sábado, 16 de maio de 2009

Tudo num só

Acordei com gritos altos, uma voz rouca de homem falando enraivecido. Mal consegui abrir os olhos, minha cabeça doia muito, sentia o gosto de vodka forte na boca. Imediatamente fiquei injoada. Olhei para os lados e não sabia onde estava. A luz que batia no meu rosto me dava mais injoo. Virei a cabeça rapidamente em direção à voz masculina que falava interruptamente, mas aquilo me fez ficar tonta e sentir meu estômago revirar dentro de mim. Precisava de um banheiro, pensei.
- .. que decepção Cátia Fonseca, que decepção, então é pra isso que você queria vir pra cá? - uirrava um homem corpulento, de um pouco mais de um metro e meio, que parecia não ter pescoço de tão gordo que era. Sua têmpora saltava, seus olhos estavam avermelhados, saia saliva de sua boca enquanto gritava apontando o dedo para Cátia.
Não sabia se levantava ou não, se havia alguma maneira de sair dali sem ser percebida, mas quando me virei novamente, dessa vez com mais cautela, dei de cara com uma senhora loira de olhos claros, que chorava quieta.
- Amaro a menina acordou - falou com a voz fininha.
- E você menina, quem é? Não tem vergonha na cara de vir até a minha casa - apontou seu indicador para si mesmo - e embebedar minha filha? - senti que sua raiva se focalizara em mim.
- Pai ela não tem nada a ver com isso, vai pra casa Manu - falou Cátia desesperada.
- Pra casa o cassete - gritou o homem - onde estão seus pais menina? Eles sabem que você sai por aí e fica embebedando menores de idade?
- Pai pára, ela tem 15, ela não tem culpa...
- O que?! Então vocês duas estão muito encrencadas mocinhas, chama teu pai menina, precisamos conversar com ele! - falou ficando mais vermelho que tampa de coca-cola.
- Olha, desculpa por qualquer coisa, eu vou pra casa - falei indo em direção à porta - ainda meio bêbada da noite anterior.
- Chama teu pai menina - disse segurando meu braço fortemente.
- Não encosta em mim - gritei mais alto que ele, puxando meu braço pra longe - meu pai ta morto, ta? Não posso trazer ele aqui, agora se o senhor me der licença eu vou pra casa - sai porta a fora.
- Mas que diabo - ouvi o homem gritando e um forte estrondo de vidro se quebrando. Corri para pegar o elevador que graças a Deus estava no andar me esperando.
O sacolejar do elevador que subia me deixava estremamente injoada. Meu coração batia forte, tive a impressão que se eu deixasse minha boca aberta ele saltaria por ali mesmo.
Chegando no apartamento em que estávamos, tia Med pulou do sofá onde parecia dormir.
- Isso são horas de chegar Manuela? - seu grito era o oposto do homem, era estridente, irritante, me injoava mais ainda, senti que se não desse um jeito iria emporcalhar ali mesmo. Sai correndo em direção ao banheiro. Fiquei trancada ali durante quase meia hora, calculei. Minha cabeça parecia que iria explodir, minha tia havia se cansado de bater na porta e chamar por mim. Disse que eu que me virasse, ela não era minha mãe, que não tinha nenhuma obrigação em cuidar de mim, que eu havia aparecido lá contra a vontade dela.. E assim foi longe o discurso de quanto ela odiava minha mãe por ter me tido, que podre coitado do meu pai que se apaixonou por uma megera, que...

[O conto do começo]

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