sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quem avisa amigo (colorido) é.

- Cara, tá na cara que a Yumi é lésbica - falou Rê rindo um pouco alto de mais.
- Porque você tá me falando isso?
- Ué, porque você diz que não sabe se ela é ou não, porque você não chega nela, fica aí se amarrando, sem ficar com ninguém há séculos, reclamando da vida.. - senti um leve cheiro de álcool vindo dela enquanto falava.
- Mas não importa o que ela é ou deixa de ser, ela é minha amiga e pronto.
- Não é possível que você esteja tão amarrada nela a ponto de não perceber as outras pessoas a sua volta - falou ignorando o que eu havia dito.
- Que outras pessoas sua louca? - falei rindo.
- Todas as outras pessoas que não se chamam Yumi - falou ela chegando mais perto - A gente sempre sai, sempre tem meninas te dando bola e você simplesmente finge que não vê.
Não sabia o que dizer.
- Você é mulher, humana, precisa de pessoas físicas também - falou segurando no meu braço. - Sério gata, você precisa sair dessa, ou vai e fala de uma vez o que você acha que deve falar pra essa menina, ou desencana. E - falou interrompendo minha menção de abrir a boca - nem venha me dizer pela milésima vez que você ta de boa assim, sem ficar com ninguém. Você ta perdendo tempo achando coisas que não são. Eu sei que você é uma menina decidida, pude perceber isso em tantas coisas, porque com essa Yumi você também não é? O que realmente que te impede de falar com ela?
- Não sei - falei me assustando um pouco com o seu tom de voz, era sério de mais. Talvez porque estivesse meio bêbada.
- Olha - disse passando a mão pelo meu rosto - você é linda de mais pra ficar na barra da saia de uma menina que nem sabe que você gosta dela...
- Mas eu não gost... - e antes de terminar a frase ela se aproximou da minha boca, olhou nos meus olhos.
- Então não tem problema se eu te der um beijo? - falou sorrindo, ainda muito próxima de mim, senti sua respiração na minha boca.
O que tava acontecendo com ela? Provavelmente era a bebida, pensei.
- Rêzinha - falei tentando me desvencilhar de seus braços.
- Ah Manu, não quero ouvir essas besteiras que você fala.
E antes que pudesse fazer qualquer coisa me beijou, ali mesmo. Tirando o gosto de cigarro, que confesso não gostar, foi um beijo rápido, mas intenso. Fazia tempo que eu não sentia ninguém assim tão próximo de mim. Sua mão da minha cintura passou rapidamente para minha bunda, e a outra me puxava forte contra seu corpo.
- Ai Manu - disse após alguns segundos - desculpa, acho que to meio bêbada - falou sem soltar suas mãos de mim.
Eu sorri, não tinha porque não ficar com ela. Nunca tinha visto Rê por esse ângulo, sempre a via como uma amiga muito fechada para todas as meninas com quem ficava, que nunca abria seu coração para ninguém. Me sentia feliz de poder compartilhas algumas coisas com ela, e de começar, assim como Déia, uma boa amizade. Ela era uma molecona que no fundo escondia uma mulher com vergonha de sair para o mundo.
Nunca achei que poderia beijá-la. Talvez isso já tivesse passado pela minha cabeça, uma ou duas vezes, talvez só porque ela fosse muito bonita e acima disso, uma das pessoas mais inteligentes que já havia conhecido. Mas uma inteligência que não se contabiliza em notas ou conceitos de uma prova. Uma inteligência abrangente, um saber que não se ensina. Ela via o mundo numa simplicidade incrível, e estar ao seu lado era aprender a enxergar todas as coisas que sempre estiveram nos rondando mas que nunca percebemos. Renata era uma menina fácil de se lidar, não para relacionamentos, mas tendo-a como amiga era difícil não saber agradá-la. Eu a via quase como um menino, um amigo do peito, aqueles que você pode ligar às 4h da manhã e ficar chorando ao telefone que ele irá te entender, falar coisas positivas e se precisar, irá até a sua casa emprestar o seu ombro amigo para horas de lamentação.
Déia eu via como uma amiga completa, e Rê como uma parceira pra fazer as coisas. Não falava tanto com ela quanto falava com Déia, mas mesmo assim parecia que ficava subentendido nossa amizade. Por isso achei estranho ela vir me dar um beijo. Tudo isso pensei enquanto sorria, ela apenas me fitava tentando entender o significado do meu sorriso.
- Sério, desculpa - mas ainda estava com suas mãos em mim.
- Não tem o que desculpar - falei sorrindo passando minhas mãos pelo seu rosto - acontece, coisa de bêbado - tentei brincar.
- Mas eu gostei - riu - e agora?
Olhei para os lados, não estava esperando por isso. Senti uma leve excitação e um friozinho na barriga.
Ficamos novamente, não sei por quanto tempo até sermos interrompidas por um barulho que vinha das escadas. Alguém estava subindo. Nos desvencilhamos rapidamente como se estivéssemos fazendo algo proibido.
- Vocês sumiram meninas, ficamos preocupadas - falou Yumi aparecendo no meio da escuridão que estava o quarto - tavam fumando é? - sorriu.
- Não - disse Rê já saindo da sacada - a gente tava conversando. Manu, lembra do que eu te falei - virou as costas e sumiu.

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