quinta-feira, 14 de maio de 2009

O suspiro do silêncio

A hora da viagem chegara mais rápido do que gostaríamos. Pedi que Patrícia não fosse comigo para o aeroporto, apesar de sua relutância. Nunca gostei de despedidas, preferia não ter que dar tchau para ela, mesmo sabendo que a veria novamente em um mês.
Porém esse mês durante as duas primeiras semanas passou muito rápido. Dona Mírian havia planejado muitos passeios e escursões. Tudo era relacionado com a Igreja, com missas, com a paróquia da tia Med. Já estava de saco cheio no domingo, deitada no sofá ouvindo o Faustão na televisão ligada do quarto de minha tia, resolvi que iria andar um pouco por aí. Fazer alguma coisa que não tivesse planejada. Fazia poucos minutos que havia falado com Patrícia no telefone, e isso me deixara triste pois a saudade já não tinha mais tamanho.
Desci pelo elevador, estávamos no 12º andar. Ao chegar no 5º andar, uma menina que aparentava ter uns 17 anos entrou. Era loira com cabelo liso. Usava uma mini-saia verde escuro, e uma blusa branca regata. Ela sorriu pra mim perguntando se estava descendo. Seus olhos estavam marejados e seu nariz levemente avermelhado. Talvez estivesse com gripe ou acabara de chorar.
- Você acredita no amor? - disse ela repentinamente.
Levei um susto, pois estava pensando em Patrícia, bem longe dali.
Lembrando-me do seu rosto perto do meu, da última noite em que dormimos juntas, abraçadas, do seu cheiro, respondi timidamente que sim.
- Pois não deveria, ele só serve pra acabar com todo mundo, pra enlouquecer. - Uivou com raiva - Eu to puta da cara. A gente faz tudo pelos outros, tudo pela pessoa que a gente gosta, pra que? Hein, me responde, pra que? Pra ela ir lá e te trair com a primeira piranha que aparece?
- É complicado mesmo - não sabia o que dizer.
Chegamos ao térreo, segurei a porta para ela sair.
Já estava descendo a escadinha da entrada do hotel, quando ouvi alguém fazendo "psiu".
- Hei, menina.
Olhei para trás e vi a loira se aproximando.
- Oi.
- O que você vai fazer agora?
- Eu, bem.. - nem eu sabia para onde iria - eu queria dar uma volta, to com a minha tia aqui, é foda fazer passeio de velho - sorri - tava precisando espairecer - dei com os ombros.
- Posso te acompanhar?
- Claro.
Fomos caminhando vagarosamente até chegarmos na beira da praia. Em silêncio percebia que ela às vezes resmungava alguma coisa para ela mesma, fazendo que não com a cabeça, suspirando, bufando e rindo sozinha.
- Então, o amor é mesmo fogo né? - arrisquei.
- É muito! Nunca mais vou namorar ninguém!
- Ah, mas não tem mais volta mesmo?
- Se teu namorado te traísse, você voltaria com ele?
- Não sei, depende da situação, não sei. - Pensei em Patrícia, como ela estaria se virando por lá. Ela fora numa festa sábado passado, não tinha me falado muito, mas sabia que um menino que dava em cima dela havia ido também. Fiquei pensando se ele não chegara nela naquela noite, se não aproveitara que ela estava sozinha e provavelmente carente para dar o bote. Me subiu uma raiva súbita. E se eles tivessem ficado e ela não havia me falado? E se aquele cara nojento havia encostado na minha menina?
- É, eu não perdoaria se ela ficasse com outra pessoa - falei.
- Ela?
Depois que me dei conta que falara sobre a Patrícia.
- É, a bem, a pessoa que estivesse namorando né? - falei.
- Ah, sorriu ela.
Ficamos conversando até o sol se pôr. Era uma conversa amena, sem grandes pretensões. Ambas estavam tristes, ela por causa do namorado ou ex, e eu pela falta de Patrícia. Já começara a acreditar nas minhas próprias invensões, acreditando que ela havia me traído, apesar de não estarmos namorando.
- Mas fala Manu, quem é que é essa pessoa que você tanto fala? Que você deixou pra vir com a sua tia?
- Ah, é uma pessoa aí, acho que você não deve conhecer - ri.
- Hm, é um cara de sorte.
- Não, eu que sou uma menina de sorte de ter alguém tão especial - falei apaixonada.
- E como é o nome dele?
- Patrícia - falei meio sem pensar.
Ela ficou visivelmente desconfortável. Mas eu continuei olhando para o mar. Ele estava calmo, já não havia muitas pessoas pela praia, talvez mais uns dois casais de idosos e uns cachorros procurando comida no lixo.
Ficamos em silêncio durante quase 10 minutos. Vi que ela queria falar alguma coisa, mas sempre que fazia mensão de falar, voltava a ficar quieta.
- Sabe, nunca fiquei com uma menina.
- E eu nunca fiquei com um cara, acredita? - falei pensando que só havia beijado Patrícia.
- Nossa.. Mas acho que você não está perdendo muita coisa não, os que eu já beijei foram muito desajeitados - sorriu. Tive a impressão que ela queria parecer menos nervosa do que realmente estava.
Ficamos em silêncio novamente.
- Mas como é beijar uma menina? - perguntou ela. Percebi que agora ela se sentia um pouco mais aliviada.
- Olha - sorri olhando para a lua que começara a aparecer dentre as nuvens - é bom né?
Ela riu, passando a mão pelos cabelos. Me olhou nos olhos. Senti um leve desconforto.
- Eu sempre tive curiosidade de beijar meninas - continuando com os olhos posados sobre os meus.
Desviei o olhar, eu estava louca ou ela estava insinuando alguma coisa?
- Acho que está ficando meio tarde - falei levantando-me, e limpando a bermuda que estava cheia de areia.
- É sim.
Voltamos para o hotel em silêncio. Um silêncio mais pesado do que o da ida. Combinamos que amanhã iríamos jogar volei na praia, que eu era muito nova para estar fazendo passeios com minha tia de quase 70 anos.

[Pra entender do começo ]

2 comentários:

Unknown disse...

mais mais mais.

n gosto mais dela se ela ficar com a carioca.

ham

untouchedmilk. disse...

ai ai ai adoro seus contos *_________*
e realmente o Caio é o cara sahsausaas to viciada nele ♥