sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sonhos

Acordei no meio da noite com frio. Havíamos dormido daquele jeito, deitadas de barriga pra cima. Olhei para o lado e lá estava Yumi. Ali na verdade. Parecia que mesmo dormindo em sua boca ainda havia vestígios de sorriso. Parecia que ela continuava com aquele ar enigmático me convidando. Com delicadeza consegui puxar o colcha onde estávamos deitadas em cima para nos cobrir. Ela se mexeu um pouco, meio que protelando por quase acordá-la. Quando passei a colcha por cima de nós ela se encolheu um pouco, aproximando todo seu corpo contra o meu. Colocou sua cabeça um pouco abaixo da minha, encaixando-se entre meu peito e meu pescoço, passando seu braço por cima de mim me abraçando. Ou eu estava sonhando ou ela também não estava dormindo. Pousei o meu braço sobre ela na expectativa de a qualquer momento abortar. Mas ela só fez aproximar-se mais ainda de mim. Era mais fácil voltar a dormir assim.

***

- Que horas é pra ir? Sei... - riu - Não eu não sei. Tudo bem, marcado então. Certo. Doze? Mas que horas é? Ok, então estaremos aí.
Era a voz de Yumi muito perto de mim. Ainda estava com os olhos fechados. Talvez aquilo fosse mesmo um sonho. Havia imaginado enquanto dormia que estava deitada junto dela, abraçada, na mesma cama aquela.
Permaneci de olhos fechados, esperando a qualquer momento que abortassem meu sonho, que acordaria sozinha numa cama qualquer. Sentia seu corpo quente encostado no meu. Meus olhos estavam fechados, mas ainda sentia seu cheiro, seu calor, sua vida ao meu lado. Meu braço ainda estava sobre ela, e ele ainda assim permaneceu quando Yumi se mexeu encaixando-se mais em mim. Talvez estivesse mesmo sonhando. Talvez estivesse mesmo imaginando coisas de mais. Mas se fosse sonho não haveria problema algum em eu encenar e ensaiar as tantas coisas que desejava fazer com Yumi. Pois se estivesse sonhando, que fosse o sonho mais belo, para que quando acordasse não restassem dúvidas de que aquilo era de fato um sonho. O melhor sonho.
Abaixei minha cabeça sentindo seu rosto mais próximo do meu. Parei ainda de olhos fechados. Aguardando. Tudo permaneceu igual. Continuei. Com meu braço busquei-a mais para perto de mim. Com o seu braço senti seu abraço apertado, escorregando por minhas costas até chegar a minha cintura. Sua perna ficou sobre a minha. Meu rosto ficou mais próximo do seu. Seu rosto subiu na altura para que nossas bocas pudessem se olhar. Mas eu continuava de olhos fechados, com medo de abri-los e acordar, dando fim aquele sonho. Sentia a sua respiração acelerar junto com a minha. Senti que meu corpo não aguentaria ficar por muito mais tempo de olhos fechados. Sua mão escorreu por baixo da minha blusa chegando a minha pele. Minha mão subiu até chegar à sua nuca, sentindo por entre meus dedos seus fios de cabelos. Nossos narizes se encostaram. Estava com medo de abrir meus olhos e acordar daquele sonho.
- Manu...
Aproximei minha boca da sua, não era a hora certa de acordar. Sua respiração encontrava minha boca, que queria a todo o custo encontrar a sua boca. Sua mão ainda por baixo da minha blusa me puxou forte contra si. Porém seu rosto se distanciou de mim.
- Manu, eu não posso.
Abri os olhos, o sonho acabara.
Ela ainda permanecia na minha frente, sua mão continuava embaixo da minha blusa, sua boca ainda estava olhando para a minha. Consenti com os olhos, ela não podia, mas fazia de tudo para parecer que sim, que estava ali, que aquilo era mais que um sonho. Então pra que insistir em fazê-lo existir, mas não acontecer?
Encostou sua testa na minha, me olhando nos olhos. O que outrora era enigmático se tornara claro. Mas na verdade deixava-se entender até um certo ponto, o ponto mais preciso, porém o resto ainda estava obscuro. Ela deixou tudo acontecer até este ponto, o resto só descobrindo.
Fez um gesto negativo com a cabeça, e murmurou algo como desculpa. Demorou ainda um tempo até tirar todo seu corpo que estava colado no meu de mim. Antes de levantar da cama ainda me lançou novamente aquele olhar que deixava transparecer poucas coisas ou quase nada.
Eu permaneci na cama ainda tentando entender estas tais poucas coisas que podia compreender. Olhava para todos os lados entanto encontrar alguma coisa, qualquer coisa que fizesse eu ter acordado daquele sonho em outro lugar, não ali, não ao seu lado. Antes fosse outra coisa. Mas ainda continuava na cama de Yumi, porém naquele momento completamente sozinha.

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