domingo, 14 de junho de 2009

Simone de Beauvoir

Ficamos dançando durante muito tempo, a primeira música acabou, veio a segunda, depois da terceira perdi as contas de quantas músicas dançamos. A nossa dança, sem dúvida tinha toda a malemolência que duas pessoas que querem ficar têm. Sua coxa encostava na minha, seu braço muitas vezes ficavam na altura dos meus ombros, quase me abraçando. Eu não dando por menos (cafajeste!), passava os meus pela sua cintura. Era excitante dançar com ela. Às vezes ela mordia o canto da boca, me olhava fixamente, estava prestes a atacar a qualquer hora. Aquilo era tortura.
Nossos rostos se encostavam várias vezes, muitas das vezes nossas bocas estavam a 2 cm de distância.
Eu tinha que dar um beijo nela, não era possível. Eu só tinha que tomar coragem. Estava sóbrea, totalmente sóbrea e centrada em todos os atos que eu tomava. Ela estava bêbada. O máximo que poderia acontecer e ela me dar um tapa na cara e dizer que não queria um beijo. Simples, aí explicaria para ela que eu também estava bêbada (ela nunca saberia que eu não estava), e ficava tudo bem. Era só tomar coragem, respirar fundo e pronto.
Mas achava sacanagem me aproveitar da menina, ainda mais que até onde eu sabia (e não queria) ela era hetero, apenas uma simpatizante que defendia a causa.
Continuamos dançando, e a cada música que acabava, mais intensamente nos encostávamos. Eu estava morrendo de tesão, e não tinha outra palavra que pudesse expressar tão bem aquilo que eu sentia. Fazia meses que eu não ficava com ninguém, que não fazia nada com uma mulher. Fazia meses, desde que eu a conheci, que Yumi me dava coisas só de olhar.
Eu me sentia um adolescente, com seus hormônios explodindo, querendo ver a vizinha tomar banho pela janela.
Yumi a três músicas, (sim eu havia contado, porque duas delas eu odiava) que dançava comigo com seus braços sobre meus ombros, abraçada em mim. Talvez ela confiasse em mim, por isso se deixava ser cuidada, dançava sem medo que eu tentasse alguma coisa, porque afinal éramos heteros (claro). Mas ela forçou o seu ventre contra o meu, e pensei que se isso fosse ser hetero, então eu também era. Meu corpo estremeceu, não aguentei, foda-se a quantidade de álcool que ela havia ingerido, foda-se se era minha amiga e se achava que eu não gostava de mulher, aquilo sim era uma tortura.
Cheguei a inclinar minha cabeça a ponto de sentir seu hálito na minha boca, mas algum (infeliz) me puxou pelo ombro.
Olhei para trás com meus olhos metralhando, era o Bruno, ex namorado de Yumi.
- Finalmente achei vocês - falou ele me dando um beijo na bochecha. Ele estava todo suado, nojento. Podia matá-lo ali mesmo só com meu olhar.
- Yumi atrás de mim apenas acenou com a mão para ele.
- Eu preciso muito falar com ela - disse enquanto tentava se aproximar de Yumi.
- Manu, diz pra ele que não temos mais nada - e começou a rir.
- Ela ta bêbada, não dá bola, conversa com ela outro dia - disse brava, e sem esperar a resposta, peguei-a pela mão e arrastei ela para outro lugar.
Subimos as escadas, com muita dificuldade. Por sorte havia um sofazinho desocupado. Sentei-a com cuidado, ela estava com os olhos semi fechados.
- Ta tudo bem Yumi? - perguntei passando minha mão vagarosamente pelo seu rosto, a fim de tirar os fios de cabelo que cobriam seus olhos.
- Sabe.. Acho que eu bebi de mais - falou enquanto colocava seu indicador sobre os lábios, como forma de silêncio para ela mesma.
- Mas você vai vomitar? - ah, desculpe, mas temos que ser práticas nessas horas.
- Não - fez uma cara estranha.
- Fica aqui quietinha que vou buscar uma água pra você, ta?
Ela mal conseguia falar, fez que sim com a cabeça, que logo estava escorada no encosto do sofá.
Demorei mais do que previa até conseguir um lugarzinho no meio daquele bar lotado para comprar uma água.
