terça-feira, 18 de agosto de 2009

Uma gota caída

- Tem certeza de que não quer uma água?
- Déia, eu tenho certeza.
- Então saí dessa agora.
- Sai.
- Quero ver.
- Ta vendo aquela menina aqui reto? - apontei discretamente com meu dedo.
Déia espalhafatosa como sempre escancarou seu braço em direção à menina. Segurei-a.
- Essa mesma.
- O que tem ela?
- Ta me olhando já faz um tempo.
- Ela é gostosa - riu-se - vai lá falar com ela!
- Pois é, faz tempo que eu não faço isso - sorri.
- Mas chegar em menina é que nem andar de bicicleta, aprende uma vez e nunca mais esquece.
- Nossa Déia, hoje você ta parecendo um homem, só falta agora coçar o saco - ri.
- Eu só espero que quando essa tua paixonite pela Yumi acabar você não continue com essa incerteza das coisas.
- Você acha que é por causa de Yumi?
- Tenho certeza, a não ser que você tenha mudado de personalidade ou aquela menina que você me contou ser há tempos atrás nunca existiu.
Antes que pudesse começar a devagar em meus pensamentos, a menina me deu um sorriso.
- Vai que agora é a hora! - Déia me empurrou com força em sua direção.
Praguejei em silêncio, pois me aproximara o suficiente dela a ponto de não poder mais abortar. Ela percebera a intenção de Déia e voltou a sorrir.
Talvez eu estivesse assim mesmo por causa de Yumi.
- Oi - sorriu.
Mas porque era estranho tudo aquilo que acontecera com nós duas lá em cima do apartamento de Marta.
- Oi - respondi sentindo que ela se aproximara de mim.
O nosso quase beijo.
- Tudo bem com você?
E aquela sensação de que aquilo sim fora muito maior do que um beijo qualquer em qualquer pessoa.
- Tudo, e com você?
Yumi era uma vaca mesmo. Ficava me incitando a fazer as coisas, e na hora H simplesmente virava o rosto, como se eu pudesse me conter sempre, e simplesmente estancar tudo que eu sentia por ela.
- Agora ficou ótimo.
E ainda essa xavecada?
Sorri sem saber o que dizer.
- Eu tava te olhando de longe, tenho a impressão de que já vi você por aqui.
- Pode ser - sorri sem saber realmente o que falar - eu ando sempre por aqui - péssimo.
Mas que Yumi fosse para o inferno, eu que aproveitasse minha vida, minhas coisas, aquela menina que estava ali na minha frente me olhando, com aquele diálogo só esperando eu dar uma brecha ou tomar alguma posição. Que fosse. Parasse de ficar esperando as coisas acontecerem, essa não era eu.
E assim sem grandes papos a beijei. Assim sem muito tempo depois já estava em sua casa. Tudo aconteceu muito rápido e mais do que rápido, meio inodoro, meio incolor, meio sem gosto. Depois daquele ápice em sua cama, ela quase a dormir, perguntei sem esperar resposta, já que meus olhos pesavam.
- Qual é seu nome mesmo?
- Hm?
- Qual é seu nome? - já não conseguindo mais diferenciar o que era sonho da realidade.
- Jaqueline.
Senti o mundo girar algumas vezes durante os dois segundos de silêncio em que ambas se calaram.
- E o seu?
Resmunguei.
- E o seu nome, qual é?
- Manuela.
- Hm.
Adormeci.

Nenhum comentário: