segunda-feira, 18 de maio de 2009

Encontros casuais

- Manu? Você ouviu alguma coisa que eu falei? - perguntou Carol sorrindo para mim.
- Nossa, desculpa - falei corando levemente - tava longe, pensando na vida.
Entrei no quarto me jogando em cima da cama. Adormeci imediatamente. Acordei quando Débora entrara no quarto. Ela falava ao telefone, desligando após me dar um oi com a cabeça. Conversamos rapidamente sobre como havia sido a sexta-feira, o que faríamos nesse sábado. Estava morrendo de fome. Fui almoçar num dos barzinhos mais badalados da faculdade. Como era final de semana e o Restaurante Universitário não estava funcionando, a maioria dos moradores de Repúblicas da redondeza almoçavam lá. Já passara das 14h mas ainda havia muita gente comendo.
Sentei sozinha numa das poucas mesas livres. Mas logo vi um rosto conhecido, era o Paulinho e o magro cheio de piercings. Ele veio sorridente em minha direção, perguntando se podiam se juntar comigo, que havia esperado para almoçar pois pensava que não ia ter tantas pessoas, mas que pelo menos havia me encontrado, e isso era algo positivo.
- Então Manu, esse é o meu namorado Leandro - fez uma espécie de reverência em sua direção.
Quando estiquei a mão para ele, Leandro se levantou e me deu dois beijos na bochecha.
- Então Manu, ontem você perdeu a Guerra dos Bixos, foi muito engraçado.
- Pois é, fui ajudar sua amiga Yumi.
Leandro e Paulinho se olharam com um sorriso malicioso, mas fingindo não ter visto continuei conversando.
Já passava das 16h quando Leandro olhou para o relógio e exclamou assustado - Vamos baby (que brega, pensei), vamos nos atrasar para a festa do Maurício.
- Manu você conhece o Maurício, porque não aparece lá também?
- Que Maurício? - perguntei tentando me imaginar quem seria esse cara.
- Seu veterano Maurício, aquele magrinho que sempre está junto com a gente, sabe?
- Ah! então o nome dele é Maurício, sim claro, é aniversário dele?
- Minha querida, aqui - e girou seu indicador fazendo um círculo - a gente não precisa de nenhuma data especial para fazer festas.
E os dois riram.
- Aparece por lá gata, falou Leandro - isto é, se você não se importar de ter 11 homens para cada 1,5 mulher - riram mais alto.
- É que os homens - disse Paulinho abraçando Leandro - todos os homens, são uns gatos, sarados e totalmente - g-a-y-s - falaram os dois juntos.
Que mania que esse pessoal daqui tem de falar as coisas juntos, certo que eles combinam as frases antes de falar, pensei.
- Sério gatíssima, apareça por lá, deixa eu te dar meu número que temos que ir - falou Paulinho, saíndo abraçado com Leandro.
Fiquei sentada mais algum tempo, segurando o guardanapo onde Paulinho havia escrito seu telefone, pensando em nada.
Os caixas do barzinho já estavam me olhando feio quando descidi dar uma andada por aí. Cheguei no parque municipal, caminhei sem rumo até passar por um grupo de meninas meio góticas, meio rock n' roll, meio emos, meio qualquer coisa desse tipo. Tocavam violão, cantavam e bebiam um vinho que só pela marca já dava pra saber que era aquela coisa de todo mundo juntar as moedinhas e comprar o mais barato com maior teor alcóolico possível. Continuei caminhando devagar quando fui surpreendida com um "hei". Olhei para trás e não vi ninguém conhecido, continuei caminhando, mas o "hei" foi mais forte "é pra você mesma". Voltei os olhos para o grupo de meninas e reconheci a loira magra que era minha colega.
- E ai menina, vai ficar me ignorando mesmo?
- Oi, tudo bem - sorri indo em sua direção.
- Senta aí com a gente Manuela - falou ela abrindo um espaço no seu lado.
- Como você sabe meu nome? - perguntei surpresa.
- Ué, tem alguns professores que insistem em fazer chamada né?
Sorri - verdade.
Me apresentou todas as meninas, eram 5, uma ruiva Kaka, uma morena linda de olhos azuis Déia, a Malu que não desgrudava os olhos da.. Pouts, fiquei pensando e eu não sabia o nome da minha colega, mais uma que eu não entendi o nome, e uma outra morena muito magra, com certas olheiras bem fundas, que tocava o violão que se chamava Fernanda.
- E ai Manuela, de estilo de música você curte? - perguntou Fernanda - A gente tava tocando um pouco de Smiths, gosta?
- Nossa, adoro!
Ficamos cantando músicas antigas, Smiths, Cure, Beatles..