Chegando no sofá não encontrei Yumi, me apavorei. Olhei de um lado para o outro e não conseguia achá-la. Pensei em chamá-la pelo seu nome, mas com o som daquela altura nem eu mesma ouviria meus gritos.
Depois que dois meninos passaram pela minha frente, vi que Yumi estava conversando com um cara no sofá logo a frente. Ele já havia colocado seu braço em volta do seu pescoço, estava pronto para dar o bote. Falava coisas que pela cara de Yumi, não eram ouvidas por ela.
Sentei no sofá atrás de mim, e fiquei olhando aquela cena me martirizando porque raios eu havia deixado essa menina sozinha naquele estado.
Um casal de meninos sentou ao meu lado, e em poucos minutos estavam praticamente fazendo sexo.
Fiquei mais puta ainda, porque todo mundo faz tudo e eu fico aqui segurando uma merda de garrafinha de água pra uma menina que ta lá se pegando com outro! Sim, o cara estava forçando-a a beijá-lo. Ela não queria, pelo menos era isso que dava pra ver de onde eu tava. Ela tentava empurrá-lo para longe, mas o cara era muito mais forte do que ela. Também pudera, ela estava completamente bêbada. Não aguentei e fui em sua direção.
- Você quer sair daqui? - falei enraivecida.
- Sim - falou em meio aos beijos do homem.
Olhei para ele, cutucando-o com força.
- Ela tem que ir embora - e novamente não esperei respostas, peguei-a pela mão e só a soltei quando já estávamos fora do bar.
Meu coração batia acelerado, por alguns instantes vi que o rapaz estava vindo atrás da gente, puto da cara que a "piranha da amiga dela ta levando a menina embora".
Yumi ria e eu quase chorava de raiva.
- Que merda Yumi!!!
Mas ela continuava rindo, não percebia o que estava acontecendo.
- Me dá essa merda de chave do carro.
- Não sei onde ta - falou erguendo as mãos.
Enfiei minha mão em todos os bolsos de sua calça até achá-la.
- Entra no carro - falei ainda muito nervosa, soando muito grosseiro.
- Não me trata assim - fechando a cara.
- Yumi - falei me acalmando um pouco mais - Escuta bem, eu não vou - segurei-a pelos braços - eu não vou deixar a minha amiga ficar aqui nesse lugar mais nenhum minuto para ser comida (ah, deixa eu aumentar um pouco, pensei) por um idiota que ta se aproveitando de você, não vou.
- Você não é a minha dona - falou tentando pegar a chave de volta.
- Mas eu sou a sua amiga que só quer o seu bem (ai céus).
Na verdade eu estava me sentindo um pouco idiota, e se ela quisesse ficar com aquele cara, o que eu tinha a ver com isso?
- E eu como sua amiga, ordeno que você me devolva a chave do MEU carro por que eu fico com quem eu quiser - falou gritando alto de mais. Os seguranças do bar me olharam feio, mandei-os a merda em pensamento.
- Você vai dirigindo assim, bêbada?
- Eu não to bêbada - enrolando-se para terminar a frase.
Rimos juntas.
Abri a porta do carona - entrai aí - olhei-a nos olhos - Mi - fiz uma pausa estratégica - eu vou levar você bonitinha pra casa, vai.
Ela ficou me olhando por alguns segundos, pensei que iria me beijar. Queria que me beijasse, mas graças a Deus esse cara lá de cima olha por todo mundo.
- Eu acho que vou vom.. - e antes de concluir virou-se para o lado - valeu cara lá de cima - vomitando na roda do carro.
Segurei-a pelos braços. Os seguranças chegaram perto da gente.
- Tira essa menina daqui, não quero nenhum bêbado vomitando no bar que a gente cuida.
- Calçada é pública meu querido - falei emputecida - vai cuidar da sua vida que eu cuido da minha (criança).
Nisso algumas pessoas que saiam do bar pararam e ficaram nos olhando. O outro segurança o cutucou dizendo para não fazerem escândalo ali.
- Mocinha, apenas tire essa menina daqui, ok? - falou em tom mais amistoso.
- Se você me ajudasse a colocá-la no carro, ao invés de vir aqui me encher o saco, em dois toques a gente já tava bem longe, ou o senhor acha que eu to gostando de ficar aqui na frente? - explodi.
