segunda-feira, 11 de maio de 2009

O segundo primeiro beijo

As sextas-feiras me acompanham com acontecimentos inesquecíveis. Estávamos saindo de mais um almoço no restaurante. Já era meados de novembro e o calor estava insuportável. O tempo estava fechando para uma forte chuva. Ainda precisávamos comprar algumas coisas no mercado para a minha tia. Na volta, após um trovão, começou a chover. Descemos a ladeira correndo para casa. Mas nosso esforço foi em vão. Chegamos ensopadas. Largamos as compras em cima da mesa da cozinha e subimos para o meu quarto. A chuva marcara seu corpo na sua camiseta branca. Eu percebia. Ela entendia. Eu senti. Ela retribuia. Por mais que combinássemos esquecer daquele beijo, ela fazia questão de mostrar que aquele desejo de outrora ainda existia.
- Você não pode ficar com essa roupa molhada - e se aproximando de mim tentou me ajudar a tirar a blusa.
Encabulada falei - Não precisa não, eu estou bem assim.
Mas ela me puxou e tirou minha camiseta de uma só vez. Sua mão encostou na minha pele e senti um forte desejo de encostar nela. De fazer qualquer coisa com ela. Mas de fazer. Aquela vontade estranha que sentia dela e que ia me consumindo. Que fazia com que ficasse horas me virando de um lado para o outro da cama antes de dormir. Nosso rosto ficou muito próximo. Ela me olhava com aquele brilho no olhar. Aquele brilho que eu já conhecia. Aquele brilho que depois do nosso beijo, sempre esteve presente.
Percebi que ela me olhara sem camiseta e tão logo ficara vermelha, foi em direção ao guarda-roupa pegar uma camiseta para mim. Escondeu-se atrás da porta. Ela provavelmente acreditou que eu não havia reparado. Fingindo procurar uma camiseta. Acabou pegando a primeira da pilha e tocou em mim.
- Posso pegar uma para eu usar?
- Claro - falei já esperando ela se vestir ali, na minha frente, para mim. Se eu estava sendo pervertida ou sei lá o que, não sei, talvez sim. O seu corpo era lindo. E isso era outra coisa que me encomodava, enquanto as meninas do colégio ficavam folhando suas revistas Capricho a procura de atores lindos e sem camiseta, daqueles posters de página inteira, eu só queria saber daqueles momentos com Patrícia.Ela me olhava enquanto trocava de camiseta. Na verdade ela me provocava. Ela sabia disso. Olhei para a rua, fingindo me interessar pela chuva que caía lá fora. Qualquer coisa para não acabar ganhando um colapso. Vê-la daquela maneira, me deixava completamente excitada. Eu precisava esclarecer certas coisas com ela. Era difícil me conter quando ela na sala de aula, onde sentávamos uma ao lado da outra, colocava sua mão na minha cadeira, fazendo ela encostar sem querer na minha coxa. Ou quando me abraçava forte fazendo sua respiração chegar aos meus ouvidos. Quando se despedia de mim com um demorado beijo na bochecha. Ou apenas quando ficava me olhando, sem falar uma única palavra.
- Pati precisamos conversar - falei enquanto me encostava na janela. Aquela frase saíra tão rápida, tão mais rápida que meus pensamentos, que por um momento fiquei na dúvida se tinha pensado, ou se tinha falado de verdade.
- Fala Manuzinha - voltou-se ela rindo para mim. E parou-se ao meu lado na janela. Seu corpo encostou no meu. Fechei os olhos. Era uma sensação tão magnífica que era inexplicável o que eu sentira naquele momento. Quando abri novamente meus olhos percebi que ela me olhava sorrindo.
- Essa chuva é gostosa né? - falei tentando camuflar a minha timidez. Meu coração já havia começado naquela corrida de sempre, batendo forte, e cada vez mais rápido.
- É ótima.
Ficamos alguns minutos sentindo o vendo frio que vinha junto com a chuva.
- Mas o que você queria me falar mesmo Manu?
- Eu.. - olhei para ela, queria dizer que... Dizer o que? Que gostava dela? Não, isso era impossível, eu não podia estar gostando da minha melhor amiga. A gente tinha combinado que aquele beijo, e nessas horas eu o amaldiçoava, deveria ser esquecido. Mas eu não conseguia tirá-lo da minha cabeça, do meu coração. Aquela vontade de mais um beijo, de mais uma dose de Patrícia. E se aquilo não era amor, então eu não sabia o que era. Mas eu não podia estar gostando dela. Aquilo seria o fim da nossa amizade. Mas alguma coisa eu tinha que fazer, aquilo não podia continuar daquele jeito, já estava me fazendo mal tanta vontade sem saber do que.
- Fala Manu, parece até que o gato comeu a sua língua - sorriu ela.
Mas minha voz não saía.
- Fala Manu, eu to aqui.
