo.
- Ela gosta de você – sorriu –Sempre achei que ela desse em cima de você!
- Jura... Ela tem marido, filhos, só quis ser gentil comigo.
- Ela não falava com você direito, nem eram amigas. Foi ela te ver com a.. com aquela idiota que quis ser tua amiga na hora. Ela é enrustida.
Rimos. A professora tinha cara mesmo de ser, seus olhares para as meninas, principalmente para Ela. Não tinha nenhum menino ou menina que não a achasse linda. Era fato, podia ser qualquer coisa, mas sempre sua beleza falou mais alto, e todos ao seu redor acabavam se encantando por ela. Quando tirou 4,5 na prova de matemática (Deus não dá tudo para uma pessoa só), chorou no colo do professor e ele se viu "obrigado" a refazer a prova, segundo ele “tem uma questão que não foi passada para vocês ainda”. Todos caíam no seu charme. Ele era fatal.
- Ela sendo ou não, não me interessa!
- Sua devassa! Eu sei que você tem uma quedinha por ela. Aliás, por todas ? E olhou para o chão tristemente.
- Mas você é a minha preferida!
- Nem me venha com seus chavecos baratos que já tenho seu antídoto. E não mude de assunto, ainda não me esqueci que você vai embora amanhã! E a casa, como vai ficar?
- Falei com o Rogério, ele me ajudou a fazer os papéis. Como a tia Med era solteirona e não tinha filhos, o parente mais próximo sou eu. Ganhei a casa.
- E o que você vai fazer com ela?
- To pensando em alugar, mas ela tem vários problemas, do chão ao telhado. Eu só não ofereço a você porque ficaria muito caro para você se manter aqui, ainda mais que sua faculdade é meio longe. Ela já está na imobiliária para venda ou locação.
- Pelo visto você já resolveu tudo sozinha ?! Nem precisa mais de mim.
- Ah, não fala assim – me aproximando dela, tentando pegar na sua mão, mas ela retirou-a rapidamente. - Eu vou ficar bem, não contei a você antes porque..
- As suas desculpas não me interessam. Você vai embora!
- Eu vou sentir saudade de você.
- Vai nada, você nem gosta de mim, me quis longe em um dos momentos mais importantes da sua vida. - fazendo uma cara de mocinha abandonada - Mulheres e seus trejeitos.
- Ah vem cá que você sabe que eu não vivo sem você, minha irmãzinha - e puxei-a para mim. Como é bom abraçá-la, seus abraços sempre fizeram milagres comigo. Aquela pessoa certa, do tamanho perfeito para um encaixe perfeito.
- Manu - sua voz estava pastosa de choro. Levantou seu rosto e me fitou um longo tempo. Seus olhos são lindos de mais, uma mistura de tudo que existe de mais puro no mundo. E eles eram meus quando eu quisesse. Não sei quando este poder me foi concebido, mas ele era meu. E eu não queria perde-lo.
- Nossa.. Nem parece que fazem 14 anos que nos conhecemos, que você veio falar comigo, me perguntando se eu queria jogar futebol com você - sorri relembrando.
- E que você me respondeu um sonoro não e saiu correndo para dentro de casa.
- Ah, eu recém tinha chegado na cidade e uma baixinha estranha, toda suja de terra perguntou-me se eu queria jogar bola. Assustei-me, oras.
- Baixinha uma ova, eu sou apenas meio centímetro mais baixa que você! Aliás nesse momento, você está mais baixa do que eu.
E a nossa eterna briga sobre altura começou. Ela começava desse jeito mesmo, depois vinham os empurrõezinhos, alguém acabava caindo no chão. Dessa vez foi na cama. Engraçado como a cama sempre ajuda nessas horas, parecia que ela já estava a nossa espera. Ela já nos conhecia. Depois mais alguns empurrões, e eu ficava em cima dela segurando seus pulsos, dominando-a. Era sempre assim, ela ali, toda pra mim. Nos fitamos novamente. Dessa vez vi que a tristeza dos seus olhos tinham dado lugar a um estranho brilho, aquele brilho que dava antes de nós.. Bem, antes de nós nos entendermos melhor.
- Eu não quero que você vá - disse ela me puxando para mais perto. - É um saco tudo isso aqui sem você.
- Como você sabe? Desde que nos conhecemos nunca mais nos separamos.
- Mentira... Você foi aquela vez para o Rio e ficou um mês inteiro longe. O pior mês da minha vida, e você sua vaquinha, nem me convidou para ir junto - fazendo beicinho.
- Ahh.. mas você sabe porque eu fui, não foi minha culpa. Foi para resolver os problemas lá com a tia.
- Eu sei. Manu.. eu..

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