Ela não parava de colocar para fora todos aqueles litros de álcool que havia tomado.
Nos olhamos, por um segundo pensei que ele vinha me bater, mas em seguida ele reabriu a porta do carro e me ajudou a fazer com que Dani sentasse na poltrona.
- Desculpa moça, não quis ser grosseiro - me surpreendi.
- Tudo bem, eu também não quis ser grosseira, você já me conhece - disse para o segurança lendo seu nome do crachá - Manoel, eu venho sempre aqui e pretendo voltar. Então fica tranquilo que to tentando tirar ela daqui.
Ele sorriu. Não acreditei naquele ato de gentileza, ele pediu para o outro rapaz buscar uma garrafinha de água.
- Sabe menina, essa moça aí - apontou para Yumi que apagara na poltrona - vem aqui há muitos anos. Olhando agora de perto que a reconheci. Ela nem tinha dezoito quando queria entrar com sua carteira falsificada - disse rindo em tom nostálgico. Amanhã quando ela acordar, diz que o Manoel mandou melhoras.
- Eu só não sei pra onde levar essa menina agora desse jeito - pensei em voz alta.
- Nisso eu não posso ajudar vocês - falou entregando-me a garrafinha.
Entrei no carro nervosa. Havia combinado com Débora que hoje ela poderia levar o seu namorado para dormir lá, já que só voltaria no outro dia e eles sairiam de manhã cedo. Não podia aparecer por lá às 3 da manhã com uma menina bêbada vomitando por tudo.
Não sabia se os pais de Dani estavam em casa, mas seria extremamente embaraçoso chegar em sua casa com Yumi semi desmaiada, falando "boa noite tia, eu vim trazer sua filha bêbada".
Cheguei a cogitar a idéia de levá-la para a casa de Déia, talvez ela tivesse acordada há essa hora ainda, porém meu celular estava dentro da bolsa da Ma.
- Cacete - pensei alto novamente - nem avisei as meninas.
Mas já não podia mais voltar.
Vendo que uns meninos estranhos estavam se aproximando rapidamente em direção ao carro, engatei a primeira e comecei a andar.
Poderia levá-la em algum motel por aqui por perto. Gastaria um pouco com a hospedagem, mas pelo menos assim poderia dar um banho nela, fazer ela se reanimar para voltar para casa bem.
Sim, era isso que eu ia fazer (não pense em besteira).
Lembrava de ter ido em alguns com Luciana depois dessas festas, alguns mais em conta do último que ela e o Dé haviam ficado meses atrás.
Com muito esforço consegui acordar Dani e tirá-la do carro. Não queria que o porteiro percebesse que ela não estava bem e ainda pensasse coisas erradas.
Praticamente arrastei Yumi para o quarto.
Ela dizia repetidamente que não estava bem, que tudo rodava. Sempre quando eu tava mal, a única coisa que me fazia ter uma recuperação um pouco mais rápida, além de colocar para fora, coisa que ela já tinha feito até de mais, era tomar um banho gelado.
Até conseguir tirar a roupa de Yumi, com certeza já passavam das 4h.
Engraçado que durante esse tempo sempre tive curiosidade de vê-la assim, nua (cafajeste!). Mas hoje, naquele momento, só queria cuidar dela, a tratar com carinho e nunca mais deixar ninguém como aquele cara encostar nela.
Desisti de recolocar sua calça, depois de uma luta para secá-la com a toalha com uma mão e tentar mantê-la de pé com a outra, quando Dani deitou na cama e enfim parou de falar que o mundo girava.
Deitei do seu lado, esperando que a qualquer momento ela se levantaria falando alguma coisa ou colocando mais coisas para fora. Adormeci com meu braço sobre ela.

3 comentários:

Aline disse...

Oi. É a 1º vez q comento aqui, até pq conheci seu blog ontem. Mas tô gostando do conto viu. Essa Manu é cafajeste hein... só q a Mi tb é sem noção. Ou tem noção demais... sabe-se lá. Só não entendi o pq do título: Simone de Beauvoir? enfim... espero ansiosa pelo próximo cap. bjão

LeLe disse...

Nuss, q post, q poste logo o resto =]

xero

Anônimo disse...

*.*
muito bom.

=*
nana