quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aos poucos

- Déia - tentava parar de chorar desde que havia entrado no ônibus, mas não conseguia. Não sabia como ainda conseguia ter lágrimas.
- O que aconteceu Manu? - respondeu preocupada.
- Eu... - tentava falar, mas o choro e os soluços não deixavam - eu não to bem...
- Onde você ta?
- Ro-do-viária... - chorando.
- Eu vou aí, me espera.
- Vem rápido.
Me surpreendi com a velocidade que Déia havia aparecido na minha frente, em menos de vinte minutos lá estava aquela menina tão linda, vindo em minha direção com os braços abertos. Quando senti seu abraço, simplesmente desabei neles. Ela me apertava forte, me mantendo em pé. Não falou absolutamente nada, apenas me segurava, mal sabia ela o quanto aquilo estava me fazendo bem. Sentia que ela no fundo entendia o que estava acontecendo comigo, e talvez por isso que ela me segurava com tanta força, não deixando que eu caísse. Que caísse de tristeza, aquela tristeza que ia me consumindo, me fazendo sangrar por dentro, aquele aperto tão forte que quase me impossibilitava de respirar. Ficamos abraçadas durante um tempo que eu não faço nem ideia de quanto. Ela calara-se com o meu choro. Fazia com que aos poucos minha respiração voltasse ao normal, e seguisse a sua. Quando finalmente a soltei, já havia parado de chorar. Era surpreendente como ela conseguira me acalmar sem dizer uma única palavra.
- Não - colocou seu dedo na minha boca, quando fiz menção de falar - não precisa me falar nada agora Manu, só se você quiser, eu to com você.
Fiquei em silêncio. Aquele aperto que me consumia não deixava sair um único som de mim. Havia perdido a vontade das coisas, tudo ficara cinza e triste. Delicadamente ela passara seus dedos limpando minhas lágrimas do meu rosto.
Respirei fundo, tentando exalar com força, pra ver se conseguia mandar aquela tristeza embora. Enfim consegui abrir a boca para falar.
- Como você chegou aqui tão rápido? - falei soltando um sorriso quase morto.
Déia apontou para sua direita. Olhei e custei a acreditar, era Yumi parada me olhando. Desde que Déia chegara não havia visto que Yumi estava ali. Ela me olhava com ternura, uma ternura que nunca havia visto em seus olhos. Ficara parada me olhando, esperando talvez que eu desse algum sinal positivo ou negativo, mas que dissesse alguma coisa. Fazia um bom tempo que a gente não conversava, desde aquele episódio fatídico da praia.
Mas eu não conseguia fazer nada, me sentia imóvel, petrificada pela minha tristeza. Tentei respirar mais uma vez bem fundo, mais fundo do que a outra vez. Apertei os lábios, dando um sorriso para Yumi. Imediatamente ela viera em minha direção me dando um abraço com tanta vontade que cheguei a ir para trás.
Senti minha alma se enchendo aos pouquinhos. Senti meu corpo voltando a se esquentar aos poucos. O seu cheiro me acalmava. Seu abraço me fazia sentir segurança. Fechei meus olhos e por alguns instantes não senti aquele aperto que estava sentindo no coração. Durante aquele abraço fiquei imune a tudo, menos aquela tristeza que me perseguia.
Era bom sentir aquele abraço tão apertado, tão cheio de coisas. Coisas boas, cheio de cores, fazendo com que aos poucos aquela angústia fosse passando, indo pra longe, voltando junto com o ônibus que ia para aquela cidadezinha que eu nunca mais queria ver.
Yumi passava sua mão direita pelos meus cabelos. Ainda com seus braços em volta do meu pescoço, me olhou durante algum tempo. Seus olhos estavam marejados de lágrimas.
- Nunca mais me assusta desse jeito - voltando a me abraçar muito forte, como se tivesse medo que eu sumisse dali por algum passe de mágica.
Repousei minha cabeça colada no seu pescoço. Sentia seu cheirinho, aquilo era bom. Me fazia esquecer daquele encontro trágico com Patrícia. Daquela nossa despedida tão banal. Aquela despedida com seu definitivo fim, pelo menos era assim que eu via, ou assim que eu esperava.
Fechei meus olhos e consegui naquele tempo em que ficamos abraçadas (sem saber do quanto) simplesmente não pensar em nada. Quando abri meus olhos vi que Déia não estava mais ali ao nosso lado, espertinha ela, pensei conseguindo dar meu primeiro sorriso de verdade.
Yumi soltara-se de mim, passando suas mãos sobre meu rosto. Eu podia estar louca, mas eu vi nos seus olhos algo maior do que ternura.
Ela apenas me fitava. E eu apenas retribuía. Não estava em condições de pedir desculpas por tudo que acontecera entre a gente, ou dizer o que havia acontecido comigo nessa viagem, ou dizer qualquer coisa, só queria ficar quieta, no mais puro silêncio. Talvez ela me conhecesse, talvez ela me entendesse sem ao menos eu precisar falar.
- Manu, vem - segurou minha mão, e me levou até seu carro - eu vou cuidar de você.

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