terça-feira, 24 de junho de 2008

Surpresa!

Acordei com a respiração de Patrícia no meu ouvido. Suas pernas estavam entrelaçadas nas minhas. As nossas roupas permaneciam atiradas pelo chão. Sentia seu gosto em mim. Olhei-a e continuava dormindo, com seu semblante revelando um leve sorriso. Procurei o meu celular em cima da cabeceira, para saber que horas já eram. Da última vez que tinha visto já passavam das 5. Com dificuldade de enxergar, ainda com os olhos doloridos de sono - 6:45. Não sabia que horas ela iria para o seu trabalho, mas acordei-a com um abraço apertado. Ela apenas me olhou. Desvencilhou-se dos meus braços delicadamente, checando as horas no seu relógio de pulso. Levantou-se da cama ainda em silêncio, e assim permaneceu enquanto colocava suas roupas. Fiquei estática acompanhando os seus movimentos. Colocou seus sapatos fazendo em seguida um rabo de cavalo. Virou-se para mim, mas não disse nada, apenas ficou me olhando. Senti-me embaraçada com a situação, pensando que talvez tivesse feito alguma coisa errada. Quando abri a boca para falar ela fez sinal com seus dedos para que continuasse em silêncio.
Pegando o casaco, o celular e sua bolsa foi em direção à porta, olhou mais uma vez para mim e saiu. Ainda paralisada pelo seu silêncio ouvi o barulho de chaves na porta da casa. Levantei colocando a primeira peça de roupa que vi e desci as escadas correndo em sua direção. Mas ela já havia partido. Olhei para os dois lados da rua e não a enxerguei. Como ela sumiu? Ainda arrisquei em gritar "Patrícia", mas foi em vão. Não faço idéia de quanto tempo fiquei parada na porta esperando ela voltar. Não estava acreditando que ela simplesmente havia partido sem um tchau, sem falar nada, e eu pateta, ainda envolvida pelo sono e pelas lembranças da noite passada continuei deitada parada, esperando-a ir embora. As pessoas já estavam acordadas na rua, percebi olhares curiosos sobre mim, me dando conta que estava com "pouca" roupa, entrei em casa.
Peguei o telefone para ligar para ela, mas na quinta tentativa desisti de vez. Quem sabe não seria melhor assim, sem despedidas, sem choro, apenas com lembranças da noite que passamos juntas.
Tomei um banho demoradamente, ainda não acreditava em tudo que havia acontecido.
8:15 marcava o relógio. Ainda precisava embalar o resto das coisas, rádio, televisão, tirar as últimas coisas das gavetas, levar o canarinho para a vizinha, prometi dar a seu filho, já que um passarinho não teria uma boa moradia comigo, recolher o resto das roupas que ainda estavam atiradas pela casa, ir me despedir do Dé.
Já eram 15h quando consegui terminar as últimas coisas e ir ao André para me despedir dele. Como na minha pequena cidade tudo era muito perto, resolvi ir caminhando, assim espairecia um pouco, em uma tentativa meio frustrada de parar de pensar na Patrícia.
Chegando ao seu prédio, vi que havia alguns carros parados na entrada. Toquei a campainha que logo foi atendida com um "Entra". Subi pelo elevador e quanto este abriu vieram me receber várias pessoas com chapeuzinhos e apitos. Sim, uma festa de despedida. Ainda não acreditando no que via, senti uma mão me puxando. Atordoada pelo barulho dos apitos, segui aonde a mão me levava. Em meio de tapas nas costas e "E aiii meninaa", cheguei ao apartamento do André. Então pude ver de quem era a mão que me puxava, e não acreditei no que vi.

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