sábado, 16 de maio de 2009

Como aprender a ser cafageste, parte I

A mochila pesava nas minhas costas.
- Está pronta Manuela?
- Sim tia.
- Então vamos que o taxi está nos esperando - falou com o nariz empinado passando por mim, fazendo uma cara de desgosto.
Minha cabeça ainda doía da noite anterior, o gosto de vodka já havia saído da minha boca, mas meu estômago não parara de doer.
Não havia conseguido falar com Cátia, nem sabia direito o que acontecera na noite anterior. Me lembrava apenas que nos beijamos durante algum tempo e depois só lembro dos pais de Cátia gritando comigo. Havia uma lacuna entre o beijo e os gritos. Por um instante senti minha barriga congelar, pensei se talvez tivesse feito algo a mais com Cátia, que talvez por isso que os pais dela estavam tão bravos. Enquanto descia pelo elevador passando pelo 5º andar, desejei que Cátia não aparecesse alí naquele momento, e por sorte realmente não aparecera. Apenas uma senhora entrara no 2º andar reclamando que queria subir.
Enquanto minha tia acertava alguma coisa na portaria vi por trás de um casal que se abraçava Cátia falando com um rapaz na sala de convivência. Olhei para minha tia que estava entretida falando com o moço, e sai de fininho em direção a Cátia. Antes olhei bem para os lados para ver se os pais de Cátia estavam por perto.
- Você não sabe mesmo? - falava ela com o rapaz.
- Cátia, com licença - falei cutucando-a.
- Ai meu Deus - me abraçou forte.
- Obrigada Alex, achei ela - se virou para mim - ai Manu, nem sei como me desculpar por ontem - olhou para os próprios pés.
- Eu que não sei como me desculpar, ta tudo bem agora lá na sua casa hein?
- Ta sim, meu pai ficou bravo que tomamos quase toda a garrafa de vodka dele - vi em seus lábios um sorriso forçado - Ele disse que a gente podia ter morrido, sei lá essas coisas de velho.
- Nossa, não consigo me lembrar de muita coisa - sorri amarelo.
- Pois é, nem eu - falou ficando enrubecida.
- Então seus pais ficaram bravos só porque bebemos né? - falei tentando não parecer que eu estava apavorada por não lembrar de nada e por achar que talvez estivéssemos feito coisas além de beijo.
Ela riu.
- Até onde eu sei sim. Não sei como mas eu acordei deitada no chão e você estava no sofá. Graças a Deus né, imagina se meu pai nos visse juntas, ia surtar - falou aliviada.
Porém eu me apavorei naquele instante, como assim nos pegar juntas? A gente fez alguma coisa juntas?
Vendo minha cara de pavor Cátia deu com os ombros - Não que tivesse muita coisa pra ver né? Você dormiu no meu colo, depois de.. - ele girou suas mãos - você sabe - disse um pouco nervosa.
Eu não sei de nada pensei completamente em pânico.
- Olha, - falou ela balançando as mãos enquanto olhava para os lados - eu sei que foi só alguns beijos, que você tem alguém - nesse instante senti meu coração parar, e a Patrícia? - e que foi uma coisa de bêbado...
- É uma coisa de bêbado que não sabe o que está fazendo - falei interrompedo-a.
- Mas - voltou ela - foi muito importante pra mim.
Ela agora estava mexendo no anel de seu dedo compulsivamente. Não queria ter aquela conversa, o que seria importante pra duas bêbadas que reclamavam de seus amores complicados? Não quis ser uma bela de uma vaca com ela, mas não queria dar margem para ela ficar pensando coisas que não existiam.
- Cátia, esquece de ontem ta? Eu tenho alguém.. - Eu sei, interrompeu ela - você também tem - Não tenho mais, lembrou ela - e a gente, sabe? - fiquei gesticulando sem saber o que dizer.
- Mas Manu, não é possível que você não sentiu tudo que eu senti.
- Cátia, a gente tava bêbadas, esquece isso, é melhor pra todo mundo.
Mas ela veio rapidamente em minha direção para me beijar, mas consegui virar meu rosto, seus lábios tocaram minha bochecha.
- Cátia, segurei-a pelos seus ombros, eu só queria te dar um tchau e saber se estava tudo bem com você, tenho que ir que minha tia está me esperando, tchau.
Sai sem olhar para trás.

[O conto do começo]

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