sexta-feira, 22 de maio de 2009

Pequenos retalhos

Tenho que comprar um Clube Social para a viagem, muitas horas para ficar de estômago vazio, pensei. Que saco fazer compras!
Indo em direção ao corredor das bolachas, topei com uma promoter que estava divulgando o novo café sei-lá-o-que. Experimentei mais por que era a Ângela que estava me oferecendo, uma velha conhecida do cursinho. Ela era amiga de Luciana, nos ajudava a despistar a mãe de Luciana que nunca acreditou que sua filha linda gostava de meninas.
Conversamos um pouco, aquelas perguntas sociais de sempre - E ai, como vão as coisas por aí? E a mãe? E a facul, e o trabalho? após isso, e só isso, fez-se aquele silêncio constrangedor de quem um dia já teve alguma intimidade, e que agora não passava de uma completa estranha. Poucos meses fizeram com que Ângela se tornasse uma pessoa qualquer na minha vida. As amigas de Luciana sempre colocavam caraminholas na cabeça dela. Sempre diziam que eu ficava com um monte de meninas por aí, quando quem era a mulher cobiçada do nosso relacionamento era ela. Ela sabia que podia ter qualquer pessoa que quisesse, hetero ou não, homem, mulher, qualquer coisa. Mas nunca soube por que Diabos que ela achava que eu conquistava todo mundo. Talvez porque eu também conversava com todos, porém meus assuntos eram além do "será que chove amanhã". Ela dizia que eu era estilosa, vai saber o que ela queria dizer com isso e que cada um tem sua beleza, e que a minha era cativante demais. Na verdade ela era o corpo e eu a cabeça do nosso relacionamento. Mas Ângela e eu brigamos porque uma vez ela inventou uma história de que eu ficava com a Rafa, a mesma Rafa que a Patrícia pegava, ou era pelo menos o que todos diziam. Só que eu mal conhecia a Rafa, justamente por ter ciúmes, confesso, da Patrícia. De tanto a Ângela, juntamente com a Luciana, me enxerem o saco de que eu a traía com a Rafa, um dia em uma festa que casualmente a Luciana não estava junto, conheci a maldita ou bendita, depende do referencial. Acabamos conversando poucos minutos e aconteceu uma coisa muito rápida, quando vi estávamos nos beijando intensamente num canto escuro de uma sala qualquer.
Luciana nunca soube disso, ou pelo menos fingia não saber. Já Ângela constantemente vinha me fazer ameaças de que se eu não contasse para a Lu, ela mesma contaria. Nunca contou, talvez por medo de que Luciana ficasse brava com ela e não comigo. Era sempre assim, Luciana sempre me dava razão no final.
Foi assim que fui enchendo o saco de Ângela. Na verdade sabia por que ela não gostava de mim e não parava de encher a cabeça da Luciana. Sabia, ou pelo menos essa era a minha teoria. Para mim Ângela sempre fora apaixonada pela Lu, mas afinal, quem não era?
Duas semanas depois que Luciana e eu terminamos descobri que elas ficavam enquanto nós namorávamos. Talvez Ângela achasse que eu sabia e era por isso que não gostava dela. Na verdade, e bem verdade, quando fiquei sabendo pelo Dé, que sempre sabia de tudo, eu achei tanta graça que cheguei a me engasgar com a Coca-cola. Fiquei satisfeita e com um leve alívio de que não era só eu que traía no nosso relacionamento.
- Bom querida - saiu mais irônico do que eu esperava - tenho que ir fazer minhas compras. Bom trabalho aí - falei olhando para seus pés que provavelmente estariam doendo de ficar tantas horas em pé sobre um sapato de bico fino, inevitavelmente sorri maldosa.
- Pra você também, honey.
Continuei minha saga em busca das comidas que precisava para o último final de semana aqui na minha cidade.
Coca, é disso que se precisa para viver, uma coca bem gelada com Trakinas de morango. Isso seria minha janta, pronto, decidido. Peguei o Clube Social para a viagem. Para o almoço de amanhã, um miojo, à noite chamo qualquer coisa. Fui para a fila do pãozinho. Fiquei atrás de uma menina que tinha um corpo lindo, estava usando um uniforme um pouco justo, que fazia sua bunda ficar inocentemente saliente. Seus cabelos eram cor de mel, parecidos com os de Patrícia pensei.
- Quero 5, por favor.
Quando ouvi sua voz não acreditei.

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