quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Round 2, fight!

Tomei um banho rápido, mas o suficiente para levar pelo ralo toda minha irritação de outrora. Enquanto aquela água quente caía sobre meu rosto fiz esforço para deixar Yumi ir embora da minha cabeça e do meu coração. Que ela fosse apenas mais uma amiga, era isso que ela queria, e que eu enfim iria querer também. Bastavam alguns dias, algumas festas, algumas doses de tequila com limão e sal que tudo ficaria bem. Quando saí do banheiro dei de cara com um rapaz baixinho e barbudo, apenas lancei-lhe um sorriso simpático que o desarmou do possível xingamento pela demora no banheiro.
Abri a porta do quarto e levei algum tempo até entender que havia outra pessoa além de Débora.
- Ela disse que precisava falar com você - Débora apontou para o lado.
Era Yumi com uma cara estranha.
- O que você ta fazendo aqui?
Mas antes que ela começasse a falar olhei para Débora que fingiu continuar a ler um livro qualquer, puxei Yumi pelo braço e levei-a até o saguão de entrada.
No caminho não falamos absolutamente nada.
Chegando lá Yumi despejou.
- Você é louca por sair daquele jeito?
- Você veio aqui pra me chamar de louca?
- Eu não entendo, pra que sair daquele jeito da minha casa? Nem conversar comigo você conversou, simplesmente saiu.
Toda a raiva que havia descido pelo ralo enquanto tomava banho deu lugar ao sangue que me subiu à cabeça.
- Você só pode estar brincando. Eu - frisei - eu não quis falar com você? Eu fiquei esperando mais de vinte minutos você fazer o que quer que seja que estivesse fazendo pra falar comigo e o máximo que obtive foi um "já vai"! E vai me dizer que eu - fresei novamente - que eu sai que nem uma louca? Ah, dá um tempo né Yumi?!
- Mas eu estava brigando com a Jéssica, você bem que podia compreender isso.
- Eu já compreendi coisas de mais com você, não sou uma palhaça pra sair cansada do trabalho, andar metade da cidade pra ir te ajudar pra chegar à tua casa e ficar esperando você resolver os teus problemas amorosos.
- Pensei que você fosse minha amiga.
- Não me venha com essa Yumi, amizade é diferente de ser palhaça dos outros. Agora se você veio aqui pra me chamar de louca e duvidar da minha amizade por você, então com licença.
Virei as costas e sai caminhando. Ela me segurou com força.
- Espera.
- Esperar o que Yumi?
Ela ficou em silêncio me olhando.
Eu tentava conter minha raiva.
- Sinceramente Yumi - respirei fundo - o que você quer de mim?
Olhei-a diretamente nos olhos. Ela por sua vez desviou o olhar.
- Olha pra mim Yumi, só quero saber isso, o que você quer de mim, porque eu faço tudo pra você e você sabe disso, você não é burra, então vamos deixar tudo esclarecido. Eu fui correndo te ajudar, pra chegar lá e ficar que nem uma idiota esperando você fazer todas as suas coisas até chegar a minha vez, pra enfim você me dar atenção e falar comigo. Me fala Yumi, o que você quer de mim?
Ela não respondia.
- Yumi eu vou ser franca com você, eu podia te jogar de um prédio agora de tanta raiva que eu to de você, porque ninguém gosta de ser tratada assim, como uma coisa qualquer, ainda mais quando a gente gosta da pessoa. Quer dizer, eu confio em você, você sabe disso. Não gosto de ser tratada assim por alguém que é tão importante pra mim. Só que eu quero entender as coisas.
Ela permanecia imóvel, sua mão ainda segurava meu braço com força. Seus olhos eram pra tudo, menos pra mim.
- Yumi, quando você souber o que você realmente quer de mim me avisa. E olha bem, isso não é uma ameaça nem coisa parecida. Eu só to me cansando disso tudo.
Ela ficava quieta, aquilo me fez ficar com mais raiva ainda, perdi qualquer vestígio de paciência que aquela senhorinha havia plantado dentro de mim.
- E você agora fica quieta com essa cara de paisagem - explodi, essa era a hora de tomar coragem e alguma atitude, não importando para que lado pendesse, mas que pendesse para o mais urgente - Yumi eu to caindo fora - falei respirando forte - eu sei o que eu quero de você, quando você decidir nessa tua cabecinha louca aí o que você quer de mim você me avisa. Até lá vê se me esquece um pouco.
Me desvencilhei dela, indo enfim para o meu quarto.
Sentia raiva por Yumi ter ficado apática com tudo que eu estava falando. E ali, estática sem fazer absolutamente nada. Nem um sorriso, nem uma lágrima, nem um piscar de olhos, nem eles voltados para mim. Nada, absolutamente nada.
Como sempre, o nada.
Aquela quarta-feira estava sendo o pior dia da minha vida. Entrei no quarto e dei de cara com Débora. Ela percebeu que eu estava nitidamente nervosa, pois caminhava de um lado para o outro.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não.
Ela aguardou alguns minutos até continuar.
- A menina que estava aqui...
- O que tem ela? - perguntei com raiva.
- Ela... Ela tava estranha, parecia que tinha acontecido alguma coisa de muito ruim.
- Deve ter acontecido mesmo, ela deve ter olhado no espelho e visto uma louca nipônica. Completamente louca! - praguejei.
- Hm.
- E eu não acredito que ela veio até aqui pra ME chamar de louca. Eu, uma louca, imagina!
- Posso fazer uma pergunta pra você?
- Faz.
- Ela é sua namorada?
Olhei incrédula para ela.
- Que?
- Sei lá, vocês meio que parecem namoradas.
Soltei uma gargalhada maquiavélica.
- Não Débora, nós definitivamente não somos namoradas. Antes fosse - ainda completei para o seu horror - antes ela fosse minha namorada porque ao menos eu poderia ter o gostinho de terminar com ela. Mas nem isso aquela louca me deixa fazer. Nem isso!