terça-feira, 21 de julho de 2009

No final fica tudo no mesmo

Não consegui mais segurar meu choro, desabei com as mãos trêmulas segurando aquele pedaço de papel, aquele pedaço do meu coração que eu deixava ali, para que Patrícia pegasse e guardasse junto com ela.
Larguei a carta em cima da cômoda, sem olhar para Patrícia, esfreguei forte meus olhos para tentar enxergar em meio às lágrimas. Quando cheguei à porta arrisquei um último olhar para Patrícia, e saí do quarto.
Desci as escadas tentando fazer silêncio. Quando cheguei ao último degrau dei de cara com dona Amélia. Ela olhou bem fundo nos meus olhos, e talvez por ver o tamanho da tristeza que estava encravada neles, não falou absolutamente nada, apenas me deu licença para continuar meu caminho.
Ainda esperei ouvir os passos de Patrícia descendo as escadas, quando fechei a porta atrás de mim esperei ouvir um grito de Patrícia para eu esperá-la, vindo em minha direção dizendo que acreditava em mim. Já na primeira quadra depois de sua casa, incansavelmente ainda esperei que ela viesse atrás de mim, correndo, com seus cabelos ao vento, me abraçando, e me perdoando por tantos anos de sofrimento e desencontros. Mas ela não veio. Eu entendia a sua posição, mesmo com o coração tão apertado, mesmo com aquela tristeza cortando todo o meu corpo. Parecia que havia sido atropelada por um caminhão de mangas, tudo doía. Fui caminhando em direção à rodoviária, passando por muitos lugares dos quais outrora estive junto com Patrícia. Aquele caminho mais parecia uma saga que eu precisava trilhar para uma nova vida, pra perder aqueles desencontros de vez. Pra deixar todo o meu passado ali, deixar em fim Patrícia ir.
Desci uma ruazinha que dava direto para uma pracinha, pracinha esta que tantas vezes Patrícia e eu usávamos como abrigo. Fui até uma parte os as árvores se fechavam, fazendo um esconderijo. O esconderijo que nós sempre íamos nos momentos de aperto. Entrei naquele caminho de árvores fechadas, procurando uma árvore onde havíamos escritos nossos nomes. Uma, duas, na terceira achei. Lá estava "Pati e Manu" em volta de um coração, muito brega pensei sorrindo em meio as lágrimas. Lá estava mais uma marca de toda nossa história. Uma das tantas marcas visíveis que tínhamos feito naquela pequena cidade. Aquela cidade que dominamos com tamanha propriedade. Cada canto que poderia se tornar um abrigo para nós, nós já havíamos descoberto. Naquela idade das trevas quando sua mãe nos descobriu. E fora tudo minha culpa. Eu que estava forçando a barra e não ouvindo os pedidos de Patrícia para que não fizéssemos nada naquele dia, que ela pressentia que algo aconteceria.
Rodava alto o CD da Joss Stone, nossa sempre atual trilha sonora, já estávamos quase na quinta faixa, e ela ainda me punia, pedindo calma, para eu parar.
- Manu, pára - tentava falar em meio aos meus beijos, sedentos de saudade.
- Ai meu amor, eu tava morrendo de saudade - falei já deitando novamente por cima dela, passando minha mão por baixo da sua blusa, em busca de seu corpo.
- Manu... - mas ela não conseguia resistir, ela também estava com saudade, afinal o que são dois dias, dois longos dias, para duas pessoas apaixonadas? uma verdadeira eternidade.
- Minha mãe deve chegar daqui a pouco... - mas eu não queria saber de falar, queria Patrícia, toda ela, sem falas, sem medos, sem conversas de botas batidas, mas Patrícia.
- Prometo que ela não vai chegar, agora deixa eu tirar isso aqui - já arrancando sua blusa com força. Ela me olhara com um certo quê de espanto, mas no fundo se deliciava com minha vontade.
Eu estava com saudade de sua boca, de sua língua, do seu gosto, do seu corpo. Precisava senti-la perto de mim, sem barreiras entre nós. Abraçá-la sem blusa era algo inacreditavelmente mágico, quase lúdico se não fosse tão excitante.
