quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pré-praia

Já estava dormindo quando meu telefone me acordou. Com os olhos pesados de sono, a luz do celular me impediu de ver quem estava ligando, só pude reconhecer após ouvir o oi vindo do outro lado.
- Oi - respondi meio atordoada ainda de sono.
- Já ta chegando?
- Hãn?
- A gente não ia sair hoje?
- Hoje não, to muito cansada... - falei tentando pensar em outra desculpa.
- Poxa Manu, a gente ia lá na casa do Maurício, lembra? Ele tinha nos chamado...
Porque ela queria que eu fosse? Que saco, pensei suspirando alto.
- O que foi Manu?
- Nada - falei me calando.
Fez-se um silêncio que durou segundos que pareceram uma eternidade.
- Você não ia levar suas amigas, a Déia e a como que é o nome dela mesmo?
- Mas a gente.. - é, tinha me esquecido disso. - É que eu acabei capotando enquanto lia, que horas são?
- Já são quase meia noite Manu, você já tinha que estar aqui em casa pra irmos juntas.
Eu não estava muito a fim de sair junto com ela. Não sei, mas me irritava ela ficar falando que até que enfim iria conhecer essa Jéssica. Que fosse ciúmes, eu tenho direito de ter ciúmes das minhas amigas, não?! Ou agora ciúmes só pode ser relacionado com amantes? (drama, drama, drama)
- Ta Yumi, vo tomar um banho e vou.. - falei já me levantando da cama e esfregando os olhos.
- Ta, tchau - disse com uma voz de nítida insatisfação.
Ela queria que eu pulasse dizendo "Oba, vamos ficar escutando você falando da Jéssica a noite toda"? Será que era isso que ela queria? Pois ia ficar querendo. Mais uma vez anotei mentalmente, parar de ser criança.
Quando desliguei o telefone, Déia me mandou uma mensagem dizendo que elas estavam na frente da república.
Elas subiram e em menos de 15 minutos já estávamos descendo a ruazinha que dava para a estação de trem.
- Bem que essa sua amiga podia nos dar uma carona né?! - disse Déia, enquanto colocava sua cabeça sobre meu ombro - To tão cansada, aquela filha da mãe da professora fez a gente apresentar um trabalho mega gigante no último dia de aula, vê se eu posso com uma coisa dessas??
Ficamos esperando o trem com Déia reclamando de sua professora megera e Rê me enchendo o saco porque eu não ficava com a Yumi.
Chegamos na casa de Yumi a 1h da madrugada, após pegar mais um ônibus que demorou um tempo considerável para aparecer. Carol e Má estavam na frente do prédio nos esperando.
- Oi meninas, enfim vou conhecer a Déia e a Rê que você tanto fala Manu - disse Carol abrindo um largo sorriso, enquanto Má fechava sua cara.
Apresentei rapidamente as meninas (Má ainda de cara fechada), e não me contive perguntando onde estava a Dani.
- Ela tava discutindo com a mãe dela, a gente resolveu que seria melhor esperar vocês aqui embaixo - Carol deu com os ombros.
Conversamos uma ou outra coisa, Carol descobrira que Déia estudava com seu primo (também gay). Após isso ficamos sem assunto, fez-se um silêncio muito constrangedor. Ou talvez só eu tivesse percebido isso. Má puxara Carol para um lado e pelos seus gestos parecia xingar Carol por algum motivo, provavelmente ficara com ciúmes da Déia, sabe-se lá porque.
Já era quase duas horas da manhã quando Yumi apareceu no portão.
- Aquela fdp não vai me emprestar o carro! - falou bufando passando por mim e pelas meninas indo em direção a um poste, virando-se novamente para nós, escorando-se nele - A gente vai ter que ir de ônibus ou rachar um táxi, que saco.
- Não fica assim menina - falou Carol - ninguém aqui é menina de apartamento que não possa pegar um ônibus - Má fechara a cara mais ainda.
Fiquei pensando que Má tinha cara de nunca ter pegado um ônibus na vida.
Após novo momento de silêncio, foi decidido que Yumi, Carol (depois de muito brigar com Má que insistia a sua companhia), Má e Déia iriam de táxi, e que eu e a Rê iríamos de ônibus. Fomos todas até o terminal de ônibus que ficava duas quadras abaixo da casa de Yumi.
Chegamos depois das 3h na casa de Maurício. Demorou cerca de 15 minutos para abrirem a porta para nós.
Yumi que abriu.
- Nossa tava preocupada com vocês - disse enquanto me dava um abraço forte e demorado. Seu cheiro me dava borboletas na barriga.
Dando apenas um aceno com a cabeça para Rê, fez sinal para entrarmos.
Havia poucas pessoas, Paulinho e Leandro, Maurício e mais um rapaz loiro que nunca tinha visto, Cássia e o namorado (esta Cássia era uma amiga dos meninos), uma menina linda de cabelos muito negros, e olhos que pareciam ser duas jabuticabas que havia reconhecido da faculdade, se chamava Adriana, Thiago que parecia ser um modelo, alto, esguio, tinha um Black Power, e mais uma menina que eu não conhecia loira de cabelos encaracolados que parecia cochilar no sofá.
- Luiz, Cássia, Juliano, Adriana, Thiago e Michele que capotou faz alguns minutos - disse Paulinho nos apresentando para todos - esse é o pessoal que vai pra praia com a gente.
- A Michele é praticamente minha irmã - disse Carol cutucando-a para ver se ela acordava mas vendo que seu esforço só serviu para fazê-la resmungar algo inteligível, apenas sorriu.
Tivemos uma conversa amena sobre como iríamos para praia. Maurício e Yumi iriam de carro, como iriam 12 pessoas (suspeitei que Maurício e seu namorado haviam terminado, pois ele não estava presente e nem ele havia citado seu nome), duas pessoas precisariam ir de ônibus, Renata e eu apenas nos olhamos, ela concordou com a cabeça.
- Então eu e a Rê vamos - falei visto que ninguém havia se manifestado.
- Não, vocês vêm comigo - disse Yumi.
Se iniciou um leve burburinho entre todos.
- Não, sério - falei mais alto para pararem de falar - eu e a Rê vamos, não tem problema.
- É não tem problema - disse Rê tentando fazer com que nos ouvissem.
Ouvi Má dizendo que não iria por hipótese alguma de ônibus, que a gente que se virasse, afinal ela era a namorada da dona da casa.
Após terminarmos de combinar como faríamos, fui para a sacada do quarto de Maurício. Sua casa era enorme, ainda morava com os país, mas eles quase nunca estavam em casa. Seu quarto era maior do que a casa da tia Med, calculei, tinha muitos posters pelas paredes, um violão atirado num canto, muitas roupas jogadas pelo chão, a cama ainda estava desarrumada. Me escorei no parapeito da sacada e fiquei sentindo o ventinho gelado da madrugada no meu rosto. Senti alguém passar por trás de mim.

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