sábado, 11 de julho de 2009

Desde sempre

- Tive uma idéia - falou Jéssica, interrompendo meu ato.
Será que eu tinha dado muito na cara que ia beijá-la e Jéssica havia me flagrado? Olhei para o seu rosto enquanto falava, ela parecia calma de mais para isto. - Vamos fazer uma brincadeira muito legal.
- Qual? - perguntou Luiz igualmente empolgado. Parecia no fim que só os dois estavam gostando daquela tal festinha que estávamos tendo.
- Eu nunca!
- Conheço, é de mais, eu topo!
- Eu também - Carol concordou.
- Ah nem me fale - Luiz colocou as mãos no rosto.
Carol sorriu de volta. Senti que havia alguma coisa entre os dois que ninguém mais sabia, pois todos ficaram olhando para eles, esperando que terminassem a frase. Visto que eles não terminaram, e já temendo um ataque de ciúmes de Má, resolvi falar.
- Como que é isso?
- Resumidamente Manu - Luiz falou antes de Jéssica - a gente tem esse copo de bebida. Daí eu faço uma pergunta - dava pra perceber que Luiz estava nitidamente envolvido pelo álcool porque toda sua gentileza e o seu requinte com as palavras se perderam - daí depois da pergunta vem oquequemesmo? - enrolou-se.
- Por exemplo - falou Má, surpreendemente - Eu nunca dei um beijo. Quem já deu, quando o copo passar vai tomar um gole, quem nunca beijou ninguém não bebe.
- Ahmm - concordei meio sem entender.
- Segue a ordem - retrucou Rê.
- Ahm - continuei sem entender.
- Vamos começar - Déia pegou o copo da mão de Luiz.
- Eu nunca beijei homem - riu-se, tomando um gole.
Passou na sequência, Micheli, Jéssica, Maurício, eu, Yumi - todos sem exceção tomaram. Yumi entregara o copo para Carol, ela por sua vez entregou direto para a Má. Todos olharam com cara de grande espanto.
- Você nunca beijou um homem Carol??? - perguntou Yumi nitidamente incrédula.
- Nunca... Não homens heteros - riu.
Má tomara um gole, passando o copo para Luiz que passou o copo para Déia novamente.
- Entendeu Manu? - perguntou entregando o copo para Micheli - sua vez de perguntar.
- Ai, o que eu posso perguntar - falou Micheli enquanto coçava a cabeça - eu nunca.. ai - repetia ela coçando mais intensamente seu cabelo - eu nunca traí.
Todos tomaram um gole, menos Carol. Vi que quando Má tomara um gole, Carol voltara-se imediatamente para ela com uma expressão visivelmente atordoada. Talvez pensasse que Má tivesse traído ela. As duas começaram a discutir. Má subiu para o quarto, gritando algumas coisas inteligíveis. Todos ficaram em silêncio. Fechamos mais ainda o pequeno círculo que se formara de pessoas.
Depois de algumas perguntas sem cabimento, e muito engraçadas, Yumi confessou.
- Eu nunca fiz sexo com mais de uma pessoa - tomou um gole passando o copo para Luiz, que passara para Déia. Ela e os outros todos tomaram daquela caipirinha azeda. Eu apenas entreguei o copo para Yumi novamente.
- Beata - disse ela baixinho ao meu ouvido, depois de entregar o copo para Luiz.
- Eu nunca brochei - falou ele rindo, quase se engasgando quando bebeu um gole.
- Nossa gato, achava que você era mais potente - falou Maurício rindo também.
- Ah como que funciona isso com meninas? Eu não tenho um "sabe" pra brochar.
- Mas você pode ficar sem vontade na hora H - respondi.
Yumi novamente me olhara com aquela cara estranha de incredulidade.
Déia não tomara, Maurício fora o único que acompanhara Luiz no gole de caipirinha.
- Eu nunca fingi um orgasmo - tomou um grande gole. Talvez aquilo fosse uma indireta para Micheli, pois percebi que ela fechara a cara. Micheli também tomara. Entreguei o copo para Yumi sem beber. Ela por sua vez acabara com toda a bebida que ainda estava no copo. Luiz fora fazer mais.
Yumi continuava perto de mim, continuava com sua mão perto de mim, porém escorada no chão. Quando eu me mexia ela tocava levemente minha coxa.
A segunda rodada de perguntas ficara excessivamente sexual.
Perguntaram sobre posições, sobre pessoas, sobre desejos, sobre absolutamente tudo. Nada que pudesse provar que eu fosse gay. Mas todas minhas respostas afirmativas, para qualquer entendedor, e nem precisava ser muito bom, explicitavam isso. Yumi apenas me olhava incrédula. Talvez mais do que incrédula, talvez ela apenas estivesse fazendo aquele joguinho que começáramos a fazer desde quando nos conhecemos.
- A gente sabe que aqui não podemos mentir! - falou Maurício.
- Sim - