sábado, 21 de junho de 2008

"I've got a right to be wrong my mistakes will make me strong"

- Então, - troquei de assunto - tenho uma coisa para você.
- O que?
Abri a mochila, retirei o saco vermelho, e dei a ela.
- Isso é a consciência pesada de não ter me falado nada, é?
- É sério, acho que você vai gostar.
Rasgou o saco e deu um gritinho agudo.
- Eu não acredito, aonde você arranjou isso? Meu Deus!
- Ah, tenho as minhas fontes.
Era o exemplar número 1 do Batman em quadrinhos. Aquele velhão mesmo. Nunca gostei do Batman. Outra briga diária nossa, ela gostava do Batman, já eu gostava do Homem-Aranha, apesar de que com os filmes e com todo mundo gostando dele, ele perder a graça.
- Manu, não sei nem como agradecer a você - me abraçando forte. - e eu, nem sabia que você ia embora. A única coisa que trouxe para você é o seu casaco que ficou lá em casa.
- Pode ficar com ele, ele sempre ficou melhor em você do que em mim.
- Que isso, Manu, ele é seu, você não tem tanta grana assim para ficar me dando suas roupas.
- Ele vai ficar bem cuidado com você. E outra, assim você não esquece de mim.
- Isso nunca vai acontecer...
Se aproximou de mim, passou sua mão direita sobre meu rosto.
- Você é linda de mais, ainda não acredito que vai embora - abaixando o rosto para esconder as lágrimas que agora caíam. - Você sempre foi o meu nada e o meu tudo. Nossa amizade, nosso.. nunca soubemos como nos descrever né? - sorriu.
- Você que é linda, não quero que quando eu for você comece a sair por aí sozinha, não do um mês para você começar a namorar com alguém e me esquecer.
- Eu já lhe disse, isso nunca vai acontecer - e sem que eu pudesse reagir, puxou delicadamente meu rosto para perto do seu, sua boca para perto da minha e nos beijamos. Nossa! Quanto tempo não sentia seu gosto, seu toque.
Tudo porque Luciana apareceu nas nossas vidas. Quando digo nossas, é porque paramos de nos ver com tanta freqüência, para depois não se ver em definitivo. Mesmo quando a mãe dela sabia e nos proibia de nos vermos, sempre dávamos um jeito para se encontrar escondidas em algum lugar. Mas quando comecei a namorar com Luciana, ela me fez largar tudo. Eu no começo aceitei, ainda viciada nessa nova droga que se chamava Luciana. Seu corpo e suas vontades, tudo era meu. E eu, cega pela paixão, fui deixando a minha vida para viver a vida dela. A vida dela, pois eu era um detalhe na sua vida. Um detalhe que, conforme eu fui deixando de gostar de fazer parte de tudo isso, mais ela gostava de me ter. E me querer mais, sempre mais. Eu uma época, confesso, também queria, mas ao ver que estava deixando de viver a minha vida para viver a dela, dei um basta nisto. Não existia a "nossa" vida como acontece normalmente com os casais, eu nunca me encaixei na vida dela. Na verdade, pensando bem, nunca formamos um casal. Faltava alguma coisa. Dizem que geminianos não gostam de ficar com uma pessoa só por muito tempo. Talvez tenha sido isso. Ter desejado tanto ficar com ela, que depois de ter conseguido o "troféu", ele perdeu a graça. Luciana era o sexo, Patrícia o amor. Mas uma hora tive de escolher. Escolhi o amor, claro. Pois com Patrícia tudo se resolvia. E o amor, tornava-se sexo em poucos segundos. Bastava o primeiro toque para a reação em cadeia acontecer.
- Pati.. - em meio dos seus beijos que tentavam me impedir de falar - você sabe que eu gosto muito de você. Eu juro que daria tudo pra você ir comigo.
Mas ela não queria conversar, ela estava com saudade de mim, assim como eu dela. Não conseguia parar de pensar que no outro dia não poderia mais vê-la a qualquer hora.
- Manu - foi a vez dela interromper nossos beijos que começavam a ganhar mais voracidade - eu senti muita saudade de você. Tudo aquilo que disse para você era mentira. Não estava ficando com a Rafa. Na verdade ficamos uma só vez. E nem foi aquilo tudo - sorriu.
- Porquê? - retribui seu sorriso já esperando a resposta.
- Ah, não sei não - mordiscou o lábio inferior. Como ela sabia fazer isso! Soltava um olhar meio de ladinho, e eu caia no seu encanto.
Como pode, nos conhecemos a tanto tempo e sempre que eu a vejo consigo sentir tudo que uma pessoa consegue sentir por outra. Quer dizer, por uns tempos fiquei cega pela Luciana. Mas hoje.. Hoje eu só precisava da Patrícia. Não pense que eu sou daquelas que tem várias, nunca fui tão popular assim. O que eu tenho hoje, são mais espectativas do que algo real. Na verdade, nem sei o que tenho. Às vezes acredito realmente que eu tenho as duas na minha mão. Às vezes acontecem fatos que me comprovam isso. Outras vezes, me mostram que eu nada sei, nada tenho. Mas com a Patrícia, eu nunca me enganava.
Essa história é complicada, pois começou a muito tempo. Logo que cheguei aqui e encontrei com ela. Foi a primeira pessoa que eu falei quando cheguei (a tia não conta, só para ficar mais interessante a história). Mas como eu disse, não é fácil, exige um tempo para contá-la. E tempo era tudo que eu não tinha nesse momento. Pois a Patrícia ainda estava deitada na cama comigo, me olhando, tentando decifrar meus pensamentos.
- Como é que é? - perguntou ela.
- Como é que é o que? - retruquei.
- Não vai compartilhar seus pensamentos?
- Estava pensando na vida..
- Na Luciana? - jogou verde.
- É, na Luciana - sorri maliciosamente, envolvendo meus braços em sua cintura e ficando em cima dela novamente. Me levantei ficando sentada.
- Quero lhe mostrar outra coisa.
Levantei e fui em direção à minha escrivaninha. Havia deixado o cd alí. Tirei alguns papéis que ainda restavam na gaveta quase vazia. Coloquei a mão mais para o fundo e senti a caixinha de plástico. Ela me acompanhava com os olhos, com uma ligeira curiosidade no olhar.
- O que você está aprontando agora?
Não respondi, tirei o rádio já embalado de dentro da caixa e coloquei na faixa 07 - era a música da Joss Stone "Right to Be Wrong", sua música favorita, e automaticamente a minha também, pois foi com ela que tivemos a nossa primeira vez.
Ela sorriu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Presente!! hehe.. Sou eu a "Gaúcha" da história!!!!!

Lindo o Blog!! Adorei!!!!!

Jo
ahistoriavirtualdeumamoreal.blogspot.com