sábado, 20 de junho de 2009

Uma noite em branco (completa)

- Conversando é? - falou Yumi desconfiada.
- É conversando - olhei para a rua, não passava nenhum carro. Talvez estivessem todos já nas festas ou em casa dormindo. Era uma rua relativamente perto de uma avenida principal, mas era feita de paralelepípedo. Talvez fosse por isso que fazia um silêncio quase ensurdecedor. Estava acostumada com o barulho de carro 24 horas por dia, era estranho não ouvir uma buzina se quer.
- Sobre o que, posso saber? - falou me abraçando por trás. Escorou sua cabeça ao lado da minha. Fiquei nervosa, o que ela tava fazendo? Pra que ficar tão perto? A essa altura provavelmente ela sabia que eu sentia alguma coisa por ela, não era possível. Não que eu gostasse dela, afinal ela era minha amiga, mas coisas mais físicas, pensei perturbada com o seu perfume e sua respiração tão perto da minha.
- Ah, sobre a vida, essas coisas de bêbados - deixei escapar um riso estranho.
- Hmm, sei. - Suas mãos estavam sobre minha barriga, conforme me mexia nossa pele se encostava, me causava calafrios.
- Pronta pra nossa viagem então? - tentei puxar assunto.
- É, relativamente pronta - suspirou pertinho do meu ouvido. Estava enlouquecendo com tamanha aproximação.
- Não sei, mas ficar assim é bom - me abraçou mais forte - ficar sem pensar em nada, sentindo esse friozinho da madrugada. É bom esse silêncio né?!
- Engraçado que tava pensando nisso agora mesmo.. Chega até a ser estranho...
- É estranho mas é bom - se aconchegou mais perto de mim.
Mas que diabos essa menina tava fazendo? Pra que ficar tão abraçada em mim? Não, não era possível uma coisa dessas...
Ficamos assim até a escuridão do céu dar lugar à um azul marinho. Começara a aparecer alguns feixes de sol fazendo com que o céu assumisse uma cor alaranjada quando enfim ela voltou a falar.
- Acho que devemos ir né? Acho que o pessoal deve ter apagado lá na sala.
Ah, suspirei em pensamento, foi tão bom ficar aquele tempo sem falar absolutamente nada, só estando perto de Yumi. Senti o vento gelado bater nas minhas costas quando ela entrou no quarto e saiu de perto de mim. Estava tão confortável daquele jeito. Fiquei mais algum tempo olhando o céu ir mudando de cor conforme o tempo passava.
- Espero que você tenha ficado com ela - assustei-me com uma voz vindo atrás de mim. Era Renata.
Apenas sorri - aprendi com você mesma que existem coisas simples que podem ser mais importantes do que grandes acontecimentos.
E sai. Engraçado que enquanto estávamos abraçadas ali na sacada não senti um pingo de sono, mas foi eu ficar sozinha que meus olhos enfim sentiram o peso de uma noite em claro. Voltamos para casa todos em silêncio. Rê, Déia e eu de ônibus, que mesmo estando cedíssimo já estava lotado de pessoas. Várias voltando de festas talvez.
Cheguei em casa e só lembro de ter tirado meus tênis.

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