sexta-feira, 31 de julho de 2009

Estranhas coincidências

Chegamos ao bar e como sempre estava muito lotado. Muita gente bonita, mas em compensação, muita gente estranha também. Normal, mais uma sexta-feira à noite. Enquanto aguardávamos na fila, Yumi e Jéssica não se desgrudando, Carol e Má sem parar de discutir, Déia ainda arrumando a maquiagem, e Renata sumindo em meio à multidão, pois encontrara pessoas conhecidas, percebi um rosto passando por mim. Olhei mais atentamente, sorrindo para mim mesma. Era uma menina muito bonita que havia descido do ônibus junto com Micheli, lá na praia. Aquela que pensei ser a tal amiga de Micheli e que no fim era apenas mais uma passageira do ônibus. Forcei um pouco os olhos para ter certeza de quem era. Anotei mentalmente que precisava descobrir o seu nome, e quem sabe seu endereço futuramente. Sorri - cafajeste. Sim, as coisas poderiam voltar à sua normalidade. Assim esperei.
- Pra quem você ta olhando com essa cara de cobiça? - senti Déia me perguntando ao pé do ouvido.
- Eu? - me fiz de desentendida.
- Você - sorriu gentilmente.
- Cinco da tarde - falei tentando não mexer a minha boca.
- Que?
- Cinco da tarde.
- Que porcaria é essa de cinco da tarde?
- Você não conhece? - perguntou Jéssica se intrometendo na conversa após sair de um longo beijo com Yumi.
- Que? - voltou-se para ela ainda sem entender.
Após explicar que isto era uma maneira de mostrar alguém ou alguma coisa a partir dos ponteiros do relógio, Déia enfim olhou em direção à menina, porém ela já não estava mais lá.
- Você achou que ela ia ficar te esperando? - falei um pouco braba - tenho que falar com essa menina, eu a vi lá na praia, sério, muito linda!
- É?
- Sim, perfeita - falei me animando um pouco.
- Quem? - foi a vez de Yumi se intrometer.
- Não sei, a Déia é pamonha de mais, me fez perder a menina de vista.
- Uma menina?
- Sim!
- Onde?
Déia e eu rimos, parecíamos loucas.
Entramos com certa dificuldade. Muita gente bêbada, muita gente fumando, muita gente se pegando, tudo impedia qualquer tentativa de caminhada. Pedimos uma cerveja bem gelada, que apesar do frio na rua, estávamos morrendo de calor. Novamente avistei a menina-bonita-da-praia passando. Desta vez não iria perdê-la de vista.
- Manu - senti uma mão me puxando - essa aqui é a Marta, minha colega da psico - sorriu Carol me dando uma piscadela.
- Oi, Marta - dei um beijo em sua bochecha.
Voltei rapidamente meus olhos para a direção da menina-bonita-da-praia, porém novamente ela havia sumido do meu campo de visão.
- Oi Manu - sorriu. Ela não me era estranha. Fiquei pensando de onde eu conhecia aquela menina.
Marta ficara sem assunto, e Carol logo tratou de falar qualquer coisa sobre como o bar estava cheio, que a música tava ruim, se nós não estávamos a fim de subir e ir a um lugar um pouco mais reservado. Fui empurrada gentilmente por ela para que saíssemos dali. No caminho fui procurando com os olhos qualquer vestígio da menina-da-praia, mas nada. Quando achava que estava vendo, Carol me puxava com um pouco mais de força, me empurrando para que ficasse mais perto de Marta.
- E aí, o que você achou dela?
- Mas Carol, eu nem conversei com ela, como vou saber?
- Mas ela é gata né?!
- Sim, ela é bonita.
Era ruiva, tinha cabelos encaracolados bem compridos. Tinha olhos claros, e seus lábios eram muito grossos. Era no mínimo diferente. Só que havia alguma coisa de errada no seu sorriso, alguma tristeza encravada, quase distante.
Sentamos em uma das poucas mesinhas que estava livre.
- Vou buscar uma cerveja pra você Marta - disse, pegando a Má pela mão e levando-a consigo nos deixando sozinhas.
Ambas perceberam a jogada de Carol. Ela riu encabulada, eu ri ainda com o canto do olho tentando encontrar a menina-da-praia.
- Então você faz publicidade...
- É - falei meio desatenta. Seria sacanagem com a menina não lhe dar atenção. Postei meus olhos novamente para os dela. Ela tinha alguma coisa muito profunda escondida, talvez alguma tristeza. Só podia ser isso.
- E você é colega da Carol?
- Não, quer dizer, mais ou menos, eu sou veterana dela.
- Ah, que legal.
- Sim, gosto muito delas... - ela hesitou nesse momento.
- Eu também acho que a Má é meio inoportuna às vezes - soltei rindo.
Ela concordou rindo também.
- Eu conheço a Carol há um bom tempo, nunca vi as duas sem brigar, juro para você - ainda completou vendo minha cara de descrença.
- Eu não sei como conseguem namorar desse jeito.
- Mas elas se gostam, isso que é o mais louco de tudo.
- Sim, só com muito amor pra aturar a Má - ela riu.
- Pelo visto você não acredita muito em namoros né?! – me perguntou.
- Ta tão na cara assim?
- Mais ou menos - sorriu.
- E você acredita?
- Mais ou menos - continuou a sorrir.
- Acredito no amor, não no namoro.
- E você acha que eles conseguem se distanciar tanto assim?
- O amor e o namoro?
- Sim.
- Eles por si só não...
- Mas...?
- Mas quando você namora e ama sim.
Ela me olhou enigmática.
- Não vai querer me analisar agora né? - falei brincando.
- Você deixaria eu te analisar agora? - falou se aproximando de mim.
Inevitavelmente eu ri. Ela sorriu de volta. Olhei para os lados em busca de qualquer coisa, dei de cara com Yumi e Jéssica que se aproximavam trazendo duas cadeiras consigo.

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