O sol que entrava pela janela era forte, acordei suada tamanho era o calor que fazia naquela manhã de domingo. Anotei mentalmente que não importava onde eu iria morar, eu sempre teria cortinas nas janelas, porque acordar com aquele sol era desumano. Quando abri os olhos em definitivo, depois daqueles "só mais cinco minutinhos" que se tornam horas, depois de muito relutar comigo mesma, percebi que estava sozinha na sala. Onde será que a Déia havia se metido, pensei.
Precisava urgentemente ir ao banheiro fazer xixi. Mas onde era o banheiro. Agora com luz percebi que na minha frente tinha uma porta, um pouco mais a direita outra porta que estava entreaberta, fechando o quadrado a cozinha, e a direita da cozinha outra porta que estava fechada. Na outra parede tinham quatro janelas enormes de vidro que davam para um paredão de prédios. Talvez para os fundos de alguma empresa, os pufes e eu. O apartamento era grande, e estranhamente me dava uma sensação de aconchego. Apesar dos tênis jogados pelo chão, algumas tampas de garrafa pelos cantos, dois ou três cinzeiros perto dos sofás. Parecia que eu já tinha ido ali, ou que talvez um dia iria morar por ali.
Como havia três portas que poderiam ser o banheiro, resolvi encarar a que já estava entreaberta. Fui caminhando pé ante pé, sei lá porque motivo, talvez porque me sentia uma invasora dentro da casa de outras pessoas que mal conhecia.
Bati na porta e como não houve resposta terminei de abri-la. Por causa do forte sol que vinha da rua, meus olhos demoraram algum tempo até se adaptar a escuridão em que a peça se encontrava. Foi então que percebi que era um quarto, com uma cama de casal gigante, e várias, mas muitas, mas todas as roupas do mundo espalhadas por todos os cantos imagináveis do quarto. E as roupas eram coloridas, havia serpentes feitas de penugem, botas de onça, um casaco verde limão que parecia ser de plástico. Reencostei a porta e sai Dalí com a sensação de invasora maior. Engraçado que aquele quarto parecia muito ser o da Déia, mas ela não estava ali. Ou talvez estivesse embaixo de alguma das várias montanhas de roupas.
Olhei para a porta da esquerda que estava fechada e para a do lado da cozinha. Por dedução, pensei que os quartos sempre estão próximos nas casas, e resolvi arriscar a porta nos fundos da sala, a que ficava ao lado da cozinha.
Bati na porta, e como antes não houve resposta.
Abri a porta devagar, a princípio era um banheiro, pois tinha uma pia com um espelho em cima. Quando terminei de abri-la, soltei um gritinho inconsciente.
Déia estava atirada no chão, emborcada por cima do vaso aberto e sujo. Parecia cena de filme trash, só faltou ter sangue espalhado pelas paredes, pensei. Demorei horas ajudando Déia a se levantar, tentar limpar um pouco o vaso para poder usá-lo sem tanto nojo, lavar a cara da Déia.
Já era tarde, perto das 17h quando enfim nos ajeitamos, ela inúmeras vezes me pedindo desculpas por tudo, Rê ainda não havia levantado, ou talvez nem estivesse lá.
Estávamos sentadas no sofá, eu no laranja e ela no preto olhando qualquer coisa na TV.
Engraçado que por mais que tivesse sido uma situação completamente desagradável limpar um banheiro sujo por bêbados e ajudar um a se limpar e voltar a vida, eu havia simpatizado muito com Déia, senti que foi algo mútuo, aquelas coisas que acontecem com poucas pessoas, que só de se olhar bater um 'clic', algo diferente, meio mágico. Mas era um 'clic' sem pretensões, sem segundas intenções, um 'clic' de que talvez dali poderia surgir uma amizade muito grande. Isso só acontecera com uma pessoa, com o Dé. Engraçado que os dois tinham o mesmo nome, coincidência pensei. O sol já se punha quando Rê abriu a porta do lado do quarto da Déia.
Já não havia mais marca de quadradinhos em seu rosto, seu cabelo estava bagunçado mas ficava estranhamente bonito. Era bem liso, meio curto, meio lésbico de mais, pensei.
- Bom dia suas bêbadas - disse enquanto sentava ao lado de Déia abraçando-a.
- Oi - falei sorrindo.
- Ainn - gemeu baixinho Déia escondendo sua cara no colo da Rê - nem me fale, só não me diz que eu tentei te agarrar, tenho uma leve impressão que fiz isso.
Rê deu uma gostosa gargalhada - pena que você só quer ficar comigo quando está bêbada - falou ela num sorriso meio enigmático.
- Que mentira? Foi você que..
Mas Malu abrira a porta do quarto, saindo ainda fechando sua blusa de botão. Usava aquela espécie de meia furadinha em forma de quadradinhos.
- Bom dia ladies, o que tem pra comer? - disse atirando-se em um dos pufes ao meu lado.
- Nada, como sempre - falou Déia - antes morri de vergonha oferecendo pão pra Manu, só tinha um que tava verde - e riu enquanto Rê passava a mão sobre seus cabelos.
- Eu sou muito a fim de ir no barzinho comer um pão de queijo com Coca.
- Nossa, só pela Coca eu já sou também - falei animada. Incrível que uma Coca sempre faz bem, principalmente depois de um trago forte.
Fomos as quatro, Malu um pouco mais atrás, para o barzinho onde havia almoçado no dia anterior.
Porém eu só tinha 2,50 reais. Todos meus documentos, cartões ficaram dentro da minha mochila no carro da Yumi. Pensei em voltar pra casa, pois não teria dinheiro para pagar, até que Déia disse que era por conta dela, já que ontem eu tinha bancado nossa saída.