E esse era o problema, ela estava alí ao meu lado. E isso me encomodava. Não no seu sentido ruim, mas me deixava nervosa, fazia eu esquecer do mundo e só pensar nela. Fazia com que eu agisse como uma idiota, falando besteiras e um monte de coisas sem nexo. Mas que se fosse para falar alguma coisa, que falasse alguma coisa de útil, que tomasse alguma atitude. Que fizesse alguma coisa acontecer, independente do que fosse, mas acontecer.
- Eu-acho-que-estou-gostando-de-uma-pessoa - novamente as palavras saíram mais rápido do que meu cérebro pode acompanhar, mais rápido do que minha timidez pudesse me conter. Virei meu rosto ruborizado para a rua.
- É? Quem? - falou ela colocando o seu corpo mais próximo do meu, sentia seu braço colado no meu.
- Quer dizer, eu não sei né? Você não ta percebendo o que está acontecendo?
- Com quem?
- Com a gente! Não desgrudamos mais um minuto se quer, ficamos conversando a aula inteira, depois de tarde você vem para cá, a noite conversamos pelo MSN, antes de dormir ficamos até altas horas da madrugada conversando pelo telefone. Eu não consigo mais ficar longe de você.
- E você acha isso ruim? - falou ela fazendo beicinho.
- Não - falei um pouco mais alto do que gostaria. Estava muito nervosa. Comecei a andar de um lado para o outro, não conseguia manter meus olhos fixos nela, não conseguia fazer meu coração se acalmar, minhas mãos ficaram suadas e frias. Minha razão ia se perdendo aos poucos, me sentia louca, uma completa louca.
- Então o que é?
Por uns instantes eu vacilei. Mas ela sabia, dava a intenção que também gostava de mim. Colocava frases como "não paro de pensar em você" e essas breguices de apaixonados no MSN. Mandava mensagens de celular dizendo que estava pensando em mim e em seguida me convidava para fazer alguma coisa, ou me perguntava se podia ir na minha casa, dizia que estava com saudade. Eu pelo menos não fazia isso com mais ninguém, por mais amiga que fosse.
- Eu não sei, é normal isso?
- Mas nós somos amigas - dizia ela, mas começara a ficar nervosa também. - Eu gosto de ficar com você - ruborizando.
- Eu também gosto. Só que você já reparou que não conseguimos ficar longe uma da outra?
Sorriu.
- É verdade. Mas não entendo qual é o problema disso.
- Eu devo ta ficando louca! É isso, esquece o que eu falei.
- Mas o que tem a ver com você estar gostando de alguém? - nessa hora tive certeza que ela sabia do que eu estava falando. Ela não era tão tonta assim.
Eu precisava tomar coragem e falar. Se ela já sabia, e não havia falado nada, nem brigado comigo, era porque algo tinha, ou pelo menos não se preocupava com a idéia da sua melhor amiga gostar dela.
Ela estava ali, na minha frente, parada me olhando. Aproximou-se de mim.
- Vem cá Manu - abriu os braços em minha direção - me da um abraço. Não precisa ficar nervosa.
Seu abraço... Perfeito, simplesmente perfeito. Ele era quente e frio, forte e fraco, era na medida certa do meio termo mais completo e cheio que poderia existir. Mas que me dava uma vontade... Uma vontade tão voraz que ia me consumindo, me angustiando, me matando de desejo. Seu abraço era forte, firme, apertado. Sentia cada parte do seu corpo colado no meu. Era um abraço que dava certo. Sentia seu perfume, seu calor, seu coração batendo junto com o meu. Sua respiração estava ritmada com a minha.
Após o abraço, ela continuou com as mãos em volta de mim. Seu olhar condenava um sorriso. Me olhava diretamente nos olhos.
- Manu, você sabe que pode confiar em mim né?
- Mas eu confio em você, não é isso..
- É o que então? - tentou olhar nos meus olhos mas eles estavam baixos.
- É isso aqui, é agora.
Me lembrei do que havia prometido para mim mesma. E do que meu pai me falara. Lute pelas coisas que você acredita. Eu no momento estava acreditando na minha louca vontade de beijar Patrícia.
Olhei para os seus olhos - coração batendo forte - para o seu nariz - coragem, mais forte - boca. Tudo parou. Me inclinei levemente para perto do seu rosto. Nossos lábios se tocaram. Depois de tanto tempo. Sua língua rapidamente encontrou a minha, e assim ficamos um longo tempo, sentindo, beijando. De uma forma mágica a intimidade se criara instantaneamente. Parecia que nos beijávamos desde sempre. O beijo perfeito, molhado e demorado. No restante do dia não nos falamos, ficamos apenas nos beijando.
À noite, como comumente fazíamos, ela me ligou, mas ao invés de ficarmos falando sem parar como sempre, apenas ficamos longos minutos em silêncio. Eu conseguia sentir o seu sorriso e o seu coração.

3 comentários:

untouchedmilk. disse...

cara adorooooo seus contos *________________________*

LeLe disse...

Esse blog ta ficando cada vez melhor =D

Olga disse...

Nossa...
Li tudo, desde o episódio da cerveja! (sem palavras!)
To adorando...

Eu voltei a escrever de vez agora, é que eu tive os probleminhas... Bom, tá lá no blog, dá uma olhada.
Boa semana!