segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mas fingiu que não era nada.

Uma hora (meia hora, sei) depois Yumi me deu um toque no celular. Era sinal de que ela estava chegando, havia combinado que buscaria ela na saída do trem.
Desci as escadas rapidamente, nem percebi quando já estava na estação.
Não foi difícil achá-la. Estava linda, como sempre.
- Oi Manu querida - disse me abraçando forte - hmm ta cheirosa - ainda com seus braços em volta de mim.
Fiquei constragida.
Sorri sem conseguir pronunciar palavra nenhuma.
- Enfim vou conhecer a sua casa - sorriu olhando para o prédio imensamente grande e velho.
- É, me acompanha? - ofereci meu braço.
Chegando ao quarto, falei antes de abrir a porta.
- Não repara, não é uma obra de arte, nem está tão arrumado quanto o seu - ri.
- Depois eu que sou fresca.
- E não tem tantos sapinhos enfeitando minha cama como a sua.
Sorriu.
Abri a porta, ela passou por mim encostando seu corpo em mim. Senti um frio na barriga.
- Ah, é bem maior do que eu imaginava.
- Nossa, você imaginava que eu morava onde? Que eu era uma fofolete e morava numa caixinha de fósforos?
Ela riu - Não né sua besta, mas não é tão pequeno.
- Experimenta ficar aqui durante uma semana sem sair de casa, te juro que você enlouquecer, só tenho meu computador aqui e essa geladeira.
- Nem televisão?
- Nada.
- Mas tem a sua guitarra - disse sentando-se na cama de Débora.
- É, tem minha guitarra...
- Que você vai tocar pra eu ver, afinal eu vim aqui para isso.
- Pensei que você veio pra me fazer companhia - resolvi encarar seus olhos, fazendo beiço.
Ela me olhou com um sorriso.
- Também.
Ficamos nos olhando por alguns segundos. Senti que meu coração dava saltos. Desviei meu olhar.
- Quer tomar alguma coisa?
- O que você tem aí?
- Deixa eu ver.
Abri a geladeira. Estava praticamente vazia. Tinha uma margarina no fim, um saco com duas maçãs (de validade suspeita), uma caixa de leite que ainda não havia posto no lixo por preguiça, uma jarra que era para ser de água mas estava vazia, uma vodka quase cheia - era de Débora - e uma coca dois litros.
- Tem refri - sorri voltando-se para ela.
- Pode ser.
Conversamos um pouco sobre a praia, sobre o final das aulas.
- Agora chega de enrolação, você vai tocar pra mim.
- Ah, tenho vergonha.
- Vergonha de mim?
- Não de você especificamente, mas de tocar pras pessoas.
- Ué, finge que eu não to aqui - sorriu.
- Que música você quer que eu toque? Exaltasamba?
- Nossa, você não esqueceu daquele CD? Faz tanto tempo!!
- É, eu lembro das coisas.
- Faz tempo que a gente já se conhece né?!
- É nem parece que você veio com os meninos pra cima de mim querendo me pintar.
- Mas aquela não foi a primeira vez que nos vimos.
- Não?
- Não, a primeira vez que nos vimos você praticamente me atropelou com suas bagagens.
- É verdade! Como você lembra disso? - perguntei espantada.
- Eu também me lembro das coisas.
Fez-se novamente um silêncio.
- Agora - Yumi sentou-se na mesma cama que a minha, ao meu lado - você vai me enrolar mais ou vai tocar pra eu ver?
Toquei umas do Frejat que sabia que ela gostava. Ela apenas ficou me olhando profundamente nos olhos enquanto tocava. Fiquei nervosa, senti que minhas mãos estavam suando de nervosismo. Ela estava muito perto de mim, isso me causava borboletas na barriga. Seus olhos não desgrudavam dos meus. Ela cantarolava baixinho junto comigo, me neguei a cantar em voz alta, até porque mal sai voz da minha boca.
- Que lindo - quando terminei de tocar "Túnel do tempo", sua música favorita.
Agradeci com a cabeça.
A segunda música seguiu, a terceira, na quarta ambas estavam cantando a plenos pulmões. No meio da quinta música, já estávamos em Legião Urbana, ela pousou sua mão sobre a minha coxa, cheguei a errar a nota, mas tentei camuflar com uma tossida forte (ah essa tosse). Se aproximou mais ainda de mim alegando que queria ver como eu conseguia fazer sair um som tão bonito sair de apenas seis cordas (hmm, pensei). Ela pareceu não ter percebido meu nervosismo com aquilo. Minha vontade era de tocar a guitarra para o lado e de dar um beijo naquela boca que estava tão próxima de mim. Se eu me esticasse para frente, calculei que chegaria na sua boca. Seu cabelo tinha um corte diferente, ele deixava aparecer às vezes uma franja que caia sobre seu rosto. Aquilo me facinava.
Toquei todo meu repertório pra ela. Ela gostou, cantava comigo, às vezes cantava sozinha porque eu esquecia da letra. Ela não cantava lá grandes coisas, mas era gostosinho de ouvir. Sei lá, ela estava alí do meu lado, tava valendo.
Chamamos uma pizza (até o final da faculdade tinha certeza que ganharia intolerância a pizzas, não erra possível).
Ficamos cantando noite a dentro, já era tarde quando meu celular tocou. Era a Déia. Eram 4h30min.

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