segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Telefone sem fio

- Vocês podem fazer em duplas ou trios.
- Vem Manu - falou Renata se aproximando de mim.
- A gente podia chamar alguém pra fazer isso com a gente, o que você acha? Alguma menina nova aí.
Ela sorriu.
- Agora você ta interessada em meninas novas? - me olhou.
- Ué, temos que revigorar as forças né?!
- E a pele.
- Nesse final de semana a Débora não vai ficar em casa, tenho que arranjar alguma companhia pra mim, sabe como é, fico muito sozinha naquele lugar tão grande.
Riu - sei como é. Eu não te falei né? Ontem Manu do céu, eu fiquei com a menina mais linda que eu já vi na minha vida, você não faz ideia!
- Ah é? Onde?
- Eu fui de última hora na casa de uma amiga minha que você não conhece.
- E você nem me chama né?!
- Foi de última hora Manu, nem eu sabia.
- Hm.
- Linda Manu, linda.
- E aí?
Ela concordou com a cabeça, nem precisava perguntar mais nada.
- Por isso que cheguei atrasada hoje, aquela menina me deu um cansaço que você não pode i-ma-gi-nar.
- Meninas, vocês precisam de ajuda? - perguntou a professora que certamente escutara pelo menos metade da conversa.
- Não professora - sorriu Renata displicentemente - tudo sob controle!
Ela lançou um olhar estranho para Renata que o revidou.
- Você não pegou ela né?! - perguntei depois que tive certeza de que ela não nos ouviria mais.
- Claro que não Manu! - soltou uma gostosa gargalhada - mas acho que essa mulher aí deve fazer loucuras na cama.
- Que coisa Rê, ela é nossa professora.
- Ela é uma mulher de no máximo trinta anos. Isso é flor da idade.
- Mas ela nos dá aula Rê.
- Adoro aprender coisas novas.
Divertia-se da minha cara.
- Posso me juntar a vocês? - perguntou uma menina muito pequeninha de cabelo ruivo e muito curtinho.
- Claro - falou Renata sem hesitar.
Sorriram uma para outra.
Depois de fazer um trabalho muito mal feito, mais conversamos do que qualquer outra coisa, Renata já havia conseguido todos os dados da menina, inclusive arrancar de sua boca que ela estava solteira, que tinha saído há três meses de um namoro com uma pessoa, assim mesmo, sem gênero definido.
Fomos para o RU falando sobre a menina.
- Oi meninas! - Yumi se aproximou de nós, também entrando na fila.
- E aí Yumi, o que você está fazendo aqui? - perguntou Renata.
- Eu estudo aqui perto né?!
- Ah é...
- Tudo bem Manu?
- Sim e com você?
- Tudo bem, como foi a festa dos solteiros? - continuava a me olhar diretamente nos olhos.
- Ah tava boa... Nada de mais.
- Como assim nada de mais Manuela? E aquela mulher maravilhosa que você pegou foi o que? - interrompeu Renata.
- Ah, nada de mais.
- Nada de mais? Você e ela sumiram, fiquei sabendo que você foi dormir na casa dela e tudo! - ela se divertia ao me ver constrangida na frente de Yumi. Yumi me olhava apertando seus olhinhos, fazendo com que eles lhe parecessem quase inexistentes.
- É Manu?
- É, fiquei com uma menina aí - respondi olhando para os lados, pegando uma bandeja.
Quando encontramos alguma mesa pra lugar de três pessoas, havia um menino ocupando um dos lugares, Yumi começou o que parecia ser mais um interrogatório.
- Então você pegou uma mulher?
- Um mulherão - completou Renata.
- É, fiquei com uma menina.
O rapaz que dividia a mesa conosco nitidamente parou de comer para prestar atenção em nossa conversa.
- E qual era o nome dela?
- Ah, que pergunta.
Ela sorriu sem muito ânimo.
- Você não sabe o nome dela?
- Sei né Yumi, não costumo ficar com as pessoas sem saber seu nome.
- Então qual é o nome dela? - repetiu.
- Agora me esqueci - sorri encabulada.
Yumi riu desacreditada. Renata e o rapaz se divertiam com a minha tentativa de lembrar o nome da menina.
- E você foi dormir na casa dela?
- Acabei indo, ela não tava muito bem.
- Sei.
Renata e o rapaz a cada nova resposta minha riam com mais vontade.
- Ah, dormi né.
- Dormiu sem perguntar seu nome?
- Eu perguntei né Yumi.
- Então?
- Eu só me esqueci - não consegui conter meu sorriso acompanhando os dois.
Yumi continuava séria.
- E vocês transaram - fez uma pausa - sem você nem conhecer a menina?
Renata largara seus talheres pondo suas mãos em frente a boca para abafar a risada. O rapaz fingia um acesso de tosse.
- Mas eu conheci ela.
- Quando?
- Na festa!
- Ai Manu!
- Ai o que?
- Sei lá. E você pegou o telefone dela também, já marcaram de sair de novo?
Ri.
- Que perguntas são essas?
- Só quero saber, só isso.
- Eu peguei o telefone dela, mas fiz questão de apagar.
- A é? Foi tão ruim assim?
- Não, primeiro porque não saberia por quem perguntar caso ligasse. Já pensou? Oi, aqui é a Manuela, sabe? A gente dormiu juntas domingo passado, lembra?
- E ai a mãe dela responde: dormiram juntas? Você ta falando da minha filha? Ela disse que tava estudando ontem a noite na casa de uma amiguinha - interrompeu Renata rindo muito, engasgando-se com o suco.
- É mais ou menos isso. E em segundo lugar porque não acho que ela me agregará qualquer coisa a mais.
- A mais do que uma noite de sexo com uma estranha.
- Até parece que você nunca fez isso Yumi.
Ela se calara.
Sorri vitoriosa.
- Bom, mas pelo visto a festa foi boa. Pelo menos isso. E você Renata, também foi parar na cama de uma qualquer?
- Na festa não, mas ontem Yumi... Fiquei com a menina mais linda do mundo.
Yumi olhava para nós duas incrédula.
- E você pelo menos sabe o nome dela?
Ela ficou em silêncio, e riu após Yumi soltar um suspiro de desaprovação.
- Claro que sei né Japa, o nome dela é Amanda... Ou será que é Natália?
Ria-se de Yumi.
- Ah, vocês duas tão me fazendo de boba.
- E como foi o teu final de domingo Yumi? - perguntei tentando mudar enfim de assunto.
- Foi um saco!
- O que você fez?
- O que eu não fiz você quis dizer né? Deveria ter ido com vocês na festa! Fiquei esperando até tarde que a Jéssica me ligasse, mas ela aparentemente se esqueceu.
- Olha Yumi, termina esse namoro antes que ela queira morar junto com você - Renata se divertia - no começo elas parecem assim, não se importar com nada, esquecer de certas coisas, daí quando você reclamar que ela está sendo muito displicente com você, ela vai entender que você está completamente apaixonada por ela, e vai te pedir em casamento, com direito a papagaio e tudo.
O rapaz ria agora sem esconder.
- Desde quando você tem experiência com relacionamentos Rê? - perguntei.
- Desde quando eu tenho experiência com o rompimento de relacionamentos antes de começarem! Mulheres sempre se enganam em relação aos sentimentos. Acham que estão apaixonadas só porque a menina lhe dá atenção.
Entendi que este seu último comentário fora diretamente pra mim, mas me fiz de desentendida.
Saímos da mesa e o rapaz ainda não havia terminado de almoçar, quase nos deu tchau quando enfim nos levantamos.
Depois do trabalho, de um belo banho, já deitada na cama lendo um livro, meu celular tocou. Era Yumi.
- Oi Japa.
- Oi.
- Tudo bem?
Débora entrara no quarto.
- Tudo e com você.
- To bem.
- O que tava fazendo?
- Nada de mais, pode falar.
- Não ta a fim de vir aqui em casa?
- Hoje?
- Porque o espanto de hoje?
- Ué, porque não estamos no final de semana...
- Se você não quer vir é só falar, não precisa me dar essas desculpas esfarrapadas.
- Nossa Yumi, o que te deu?
- Não deu nada.
- Não vou poder ir aí porque tenho aula muito cedo amanhã de manhã e ainda tenho que terminar de ler um livro. Aliás, começar né?! - soltei uma risadinha que foi abafada pelo seu suspiro.
- Sei.
- É bom estudar só pra variar sabia?
- Eu precisava de uma ajuda aqui no PC.
- Então é pra isso que você quer que eu vá?
- Também.
- Agora ta me usando é?
Percebi que Débora passara a prestar atenção na minha conversa.
- Eu te usando? Imagina - riu.
- E você ainda assume que é só pra isso? - falei brincando.
Continuou rindo.
- É... só pra isso que quer minha companhia.
- Sério Manu, eu precisava fazer um negócio aqui e não to conseguindo.
Depois de algumas explicações sobre o programa que ela queria usar, ficamos em silêncio.
- Viu, nem precisei sair da minha caminha quentinha pra te ajudar.
- Mas queria que você viesse - senti meu coração bater mais rápido.
- Pra que?
- Porque você é minha amiga poxa, que pergunta é essa agora?
- E a Jéssica?
- Porque você sempre insiste em perguntar dela?
- Porque você namora com ela.
Débora tossiu sem conseguir conter com as mãos.
- Mas não somos siameses né?! Cada uma tem a sua vida.
- Pelo visto as coisas não tão boas né?!
- Tão sim Manu, às vezes parece que vocês querem que eu termine meu namoro.
- Vocês quem?
- Você, Renata, Carol.
- Então não sou só eu que acho que a Jéssica é um saco.
- Hei, não fale desse jeito da minha namorada!
- Não to falando.
Ficamos novamente em silêncio.
- Jaqueline.
- Que?
- Jaqueline.
- Quem é Jaqueline?
- A mulher que a gente tava falando hoje no almoço.
- A que você ficou na festa?
- É, lembrei agora do nome dela.
- Então você fez mal em não ter pego o telefone dela. Porque agora que você sabe o nome dela poderia ligar sem medo.
- É, vai ver que eu fiz mesmo.

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