quarta-feira, 1 de julho de 2009

Na verdade...

- O que vai ter de janta hoje? To morrendo de fome - falei entrando no quarto, depois de 20 minutos tentando guardar as compras na geladeira. Tinha mais bebida do que comida, precisei deixar as cervejas nos lugares mais estratégicos, antes de colocar o resto das comidas.
Ninguém respondeu, já estava escuro dentro do quarto, mas percebi que Renata dormia na cama de baixo, Déia estava deitada na de cima e Yumi no colchão de casal quase em diagonal ocupando todo o espaço, no chão.
- Chega pra lá - disse, mas talvez Yumi também estivesse dormindo. Aguardei alguns instantes, mas como não houve resposta, deitei no único espacinho que tinha, porém minhas pernas ficaram por cima das delas. Fiz isso para ver se ela acordava. Mas continuou imóvel.
Fiquei impaciente. Ninguém acordava com minhas tentativas de tosse, espirro, suspiros, nem me mexendo na cama Yumi acordava. Continuavam todas em silêncio, o mais pleno silêncio que poderia existir e que fazia tempo que eu não "ouvia". Havia barulho de grilos vindos da rua, esse era o único ruído que existia. A praia não era muito movimentada, talvez por isso eu estranhava tanto que não conseguia ouvir barulhos de carro, já acostumada em viver na capital e em uma das avenidas mais movimentadas da cidade.
Estava de bruços, quando decidi pela quinta ou talvez sexta vez, me virar de barriga para cima.
- Sério que você se mexe tanto assim quando vai dormir? - falou a voz de Yumi ao meu lado.
Cheguei a levar um susto de um barulho que não fosse dos grilos.
- Não - falei não contendo meu sorriso, enfim alguém tinha acordado. Que então esse alguém fosse Yumi - é que to sem sono.
Senti que ela virara-se para mim.
- Mas eu tava com sono, só que você não parou de se mexer desde quando entrou nesse quarto.
- Então você tava acordada e me deixou falando sozinha? - virei para ela.
Vi ela revirar os seus olhinhos puxados. Seus cabelos cairam sobre seu rosto, deixando-a linda.
- Eu queria dormir, to cansada. Mas você não deixa. Bem que você podia me fazer uma massagem.
Senti um leve frio na barriga - já que você não está disposta a deixar ninguém dormir - falou num tom de braveza, porém brincando.
- Não acredito que você veio aqui pra dormir Yumi.
- O que você quer fazer aqui? Não tem nada mais pra fazer do que dormir.
Ah! Como tem coisas que a gente poderia fazer, pensei.
- Claro que tem coisas pra fazer, você que é uma senhora ansiã que quer ficar dormindo - falei empurrando-a gentilmente - acorda menina, vamos fazer alguma coisa.
Ela se inclinou um pouco para mim.
- Quer fazer alguma coisa?
- Sim - meu braço ainda estava sobre o seu. Sentia sua respiração erguer e abaixar minha mão conforme enxia seus pulmões de ar e soltava.
- Então me faça uma massagem - riu-se.
Senti que Renata se mexera bruscamente na cama. Talvez ela estivesse ouvindo tudo, ficaria muito chato eu aceitar fazer massagem em Yumi, mesmo que essa idéia me parecesse extremanente atraente.
Fiquei em silêncio olhando para Yumi. Era incrível que depois de acordar seus olhinhos ficavam menores do que já eram, como se isso fosse possível. Conseguia enxergar pelo fino raio da luz acesa que vinha do corredor e entrava no quarto, que ela tinha um leve sorriso nos lábios. Ia ser uma tortura dormir ao seu lado e não poder fazer nada pensei com meu coração já batento mais forte.
- Sério - falou Yumi deitando-se de bruço. Seu ombro ficou um pouco por cima do meu. Colocou seu braço esquerdo por cima de mim, tateando até encontrar minha mão direita. Durante esse caminho, sua mão encostou na minha barriga levantando um pouco da minha blusa, senti sua pele na minha, me arrepiei com aquela estranha sensação de prazer. Puxou minha mão até suas costas - Aqui ta doendo muito, não sei porque - falou pousando minha mão um pouco acima de sua bunda. Por um leve momento encostei no cós de sua calça, pensamentos impuros (cafajeste!).
Fiquei algum tempo que não faço a menor idéia de quanto, alí naquela situação tremendamente prazerosa, encostar na sua pele nua estava me matando por não poder seguir adiante, arrancar aquela blusa, toda sua roupa. Yumi fez um barulhinho de satisfação, quando apertei com um pouco mais de força. Renata levantou da cama bufando, saiu deixando a porta aberta. A luz que entrou no quarto me cegou por alguns segundos. Quando me habituei com a luminosidade olhei para Yumi, seus olhos estavam postos em mim. Me olhava sorrindo apenas com os lábios.