Passamos o resto do domingo conversando sobre ressaca, dinheiro, Coca-Cola, e mulheres.
Se eu tinha falado alguma coisa? Não, apenas sorria.
Precisava urgentemente ir ao banheiro fazer xixi. Mas onde era o banheiro. Agora com luz percebi que na minha frente tinha uma porta, um pouco mais a direita outra porta que estava entreaberta, fechando o quadrado a cozinha, e a direita da cozinha outra porta que estava fechada. Na outra parede tinham quatro janelas enormes de vidro que davam para um paredão de prédios. Talvez para os fundos de alguma empresa, os pufes e eu. O apartamento era grande, e estranhamente me dava uma sensação de aconchego. Apesar dos tênis jogados pelo chão, algumas tampas de garrafa pelos cantos, dois ou três cinzeiros perto dos sofás. Parecia que eu já tinha ido ali, ou que talvez um dia iria morar por ali.
Como havia três portas que poderiam ser o banheiro, resolvi encarar a que já estava entreaberta. Fui caminhando pé ante pé, sei lá porque motivo, talvez porque me sentia uma invasora dentro da casa de outras pessoas que mal conhecia.
Bati na porta e como não houve resposta terminei de abri-la. Por causa do forte sol que vinha da rua, meus olhos demoraram algum tempo até se adaptar a escuridão em que a peça se encontrava. Foi então que percebi que era um quarto, com uma cama de casal gigante, e várias, mas muitas, mas todas as roupas do mundo espalhadas por todos os cantos imagináveis do quarto. E as roupas eram coloridas, havia serpentes feitas de penugem, botas de onça, um casaco verde limão que parecia ser de plástico. Reencostei a porta e sai Dalí com a sensação de invasora maior. Engraçado que aquele quarto parecia muito ser o da Déia, mas ela não estava ali. Ou talvez estivesse embaixo de alguma das várias montanhas de roupas.
Olhei para a porta da esquerda que estava fechada e para a do lado da cozinha. Por dedução, pensei que os quartos sempre estão próximos nas casas, e resolvi arriscar a porta nos fundos da sala, a que ficava ao lado da cozinha.
Bati na porta, e como antes não houve resposta.
Abri a porta devagar, a princípio era um banheiro, pois tinha uma pia com um espelho em cima. Quando terminei de abri-la, soltei um gritinho inconsciente.
Déia estava atirada no chão, emborcada por cima do vaso aberto e sujo. Parecia cena de filme trash, só faltou ter sangue espalhado pelas paredes, pensei. Demorei horas ajudando Déia a se levantar, tentar limpar um pouco o vaso para poder usá-lo sem tanto nojo, lavar a cara da Déia.
Já era tarde, perto das 17h quando enfim nos ajeitamos, ela inúmeras vezes me pedindo desculpas por tudo, Rê ainda não havia levantado, ou talvez nem estivesse lá.
Estávamos sentadas no sofá, eu no laranja e ela no preto olhando qualquer coisa na TV.
Engraçado que por mais que tivesse sido uma situação completamente desagradável limpar um banheiro sujo por bêbados e ajudar um a se limpar e voltar a vida, eu havia simpatizado muito com Déia, senti que foi algo mútuo, aquelas coisas que acontecem com poucas pessoas, que só de se olhar bater um 'clic', algo diferente, meio mágico. Mas era um 'clic' sem pretensões, sem segundas intenções, um 'clic' de que talvez dali poderia surgir uma amizade muito grande. Isso só acontecera com uma pessoa, com o Dé. Engraçado que os dois tinham o mesmo nome, coincidência pensei. O sol já se punha quando Rê abriu a porta do lado do quarto da Déia.
Já não havia mais marca de quadradinhos em seu rosto, seu cabelo estava bagunçado mas ficava estranhamente bonito. Era bem liso, meio curto, meio lésbico de mais, pensei.
- Bom dia suas bêbadas - disse enquanto sentava ao lado de Déia abraçando-a.
- Oi - falei sorrindo.
- Ainn - gemeu baixinho Déia escondendo sua cara no colo da Rê - nem me fale, só não me diz que eu tentei te agarrar, tenho uma leve impressão que fiz isso.
Rê deu uma gostosa gargalhada - pena que você só quer ficar comigo quando está bêbada - falou ela num sorriso meio enigmático.
- Que mentira? Foi você que..
Mas Malu abrira a porta do quarto, saindo ainda fechando sua blusa de botão. Usava aquela espécie de meia furadinha em forma de quadradinhos.
- Bom dia ladies, o que tem pra comer? - disse atirando-se em um dos pufes ao meu lado.
- Nada, como sempre - falou Déia - antes morri de vergonha oferecendo pão pra Manu, só tinha um que tava verde - e riu enquanto Rê passava a mão sobre seus cabelos.
- Eu sou muito a fim de ir no barzinho comer um pão de queijo com Coca.
- Nossa, só pela Coca eu já sou também - falei animada. Incrível que uma Coca sempre faz bem, principalmente depois de um trago forte.
Fomos as quatro, Malu um pouco mais atrás, para o barzinho onde havia almoçado no dia anterior.
Porém eu só tinha 2,50 reais. Todos meus documentos, cartões ficaram dentro da minha mochila no carro da Yumi. Pensei em voltar pra casa, pois não teria dinheiro para pagar, até que Déia disse que era por conta dela, já que ontem eu tinha bancado nossa saída.
Passamos o resto do domingo conversando sobre ressaca, dinheiro, Coca-Cola, e mulheres.
Se eu tinha falado alguma coisa? Não, apenas sorria.
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