domingo, 21 de junho de 2009

MSN, sobe plaquinha, sobe!

Acordei domingo depois de um pesadelo com Patrícia. Fazia tempo que eu não pensava nela, sonhei que ela estava namorando com um cara. Que ela me abanava com a mão dizendo tchau para sempre. Que eu corria para outro lugar tentando me afastar dela e dava de cara com Luciana que também estava namorando, porém sua namorada era a Angela. Elas riam de mim que no fim eu tinha ficado sozinha. Quando finalmente avistava Yumi caminhando em minha direção. Eu ia dar um beijo nela, porém ela me empurrava dizendo que amava a Jéssica, que não queria nada comigo.
Estava suando. Esfreguei os olhos com força para aquelas imagens saírem da minha cabeça. Meu celular estava sem bateria, não tinha a menor idéia de que horas eram. Mas não estava muito interessada. Voltei a dormir.
Já estava escurecendo, ou talvez amanhecendo quando enfim me dei por vencida e levantei da cama.
Débora havia viajado, como estava de férias fora para casa de seus pais. Disse que só voltaria quando começassem as aulas de novo. Foi uma despedida bem singela, não nos dávamos mais bem quanto antes desde a primeira discussão sobre homossexuais. Até porque depois da primeira discussão veio a segunda, terceira até eu parar de querer mudar uma pessoa com a cabeça feita. Então ela que morresse com sua santa ignorância e eu parasse de querer fazer um mundo melhor. Foi isso que pensei quando deixei-a falar sozinha.
- Nossa Manu, até parece que você é uma sapatona falando desse jeito - falou Débora desacreditada levantando-se da cama.
Fiz um silêncio alto. Sai do quarto.
O quarto estava uma bagunça, tinha muitas roupas minhas jogadas pelo chão, afinal tinha me arrumado em poquíssimo tempo quando as meninas vieram me buscar para irmos para a tal festa do Maurício, e que festa estranha. Ainda sentia o cheiro de Yumi em mim. Durante as várias vezes que acordei e voltei a dormir, fiquei pensando porque ela havia ido lá para a sacada comigo e passara talvez uma ou duas horas abraçada comigo em completo silêncio. Fiquei imaginando se ela havia visto eu e a Renata ficando. Só de pensar em Renata me dava calafrios, eu não devia ter ficado com ela. Essas coisas só servem pra acabar com uma amizade, ou para fazê-la mais pesada e mais complicada do que um dia chegou a ser. Ou talvez não. Renata não era uma menina complicada, muito pelo contrário, prezava as coisas simples. Talvez ela fingisse que isso nunca aconteceu e ficaríamos bem como antes. Não que ficar com Renata me fizesse alguma diferença. Essa fora a maldição que Luciana havia me rogado. Não que ela tivessa importância e relevância na minha vida para fazer com que eu perdesse coisas importantes na minha vida. Mas desde que conheci Luciana deixei para trás uma Manuela que existia só enquanto estava com Patrícia. Uma Manuela mais correta, ou politicamente correta, mais centrada. Quando conheci Luciana me encantei logo de cara, deixei pra trás um sentimento que provavelmente nunca mais teria por ninguém como eu tinha por Patrícia. E quando esse encanto passou não tinha mais a Patrícia, não tinha ninguém, então nada me prendeu. Me tornei uma pessoa avulsa. Fiquei com tantas meninas que já não tinha mais como contar. Dormi com tantas meninas que no começo me fez sentir náuse de mim mesma. De me sentir suja, cafajeste. Prometer coisas para meninas que caíam na minha lábia, e sair assim, fechando o zíper da calça, fechando a porta de seus apartamentos, das suas vidas e nunca mais aparecendo.
Com Luciana eu me tornei uma pessoa fria e desapegada com tudo e qualquer coisa. Ou talvez eu fosse assim mesmo, ficar com Luciana apenas havia feito com que eu me redescobrisse.
Com enorme dificuldade consegui achar o carregador do meu celular. Pra minha insatisfação não havia nenhuma mensagem nem ligações perdidas. Eram 18h e pouco. Então estava anoitecendo, pensei.