Déia saiu do quarto nos deixando sozinhas, ao sair fechou a porta por completo fazendo novamente meus olhos ficarem momentaneamente cegos. Sim, Déia havia feito de propósito para que eu pudesse ficar sozinha com Yumi, ela sabia que eu tinha sei lá o que por Dani, senti que ela estava tentando me dizer com aquele fechar de porta, algo como "vá em frente sua idiota, pare de perder tempo, to até saindo do quarto para você não ter mais desculpas".
Quando enfim consegui enxergar um pouco, percebi que ela ainda me olhava. Não sabia o que fazer, queria beijá-la, mandar para o inferno meus temores em falar tudo para ela. Definitivamente queria beijá-la. Lembrei novamente do meu pai, ele dizendo que era para eu não deixar de ir atrás das coisas que eu queria. Mas suspeitei que esse conselho não cabia a tudo. Ou talvez coubesse. Afinal não beijá-la e esperar o tempo certo para isto me fez ficar mais tempo em sua companhia, me fez cantar músicas românticas (sim, sei que isso soa brega), me fez quase beijá-la enquanto íamos em busca de Déia, me fez dormir na sua casa incontáveis vezes enquanto seus pais não estavam com o pretexto de não ficar sozinha, me fez ganhar a amizade e a confiança de Dani, me fez estar alí naquele momento sozinha com ela em um quarto escuro, num mesmo colchão. Talvez se eu tivesse tomado alguma atitude antes, e agora pensando melhor isso se tornara certeza, e ela recusasse por qualquer motivo que fosse eu me afastaria de Yumi e não estaria agora nesse momento podendo olhá-la de perto. Então a minha falta de ação estava me proporcionando coisas muito melhores do que se de fato houvesse tomado alguma atitude. Claro que se, por alguma razão desconhecida ela aceitasse o fato de que eu estou muito afim de beijá-la, e nos beijássemos poderíamos estar agora fazendo coisas muito mais produtivas do que uma massagem muito mal feita (porque não sabia mesmo fazê-la e porque estar encostando em sua pele me deixava meio tonta). Provavelmente estaríamos em um quarto só nosso, mas o que me consolava é que pelo menos estávamos em um colchão de casal. Me senti um pouco (mais) cafajeste. E se ela fosse hetero mesmo e estivesse confiando em mim, e eu aqui tentando tirar vantagem de qualquer que fosse a situação. Me senti mal. Tirei meus olhos e minha mão dela. Olhei para cima. Mas e aquele quase beijo fora o que? Nunca havíamos falado disso. Sei que posso estar me martirizando de mais pelas coisas, principalmente as que não aconteceram por falta de atitude minha, mas porque ela se deixaria levar por tudo quase a ponto de encostar sua boca na minha, se no fundo não tivesse alguma coisa? Não, definitivamente Yumi não era boba, talvez ela já tivesse sacado a muito tempo e no fim ela que estava me usando. Eu, uma bela idiota, me sentindo a mais cafajeste, e no fim era ela a interesseira que sabendo das minhas intensões deixava eu fazer gato e sapato para ficar na sua companhia, inclusive ter que presenciar futuramente ela ficar com Jéssica ali, no meu nariz. Talvez eu estivesse pensando de mais em tudo e devesse seguir o que Renata mais uma vez, sabiamente me disse "pare de pensar e comece a viver essas coisas".
Renata, ainda tinha isso. O que estava acontecendo com a gente? Porque ela insistia em querer ficar comigo mesmo sabendo que eu estava.. Bem, a fim de Yumi. Sim, posso assumir isso para mim mesma, estava a fim de Yumi. Nada além disso, curiosidade normal de uma pessoa normal. Senti como se esse pensamento já houvesse sobrevoado por mim antes. Realmente eu ainda ficava me desculpando por razões que já não tinham mais fundamentos. Ou talvez tivesse fundamento toda essa merda que eu não parava de pensar.
Yumi riu. Será que eu estava pensando em voz alta? Por alguns segundos meu coração parou de bater. Será que ela me ouvira falar alguma dessas besteiras?
- Que foi? - perguntei alto de mais, deixando transpassar entre minha voz que estava nervosa.
- Nada, você ta com uma cara muito estranha. Estranha mas engraçadinha - calou-se ainda com os olhos sobre mim.
Porque ela não olhava para outra coisa? Que saco, não conseguia pensar vendo que seus olhos estavam sobre mim, sentindo seu olhar em cada movimento que fazia.
- O que aconteceu Manu?
- Nada não.. Tava pensando em umas besteiras aí, nada que valha a pena ser dito - me antecipei antes que ela pudesse perguntar no que eu estava pensando e qual era o motivo para eu estar com uma cara estranha, engraçadinha mas estranha. Agora eu era engraçadinha. Era só o que faltava...

Um comentário:

Nana disse...

nhainn... esse chove não molha com a yumi da nos nervos.
bahhh a renata la toda com ciumes dela e ela nao se toca...

bjs moça...ansiosa para ler o resto