quarta-feira, 13 de maio de 2009

As coisas como foram

Acordei sorrindo. Não tinha fome, não tinha sono. Queria chegar logo na escola. Precisava beijá-la novamente. Precisava dar mais um abraço naquela menina linda. Queria sentir seu cheirinho mais uma vez. Toquei os livros dentro da mochila, tive a impressão de ter colocado o livro de matemática, mas nem tinha matemática naquele dia. Mas quem se importava com os livros de matemática? A báskara que ficasse para a próxima. Eu precisava mesmo era de Patrícia. Tomei um banho demorado, queria ficar cheirosa para ela. Demorei mais tempo do que o normal para escolher uma roupa, no fim fui com a mesma de sempre, sabe aqueles uniformes que todo mundo tem? A melhor blusa, a calça nova e o tênis novo, pois então, esses mesmos. O colégio não era muito longe de casa, mas precisava pegar ônibus. Ele não chegava, olhava para o relógio de trinta em trinta segundos, e nada dele chegar. Parecia que haviam feito de propósito, se atrasar tanto só por minha causa.
Entrei no ônibus e tinha pouca gente, uma senhora, talvez mais um ou dois meninos no fundão. Não me importava, só queria chegar logo até Patrícia. O ônibus parou no vermelho, mas se era possível uma coisa dessas, agora todos os sinais estariam fechados para gente?
O ônibus parecia que sabia da minha vontade de Patrícia, porque conseguia andar mais devagar do que de costume, quase perguntei se ele tava apostando corrida com uma tartaruga.
Cheguei à escola mais cedo, como havíamos combinado. Encontrei-a sozinha na sala. Encostei a porta e a beijei ali mesmo. Ela logo se soltou de mim, disse que ali não podia, que precisávamos ter cuidado. Retruquei que o que eu precisava era de mais um beijo dela. Peguei-a pela mão e entramos no banheiro. Não havia ninguém. Empurrei-a gentilmente para dentro de uma das cabines, e a beijei com vontade. Seu corpo chegou a ir para trás com a força do meu beijo. Forcei meu corpo contra o dela e encostei-a contra a parede. Cada toque me impulsionava a querer tocá-la ainda mais. Não sabia direito o que nem como. A única coisa que eu sabia é que eu não sabia de nada, só queria ela toda para mim. Desci minha mão pelas suas costas, mas ela parou meu movimento segurando minha mão. Enquanto a beijava ela disse "Calma" baixinho e sorrindo. Passou a mão pelo meu rosto e por entre meus cabelos pela nuca. Me arrepiei toda.
- Nós poderíamos ter ido direto para a minha casa né? Para que vir na aula? - falei beijando-a novamente.
- Acho melhor nós sairmos daqui Manu, daqui a pouco entra alguém - disse em meio aos meus beijos.
Ela era assim, tinha medo de tudo. Está certo de que eu estava fascinada com esse novo mundo, mas o que poderia acontecer? No exato momento em que saímos da cabine, a "tia" da limpeza entrou para colocar uma sacola no lixo. Nos Perguntou "O que essas moças tão fazendo aqui tão cedo? Isso que é gosto de estudar!". Saímos rindo do comentário da senhora. Não conseguimos ficar juntas no intervalo e o restante da aula passou tremendamente devagar.
Era a aula de Química sobre o sei lá quem de potássio, era a aula de Português sobre o texto de um tal carinha lá que nunca tinha ouvido falar, nada de Matemática e nada do fim da aula chegar.
Quando enfim aquele suplício acabou, Patrícia arrumou a sua mochila vagarosamente. Eu já estava impaciente. Pedi para que fôssemos para o banheiro, mas ela me lembrou que há essa hora o pessoal da limpeza estava trabalhando, mas disse que iríamos para a sua casa. Almocei junto com ela. Amélia estava lá e o irmão caçula de Patrícia também. Ele se chamava Vinícius. Tinha 8 anos e era muito chato. Por sorte a Patrícia não dormia mais com ele, terminaram de construir a última peça da casa. Era o quarto dela, ainda com cheiro de reforma entramos rapidamente para Vinícius não entrar junto. Ele começou a gritar para a mãe Amélia que queria entrar junto conosco, mas ela disse que íamos estudar.
- Então foi isso que você disse pra ela? Que íamos estudar - falei já puxando-a para mim.
- Você ta animada hoje hein? - falou ela sorrindo.
Foi assim que passamos o resto do ano até dezembro, sem deixar de se ver um único dia. Ficando juntas na casa dela, no meu quarto, no banheiro da escola, no corredorzinho que dava para a biblioteca, quando saíamos para o shopping no escurinho do cinema ficávamos apenas segurando a mão da outra. Mas era uma sensação tão pura e de extrema felicidade que já valia à pena. Tudo com ela valia.

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