domingo, 23 de agosto de 2009

Não sei

- Não sei, o que você acha?
- Não tenho muito o que achar.
- Mas pensei que você estivesse braba comigo - se calou por um breve momento - por eu ter ficado com ela. Não queria que ninguém me entendesse errado.
- Mas ninguém está dizendo nada, pode ter certeza. Todo mundo quer que você seja feliz.
- Pois é, mas tenho certeza de que muita gente acha que eu sou uma... - passou as mãos sobre o rosto esfregando seus olhos.
- Mas quem é essa gente?
- Os parentes dela, a prima dela, os amigos em comum, todo mundo que viu tudo começar e acabar.
- Mas não foi você disse que havia acabado há muito mais tempo?
- Sim.
- Então, todo mundo viu que as coisas não iam bem, não sei porque você se importa com isso e não com o que você realmente sente.
- Me importo com ela. A gente ficou juntas por muito tempo, não queria que as coisas acabassem desse jeito.
- Mas me diz uma coisa, existem outras formas de terminar um namoro?
- Claro que sim, a gente podia continuar amigas, eu não me importaria.
- Mas é difícil você ser amiga de uma ex.
- A gente nunca foi amigas, a gente sempre se gostou, desde sempre. Amiga é você - sorriu.
- Então, não tem porque querer ser amiga agora.
- Mas eu continuo me preocupando com ela.
- Pois não se preocupe, mais dia menos dia ela acha alguém para cuidar dela... - me arrependi um pouco de ter falado aquilo.
- É.
- Assim como você arranjou.
- Eu não arranjei ninguém, não to querendo compromisso, quero ficar um pouco sozinha. É isso que ela não entendeu.
- Ela sempre foi louca, e desculpe por falar isso, mas essa é a realidade, ela é chata!
- Muito chata né?!
- Sim!
- Pois é, mas eu gostava dela.
- Mas isso é passado, guarda as coisas boas e bola pra frente.
- Sabe que eu não consigo mais encontrar nada de bom que possa ter restado deste nosso relacionamento?
- Sempre tem alguma coisa.
- Eu fico triste por isso, a gente deixou a coisa chegar a tal ponto que não tenho mais lembranças de coisas boas que a gente fez juntas.
- Então isso é mais um motivo pra você deixar isso pra trás de vez.
- Mas eu deixei.
- E porque estamos falando sobre isso ainda?
- Porque eu não queria que as pessoas me vissem como a monstra da história, eu sempre fiz de tudo pra que a gente não terminasse, eu que aguentei tudo sozinha, ninguém venho me ajudar e me perguntar se estava tudo bem. Todos só acreditavam nela.
- Você se preocupa de mais com que a família dela pensa ou vai pensar. Você não namorou com o pai dela, e sim com a sua filha. A gente não pode agradar a todos, isso é impossível.
- Mas a única pessoa que eu tinha que agradar era ela.
- Exatamente.
- Só que pra agradar a ela eu tinha que agradar aos seus parentes. Todos eles!
- Mas agora você não está mais com ela.
- Eu sei, mas eles devem ta me xingando agora, me chamando de horrores, dizendo que eu não presto. Tudo que eu demorei tantos anos pra construir em relação a seus pais, a confiança que principalmente o pai dela tinha sobre mim, depois de tudo, simplesmente por água abaixo.
- Mas quem disse que foi em vão? Você fez o que pode enquanto precisava ser feito.
- Queria falar com o pai dela.
- E porque você não vai lá e fala?
- Porque não tenho cara de chegar e falar.
- Acho que isso é muito menos constrangedor do que você está achando.
- Eu sinceramente queria agradecer a ele por tudo que ele fez, por ter mudado tanto pra agradar nós duas.
- Mas o que te impede de ir lá e falar?
- Ela. É capaz de quando eu chegar lá ela ache que eu to indo lá pra falar com ela, pra pedir pra voltar e faça um escandalo.
- Mas se fizer vai ser só mais um.
- Não sei Manu, é complicado isso.
- Tudo sempre é complicado, cabe a gente resolver essas coisas.
Ela me olhou por alguns segundos sem falar absolutamente nada.
- E você como está?
- To bem, nada de mais.
- Nada de mais mesmo?
- Naquelas - sorri não conseguindo esconder.
- Você quer conversar sobre isso?
- Não sei - respondi franca.
- Ela é uma menina muito especial mesmo. Só que tudo que a Maria tinha de chata ela tem de louca, ela é de lua, complicada mesmo. Por isso que nunca insiti em ficar com ela - sorriu.
- Ela quem? - me fiz de desentendida.
- Yumi.
Concordei em silêncio.
- A Má sempre me disse que vocês ainda ficariam.
- Eu duvido muito.
- Ela é complicada mas não é impossível.
- Mas pra tudo a gente tem um limite. Meu limite com ela já acabo.
- Acabou nada.
- Acabou sim. Acabou pra isso, pra outras coisas eu tenho paciência o suficiente - sorri.
- Ela gosta de você.
- Gosta nada.
- Ela veio falar comigo esses dias.
- E aí? - não me contive.
- Ela me falou do escandalo de vocês - sorriu pegando mais um cookie de cima da cama.
- Ela acha que eu sou uma idiota, sabe?
- Ela não sabe o que quer.
- Percebi isso, mas eu sei o que eu quero.
- E o que você quer?
Sorri olhando-a.
- Viu, nem você sabe o que você quer!
- Eu sei sim Carol. Ela que não sabe o que quer.
- Ela sofreu de mais no seu último namoro antes da Jéssica, e antes daquele outro cara. A primeira vez que ela namorou de verdade. Mas se eu contar pra você, você vai me jurar que nunca vai comentar isso com ela.
- Prometo que não conto.
- Resumidamente ela se apaixonou por uma menina da escola dela. Elas ficaram por alguns meses, ela era louca por aquela menina. Como era o nome dela mesmo... Era Suzy se não me engano era isso. Ela terminou com a Yumi porque disse que era complicado pra ela namorar assim, os pais da menina acabou descobrindo, enfim, foi um inferninho tudo. A menina desistiu de namorar porque era muito difícil. A Yumi ficou muito triste, emagreceu horrores, foi parar no hospital porque não comia, ninguém entendia direito porque de tudo isso acontecer. Ficou com depressão.
- Nossa.
- É, a partir daí ela tem medo de namorar, de se envolver com alguém e depois a pessoa terminar com ela. Eu vejo que ela fica com as pessoas que são simples, que não tem erro de dar alguma coisa inesperada sabe?
- Sim, mas namorar com a Jéssica deve ser difícil, se ela gosta da menina e não pode ficar com ela sempre.
- Mas ela não gosta da Jéssica, isso é só mais uma pessoa na vida dela.
Estranhamente fiquei feliz.
- Mas porque ela namora então?
- Porque ela precisa de alguém pra ela poder terminar, pra ter alguém que dê atenção à ela. Ela é louca, eu falei.
Ri.
- Mas não comenta isso com ela.
- Pode deixar que não comentarei nada.
Ela voltou a deitar na cama de Débora, seu olhar ela distante. Talvez estivesse pensando em Maria.
- Posso te fazer uma pergunta Manu?
- Se eu puder não responder - sorri.
- Você gosta dela né?!
- Dela quem?
- Da Yumi.
Mordi meus lábios, apertei meus olhos, me calei. Ela concordou também em silêncio. Não acho que isso faria alguma diferença naquele momento.

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