Abri rapidamente seu zíper, puxando sua calça para baixo.
- Calma Manu - tentava falar entre um beijo mais cobiçoso que o outro. Mas ela também queria, sua mão já abrira minha calça também, com um pouco mais de delicadeza que eu, talvez. Me virou na cama com força, fazendo com que todo seu corpo ficasse por cima do meu. Puxou de uma só vez minha blusa, me beijando o pescoço, abrindo meu sutiã, tocando-o para longe, beijando e mordendo. Coloquei novamente meu corpo por cima dela, beijando-a com tanta vontade, que ela instintivamente me abraçava forte, por vezes me arranhando. Seu gosto, seu corpo, era tudo meu.
- Filha, vocês ainda estão estão... - ouvi a voz da morte. Não, aquilo era pior do que a morte. Aquilo era a voz do inferno, vindo das cinzas do fim do mundo. Era a mãe de Patrícia abrindo a porta. Não, naquele instante não. Patrícia e eu nos olhamos rápido e instintivamente, ambas com pânico daquela situação.
O que acontecera posteriormente foi muito, mas muito rápido e tenso, pra não dizer dramático. Nunca havia me trocado com tanta agilidade, em menos de cinco segundos, pode apostar, já estava com calça e blusa postos, em meios aos horrores que Amélia dizia, algo como "que porra está acontecendo aqui? Sua ordinária, então é isso que vocês tanto fazem estudando, suas nojentas" e lá se foi um tapa em mim. A mulher surtara completamente. Também pudera, quem não surtaria. Eu surtei, Patrícia surtou, todas loucas. Amélia viera para cima de mim, entre tapas desajeitados e socos. Que bom que ela era santa, nunca havia brigado na escola, pensava aliviada, tentando me defender como podia, eu não iria bater na mãe da minha namorada, minha sogra que naquele instante se tornara minha pior inimiga. Mas eu já não sentia uma parte se quer do meu corpo, estava mole, branca, gelada, vazia, com medo como nunca sentira na minha vida inteira. Patrícia tentava amenizar a situação segurando sua mãe, mas daí ela partira pra cima dela, eu não sabia o que fazer. Foi então que algo divino aconteceu, não sei por que raios ela simplesmente parara, ficando em silencio. Porém sua cara tinha tanta raiva, tinha tanto ódio e desprezo, que parecia gritar em alto e bom som todas suas pragas.
Amélia respirara fundo cinco vezes, cinco longas vezes. Meu coração batia forte, não arriscara a olhar em direção de Patrícia.
- Manuela, o pai da Patrícia ganharia um ataque do coração se visse essa coisa horrível que eu vi - ela falava pausadamente, como se tentasse ficar mais calma, mesmo que a cada palavra seu ódio aumentava progressivamente - você vai sair agora da minha casa e nunca, ouça bem, nunca mais ouse a falar com a minha filha ou aparecer por aqui. NUNCA MAIS. Gritara alto, me empurrando praticamente escada a baixo. O resto eu não me lembro direito. Fiz questão de esquecer. Ficava feliz com isso, pelo menos havia esquecido daquele horror. Lembro que sai da casa de Patrícia ouvindo gritos e a porta se fechando com força atrás de mim.
Mas hoje Amélia teve que engolir toda sua raiva por eu ter dormido ali na sua casa mais uma vez, e simplesmente ficara em silêncio me vendo ir embora. Pois eu preferia ir embora enxotada por Amélia, mas tendo o apoio e pelo menos o olhar de Patrícia sobre mim, do que sair com o apoio de sua mãe, sem ao menos um ar de Patrícia.
Cheguei à rodoviária, esperei pouco tempo e entrei no primeiro ônibus que ia para a minha nova cidade. Então que eu deixasse tudo para trás, deixasse tudo naquela estrada que ia aos poucos me levando para longe de Patrícia. Se eu me encontrara ao vê-la tão perto de mim, então que eu me perdesse e deixasse aquela Manuela apaixonada por Patrícia para trás, guardada com todas as lembranças que iam ficando junto com aquele caminho acinzentado.

Um comentário:

untouchedmilk. disse...

Nusss muito bom hein :P
beijooo t+