sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mais uma vez afim

- Mas a gente precisa mesmo ir?
- Claro né Manu, é o aniversário dele!
- Mas... queria ficar com você.. - tentei puxá-la inutilmente.
- Pára, Manu - ela não conseguia desfazer seu sorriso.
- Ok, ok. Mas é amanhã, não sei por que você não vem e deita aqui ao meu ladinho - bati com a mão no colchão, acenando com a cabeça.
Ela sorriu.
Já estávamos a duas horas naquele impasse. Quando a coisa ia, aquela coisa que não acontecia, mas que a todo momento voltava e pedia para que acontecesse, alguém chegava, ou acontecia outra coisa, mas acontecia alguma coisa. Várias coisas.
- Não! Você vai ficar bem longe de mim, precisamos estudar Manu.
- Vem estudar aqui ao meu ladinho, vem? - tentei novamente pegar sua mão, mas ela foi mais rápida e se desvencilhou de mim mais uma vez.
- Não Manu - no canto de sua boca havia um sorriso tímido. - Nós precisamos estudar meu amor, agora fique quieta aí, matemática.
- Eu não quero saber de matemática, quero saber de você.
Me levantei da cama e fui em sua direção decidida. Passei meus braços sobre os seus que tentavam inutilmente me empurrar para longe, ela rapidamente se deixou levar pelo meu abraço e meus beijos. Empurrei-a contra a cama, seus joelhos se dobraram, caímos deitando. Ela tentava me empurrar com suas mãos, apesar do seu sorriso inevitável entre nossos beijos. Segurei seus braços acima de sua cabeça, o peso do meu corpo sobre nossas mãos a imobilizava. Ela sorriu vencida me olhando nos olhos.
- O que você quer Manuela? - seus olhos eram cúmplices da nossa vontade mútua.
Olhei para sua boca, seus lábios tão ali para mim, seu pescoço que descendo chegavam à sua blusa, seu decote, seu tudo. Agora era eu que estava vencida pela sua beleza e pela minha vontade. Ela sorriu de volta, se entregando para mim. Mas nada disso foi dito, nada disso poderia se quer ser dito. Mas tudo, tudo mesmo, era sentido. No seu sentido mais puro que poderia ser. Mas como sempre era, também era impossível que qualquer coisa acontecesse. Pois foi assim que não aconteceu então, mais uma vez para a tristeza e irritação de ambas. Ela saiu pelo lado da cama, me olhando com um ar de raiva, como se eu tivesse culpa que sua mãe batia vorazmente a porta.
- O que vocês estavam fazendo meninas? - perguntou nos olhando atenta.
- Estudando mãe, como sempre estudando - mas Patrícia não ousava a olhar para sua mãe, ela voltava a sentar na sua mesinha, onde lá estavam pousados vários livros de matemática.
- Hmm - desconfiou. Não sei precisamente do que, pois ela não poderia saber que éramos namoradas, ou sei lá-o-que. Que tínhamos enfim alguma coisa, pois para ela... Ah sim, o André.
- Tia, amanhã é aniversário do André - falei tentando desfazer aquele olhar severo de Dona Amélia sobre nós. Instantaneamente ela abrira um sorriso satisfeito.
- Aé Patizinha (era assim que ela a chamava quando queria alguma coisa), você nem me contou que seu namoradinho estava de aniversário.
- Mãe, ele não... - mas Patrícia se calara. Era melhor deixar que sua mãe continuasse achando que eles estavam juntos, pelo menos assim não corria o risco dela descobrir qualquer coisa sobre nós. Vi que seus olhos estavam tristes, era ruim negar para sua mãe, a pessoa mais importante da sua vida, tudo que tínhamos. Era triste negar o que tínhamos, uma das coisas mais importantes que existia na nossa vida, para a pessoa mais importante da sua vida. Era triste no fim. E era irremediável por enquanto. Então que André fosse seu namorado, pois seria pior se Dona Amélia descobrisse qualquer coisa, (falsa) puritana do jeito que era, religiosa do jeito que era, não, sua filha não poderia ser por hipótese alguma lésbica. Ou os tais nomes feios que ela falava quando surgia esse assunto na mesa, ou na sala olhando televisão.
- Você vai ir né?!
- Claro mãe - falou com um sorriso chocho.
- Que bom minha filha, e você nem tem uma roupa bonita para ir, o que os pais dele vão pensar?
- Vão pensar que eu sou assim e que não tenho porque ficar me enfeitando para estar junto dele - ela me lançou um olhar baixo. Via essa sua tristeza, e essa tristeza me deixava triste. Não gostava de vê-la assim, tendo que inventar histórias em cima de histórias para esconder nosso relacionamento. Esconder. Me sentia como uma fugitiva, como se tivesse cometido o pior erro que alguém poderia cometer. Esse crime que era amar. Então nos escondíamos atrás de um cara, o André. O cara mais gay que a gente já havia conhecido. Mas que fosse ele o seu namorado. E era isso que Amélia acreditava. Era isso que ela queria, era isso que a gente então confirmava.

Um comentário:

Unknown disse...

maiiiis, sempre maiiiis desse vício.