terça-feira, 23 de junho de 2009

Violência gratuita, I

- Oi Déia - falei animada.
- Me busca aqui, nãotolegal - falou enrolada.
- Onde você ta? - perguntei preocupada.
- Nacasa da.. da...
- De quem?
- Não meu, não quero, to bem sai daqui.
- Déia?!
- Manuuuuuuuuuuuu me busca.
- Onde você ta? - já estava a essa altura com o coração a mil. Alguma coisa de errado estava acontecendo. A voz de Déia estava muito pastosa de bebida. Tinha um tom de medo também.
- To aqui na casa da.. porra como é seu nome mesmo? - ouvi alguma outra voz falar alguma coisa indecifrável.
- Onde?
- MALUU já falei!!
- Onde ela mora?
- Aqui, você viraadireita depoisvira lá também.. Não meu, não quero!!!!
- O que ta acontecendo Déia? Fala comigo.
- Me tira daqui!!!!!!!! - gritou. Ouvi soluços. Fiquei apavorada. Antes que pudesse falar mais alguma coisa ela havia desligado.
Pergunteii se Yumi tinha saldo, mas ela também não tinha. Tentei desesperadamente pensar em alguma coisa já que tentei ligar a cobrar para Déia e caia na caixa de mensagem.
- O que aconteceu Manu, parece que você viu um fantasma, ficou pálida.
- Aconteceu alguma coisa com a Déia, ela ta me pedindo pra buscá-la em algum lugar. Não sei onde a Malu mora.
- Quem é Malu?
- É uma menina aí que ficava com a Rê.
Rê, ela provavelmente tinha créditos no celular. Liguei mas caiu na caixa de mensagem.
Procurei nos meus contatos do celular se tinha o telefone da Fernanda, provavelmente ela saberia onde a Malu morava. Ela também não tinha créditos, pois tentei ligar a cobrar e deu serviço indisponível.
Já estava caminhando de um lado para o outro. Não conseguia pensar em nada.
- Manu, em primeiro lugar se acalma. Não adianta você ficar assim, não vai resolver. Entra no MSN e vê se não tem ninguém conhecido.
- Você é um anjo - falei sorrindo aliviada. Não havia pensado nisso ainda. Na verdade não havia pensado em nada, estava muito preocupada.
Procurei na lista de contatos. Poucas pessoas estavam online. Ninguém que pudesse ter o endereço da Malu.
- E agora? - perguntei para Yumi me sentindo extremamente impotente.
Subiu a plaquinha do MSN de uma menina que era colega da Déia. Perguntei se ela sabia onde a Malu morava, ela disse que era em uma república que ficava na zona sul. Procuramos todas as Repúblicas que poderiam existir na zona sul. Achamos e ela confirmou que era aquela.
- Como a gente vai até lá? Não tenho grana pra táxi! - falei desanimada e com o coração batendo muito forte.
- Daqui até minha casa deve da uns 40 reais, é bandeira dois a essa hora - falou Yumi - de lá a gente pega o carro e vai buscá-la.
Vai sair muito caro ir até lá de táxi e voltar.
Fui procurar na minha bolsa. Não tinha uma mísera nota de dez na carteira.
- Você tem esse dinheiro? Depois eu te devolvo sem falta.
- Aqui não, mas em casa eu tenho.
- Ain, mas eu não queria meter você nessa confusão, você mal conhece ela - falei parando para pensar por uns instantes.
- Mas eu conheço você - sorriu carinhosamente.
- Então vamos?!
Descemos as escadas rapidamente. Aquela hora quase não tinha táxi. Caminhamos quase correndo durante 10 minutos até conseguir parar um.
Conseguimos pexinxar com o taxista e ele fez por 30 reais redondo, nem ligou o taxímetro.
Em 25 minutos já estávamos dentro do carro de Yumi indo para a zona sul. Era longe, dava cerca de 30 minutos. Olhamos por cima o mapa para saber como chegar lá.
Já andávamos a 40 minutos e não conseguíamos encontrar a tal República.
- Estamos perdidas né? - falei com os olhos cheios de água. Nesse meio tempo Déia havia me ligado duas vezes, a última chorando.
- Calma Manu, disse ela colocando sua mão sobre meu ombro, - vai da tudo certo. Prometo. Desfaz essa cara de triste e pergunta pro cara alí naquele boteco se ele sabe onde fica essa merda de rua.
Perguntei pra um tiozinho que estava sentado numa mesinha que ficava na rua de um barzinho muito pequeno.
Ele tava bêbado. Quando terminou de explicar onde ficava, saimos andando um pouco devagar.
Yumi soltou uma gargalhada.
- Você acha que a gente deve seguir este caro senhor bêbado? - perguntou ainda em meio de riso.
- Não sei - tentava segurar um choro nervoso.
- Hei Manu - virou-se para mim. Parou o carro deixando-o ligado, passou sua mão sobre meu rosto - vai da tudo certo, confia em mim. Se eu não me engano deve ter algum posto aqui por perto, a gente para lá, compra uma água, por que provavelmente a Déia não deve ter bebido nada não-alcóolico né?!
Olhei-a ainda segurando o choro.
- Vem cá - se aproximou de mim e me deu um beijo na bochecha, me abraçando de lado. Me deu mais um beijo na bochecha, mais demorado que o outro. Tirou sua boca de minha bochecha vagarozamente, parando seu rosto de frente pro meu. Meu coração parou por alguns instantes e voltou a bater muito forte. Seus olhos estavam sobre os meus. Os meus foram descendo em direção a sua boca que estava muito próxima da minha. Me inclinei um pouco. Estávamos muito próximas. Passei minha mão direita sobre seu rosto. Ela fechou os olhos. Abriu levemente a boca. Aproximei minha boca da dela, senti sua respiração nos meus lábios. Já havia perdido o controle sobre meu coração. Sua boca estava talvez a 3 centímetros da minha e confessava um sorriso muito singelo.
Ouvi um estrondo no vidro. Pulei assustada. Havia um cara muito mal encarado nos olhando pelo vidro. Fazia sinal para que abríssemos o vidro apontando alguma coisa para Yumi por baixo do moletom.
Aconteceu tudo muito rápido, Yumi se desvencilhou de mim, acelerou cantando pneu, saímos em disparada, virou na primeira a direita, rapidamente o ponteiro marcava 55, 70, 85km/h, o semáfaro estava vermelho, passamos sem olhar para os lados, podíamos ter morrido, meu coração saindo pela boca, ainda andando muito rápido, avistamos um posto de gasolina aberto.
Quando enfim Yumi puxou o freio de mão desabou a chorar.

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