Liguei o computador e fiquei algumas horas alí no ócio total, entre MSN com pessoas sem grande assunto (nenhuma das meninas estava on-line), Blog's, e-mails, notícias (afinal não tínhamos televisão, minha única forma de saber o que acontecia no mundo era por internet). Cada vez que subia a plaquinha do MSN eu esperava que fosse Yumi. Queria falar com ela, nem que fosse um oi. Estava me sentindo sozinha, estranhamente só falar com Yumi pelo MSN já me fazia bem. Querendo ou não quando eu morava com a minha falecida tia Med a gente fazia companhia uma a outra. Mesmo que ela ficasse no quarto dela olhando televisão e eu no meu, sabia que tinha alguém por perto. Ultimamente passava muito tempo sozinha. Só deixava de me sentir assim quando estava com a Yumi, não sei por que. Foi pensar nela (novamente) que sua plaquinha no MSN subiu.
Yumi falou antes que eu:
Oii....
Eu: Oi.. Tudo bem com você?
Yumi: Tudo.. Vocês chegaram bem?
Eu: Sim, Déia meio a contragosto, mas bem rs.
Y: Percebi que ela adorou a Micheli rs.
Eu: Pois é, ela gostou mesmo dela.
Y: Espero que ela saiba que a Micheli não tava querendo ser SÓ boa amiga dela..
Eu: Creio que Déia também não tava querendo ser SÓ uma boa amiga dela, rs.
Ela demorou um pouco pra responder.
Y: Ela é lés...?
Eu: Achei que você sabia...
Y: UAU, esse mundo é muito gay mesmo, né?!
Eu: (risos) muito mais do que a gente imagina...
Y: Manu, tem uma coisa que eu queria te perguntar faz tempo...
Pressenti que poderia ser algo como "você também é?", mas se fosse, era porque não tinha problema, então poderia responder sem problemas e me via livre desse fantasma que me perseguia a tanto tempo.
Eu: Ué, pergunta.
Y: .... ahh não sei, talvez você entenda errado.. Melhor deixar pra lá..
Eu: Ainnn que frescura, fala. Agora que começou termina né?!
Y: Eu não sou fresca, vai.. Você que sempre fica me tirando sarro...
Eu: Eu?? Que mentira..
Y: Você não gosta de mim, essa é a triste verdade snif...
Eu: [Mulheres pensei]... claro que gosto de você, de onde você tirou isso?
Y: Ontem me deixou ir sozinha com as duas malas [Carol e Má] que passaram o caminho inteiro brigando sei lá porque. Eu e a sua amiga ficamos sem saber o que fazer.
Eu: Mas a Carol e a Má são suas amigas a muito tempo, você já deveria saber como elas são.
Y: Por isso que nunca vou querer namorar de novo, é só enxeção de saco.
Eu: É que elas são duas meninas né?! Com homem é mais fácil.
Y: Você acha?
Eu: Eu não, você que me disse lembra? Quando terminou com aquele (idiota - escrevi e apaguei) cara lá.
Y: hmm..
Eu: Mas enfim, aquelas duas deviam dar um jeito, ou que terminassem de vez ou que ficassem bem, sério, namoro desse jeito eu também não gostaria de ter.
Y: Mas homens são mais fáceis.
Eu: Você acha?
Y: Foi o que eu disse né?!
Eu: Foi..
Y: Você não acha?
Eu: Eu não fico com pessoas por achar elas fáceis, rs.
Y: Lá vem você falar de mim de novo =(
Eu: Não to falando nada egocêntrica, to só dizendo como eu sou. Você é você, eu sou eu, rs.
Y: Mas eu até que gostava dele..
Eu: Eu nunca namorei alguém que "eu até que gostava". Taí, somos diferentes.
Y: Não sei porque você não gostava dele, ele era legalzinho.
Eu: Muito menos alguém "legalzinho".
Y: (risos)
Eu: Por isso não gostava dele, porque acho que você merece alguém mais do que legalzinho, alguém que você goste mesmo.
Y: Ah, não tem ninguém que preste por aí.