- Sabe Manu, a gente tem uma banda - falou a Déia.
- Sério? - me surpreendi.
- Seríssimo, Fer, vamos tocar uma das nossas?
Ficaram em silêncio. Notei que agora pairava um ar pesado entre as meninas. Fernanda se levantou brava, deixando o violão de lado - Você é foda né meu? - disse saindo.
- Hei Fer, vem cá - disse a menina do nome estranho indo atrás dela.
- Desculpa aí Manu, posso te chamar de Manu? - disse a Déia.
- Claro - falei meio deslocada por não entender o que estava acontecendo.
- É que a Fer ta meio que saindo da banda, - respondeu como se estivesse lendo minha cara de confusão - ta dando muitas tretas, sabe como é - falou num tom meio triste.
- Na verdade Manu - interrompeu minha colega - elas tinham um affair - e todas riram - só que esse affair acabou e agora elas se acham no direito de estragar nossa banda.
- O que você toca? - perguntei a ela.
- Toco bateria - sorriu mostrando uma tatuagem no seu punho de duas baquetas formando uma espécie de xis.
- A Kaká toca baixo, a Fer tocava guitarra e eu canto - falou Déia. Aliás você conhece alguém que saiba tocar guitarra? Porque estamos apavoradas tentando encontrar alguém pra tocar semana que vem.
Pensei em dizer que eu sabia tocar, mas ia ser muita pressão ter que tocar ali na frente de todo mundo para mostrar o que eu sabia.
- Pior que não - falei olhando para os lados.
Déia enjambrou algumas músicas, algumas até que eu sabia tocar, e modéstia a parte, sabia muito melhor. Uma hora deixei escapar que num acorde seus dedos estavam trocados.
- Como você sabe? - falou Déia ao perceber que fazia muito mais sentido na música.
Olhei para os lados - ah, eu sei tocar um pouquinho de violão também.
- E antes que vocês digam pra eu tocar - falei interrompendo a mensão que Déia fez de me passar o violão - faz tempo que não toco, com a vinda pra cá e com a surpresa de que meu violão foi quebrado durante a viagem, nem tenho tocado mais. Meio que desencanei - falei meio triste me dando saudade de ficar horas tentado decifrar as músicas que tanto gostava.
- Mas vai Manuzinhaa - falou Déia - toca alguma coisa pra nós.
Peguei o violão com um pouco de relutância.
- Tudo bem, mas não sei se vocês curtem o que eu gosto de tocar.
- O que você gosta, além de Smiths?
Lembrei da Yumi - Exaltasamba - falei séria.
Todas me olharam impressionadas.
- To brincando - riram aliviadas.
Ficamos lá uma, talvez duas horas tocando coisinhas fáceis de se cantar, de se tocar, e de se encantar. Malu finalmente abriu a boca.
- Rê, vamos?
- Claro - sorriu ela - Déia meu amor, você vai que horas pra casa, só pra eu saber... - disse ela abraçando a Déia.
- Que horas é pra eu ir?
- Amanhã? - e riu. Malu ficara constrangida e para não ser percebida virou para o lado e ensaiou uma tossida.
- Às 22h ta bom?
Rê fez um beicinho, mas concordou com a cabeça. Pegou Malu pela mão, se despediu de nós e seguiu em direção contrária a minha.
- Então - Déia meio sem assunto.
- Pois é... Vocês moram juntas?
- Quem, eu e a Rê?
Fiz que sim com a cabeça.
Ela riu - na verdade quem mora comigo é a Rê e a Fer, ou morava, porque acho que a Fer vai morar em outro lugar.
- Por causa do affair que não deu certo - arrisquei sorrindo.
- Também. Além de ter que arranjar outra pessoa pra nossa banda até sábado que vem, e ensinar pelo menos uma música nossa para ela, ainda temos que arranjar outra menina pra morar com a gente pra dividir o aluguel - fez um beiço meio preocupada.
- Ah, mas aqui na faculdade o que vocês mais acham é alguém de fora que precisa dividir apê.
- Você por acaso também não conhece alguém que queira dividir com duas doidas? - sorriu.
- Pior que não, sorri de volta.
- O seu violão quebrou né? Você tinha falado..
- É, disse enquanto levantávamos.
- Eu conheço uma menina que arruma violão que parece novo.
- Sério?
- É meio perto daqui, posso te dar o número dela. A única coisa é que é meio caro, mas vale a pena.
- Olha eu topo, fiquei bem triste quando vi que os caras do frente me disseram que estava no contrato que não se responsabilizavam por qualquer dano. Malditas letras minúsculas!
- É foda mesmo.
Fomos caminhando em direção ao Campus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aguardando...
Aguardando...
E aguardando...