quinta-feira, 7 de maio de 2009

Metamorfose

Mas a nossa amizade estava se transformando, depois das férias de inverno no primeiro ano do colegial, o que eu sentia ganhava mais intensidade ainda. E ela correspondia sem falar nada, apenas querendo estar comigo a todo instante e ficando brava quando alguém falava sobre meninos para mim. Anos depois fiquei sabendo que ela interceptara uma carta que um colega nosso havia escrito para mim pedindo para ficar comigo. Eu também tinha ciúme delas. O filho da tia do restaurante que agora voltara a ser nosso ponto de encontro nas sextas-feiras, gostava dela e sempre ficava atrás de nós quando íamos almoçar lá. Eu morria de raiva dele e fazia de tudo para despachar o menino para o mais longe possível. Ela se divertia com o jeito como eu falava dele, às vezes parecia que ela sabia do meu ciúmes, porque falava coisas só para me provocar, e dizia que eu ficava engraçadinha quando brava, passando a mão sobre meu rosto, fazendo eu ficar mais envergonhada ainda. Seu toque me causava coisas indescritíveis, coisas que só estando na minha pele para saber. E eu gostava de estar alí naquele momento. Era uma coisa boa. Sem nome, mas boa. Mais do que boa, ótima.
E essas coisas só aumentavam. Tudo de mais normal que fazíamos, parecia ser um espetáculo. Tudo que envolvia a presença de Patrícia me encantava. Era sem graça olhar televisão sem ela. Era triste ouvir meus CDS favoritos sem ter aquela menina ao meu lado, encostando em mim de vez enquando para me mostrar uma nova música. E tudo que fazíamos juntas fazia com que o que eu sentia aumentasse mais ainda. E se até nas coisas simples eu sentia tudo que eu sentia, mesmo sem saber exatamente o que era, quando ela trocava de roupa na minha frente, eu sentia meu coração saindo pela boca. Era uma estranha exitação. Não conseguia tirar os olhos do seu corpo. Às vezes ela percebia meu olhar sobre ela e fingia que não via, fazendo a troca de roupa demorar mais ainda. Com ela meu pacto comigo mesma de não ter vergonha para nada, não valia. Com ela eu me perdia enquanto falava e ela mordia os lábios, ou quando passava a língua sobre eles. A essa altura eu já sabia o que era gay. Se eu me considerava? Não. Mas sabia que "normal" eu não era, pois todas as noites eu ia dormir pensando no dia do meu aniversário que ganhara o melhor presente da minha vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sabe... estou redescobrindo o qto é bom ler (graças a vc), o quão longe as palavras podem nos levar. Lugares distaaantes, a muuuito não habitados...

Com relação a autora, rs, duvidas surgem. Será q ela ja sentiu essas sensações? [desconhecia] como pode conseguir falar com TANTA propriedade? Detalhes, cores, movimentos, sentidos, vivacidade. Como?

Os ultimos textos estão assim... smplesmente lindos, sutis, encantadores, gostosos, deixando aquela coisinha de: AHH! eu qria continuar lendo poxa, pq isso não eh um livro?

Um livro, pronto falei!
[Isso sim é um sonho. Imagino pra quem gosta de escrever]

É cedo, mas e dai? "Quem acredita nos sonhos deve correr atras deles" certo? msm q ainda seja distante.

Anônimo disse...

[4 anos por exemplo...]

Um grande beijo de alguém q não é mais ‘uma fã qlqr’ e sim a fã numero 1.