Eu: Sempre tem, você que precisa abrir esses olhinhos puxados e perceber.
Lembrei do que a Renata me falou na noite anterior.
Y: Será?
Eu: Olha Yumi, você é linda, pode ter qualquer pessoa que você quiser, não sei porque não se arranja com alguém que você goste.
Y: Ah nem sou não.
Sim, ela queria ouvir de novo que ela era linda, mas eu não ia ficar babando ovo pra ela. Esperei até que ela voltasse a falar.
Y: É que sabe o que que é?
Eu: hmm..
Y: Eu sou meio chata pra pessoas sabe? É difícil eu gostar de alguém por muito tempo. Aliás, começar a gostar.. Demora muito tempo, sempre acabo vendo mais defeitos do que qualidades.
Eu: Mas daí você estará sendo equivocada, porque você também tem defeitos, ninguém é perfeito, a gente tem que aprender a lidar com eles, se não você vai morrer sozinha.
Y: Olha quem falando, nunca vi você ficando com ninguém. Tirando aquele cara que apareceu lá no bar aquele dia, a meses atrás...
Eu: Quantas vezes eu vou ter que repetir que nunca fiquei com ele, que ele é meu amigo, que ele é gay, que ele tava pegando um cara...
Y: Então você ficou com outra pessoa, porque eu me lembro daquele chupão no seu pescoço.
Como ela ainda lembrava daquilo?
Eu: É fiquei...
Y: E nunca quis dizer quem era.. Se era bonito ou não... E depois dele nunca mais ficou com ninguém, ou está nos escondendo algo..
Eu: Eu nunca mais fiquei com ninguém porque to muito ocupada, estudando, trabalhando. Coisas mais importantes.
Y: Desde quando você é beata?
Sorri para mim mesma. Lembrei da noite anterior onde ficara com Renata.
Eu: Não sou, só sei lá, também sou um pouco difícil com as pessoas.
Y: Você deve ser frígida, não é possível rs.
Eu: Na real que eu tbm não to muito a fim de arranjar ninguém.
Menti um pouco.
Y: Relacionamentos sempre são dor de cabeça, brigas, cobranças, um saco.
Ficamos em silêncio por um momento.
Eu: Que domingo bem chato, não tem nada pra fazer - retomei a conversa.
Y: Nem me fale, ainda não saí do meu quarto, to até de pijama.
Eu: E vai ficar aí hoje?
Y: Acho que sim né? Não tem mais nada pra fazer.
Eu: Acho que vou tocar um pouco de guitarra... Sabe alguma música legal aí pra eu pegar?
Y: Porque eu não sabia que você toca?
Eu: Ué, pq você nunca me perguntou?
Y: Por que você nunca tocou pra mim?
Eu: Porque você nunca me pediu? rs.
Y: Então eu te peço agora, toca?
Eu: Como? Quer que eu vá voando prai tocar uma música?
Y: Você podia vir aqui pra casa, to sozinha...
Eu: Vem você aqui então, também to sozinha e abandonada nesse prédio gigante, a maioria já foi pra suas casas no interior.
Y: E você vai ficar por aí nas férias?
Eu: Pois é, não tenho pra onde ir...
Y: Isso deve ser chato né!?
Eu: O que?, estar sozinha e abandonada no mundo?
Y: Como assim sozinha, você tem suas amigas, sua faculdade.
Eu: é...
Y: Você tem a mim...
Meu coração pulou.
Eu: Então, você quer vir aqui pra minha humilde casa?
Y: Agora? Mas e a sua colega de quarto?
Eu: Ela foi pra casa dos pais dela.. To literalmente sozinha e abandonada nessas férias..
Y: ah, tadinha...
Eu: Isso quer dizer que você vem?
Y: Vou pensar no seu caso.
Eu: Sim?
Y: Me dá meia hora que eu chego aí.
Fiquei instantaneamente feliz. Fui correndo tomar um banho rápido. Demorei mais tempo do que previa para achar alguma roupa. Levei mais tempo do que o habitual para me arrumar. O que estava acontecendo comigo?

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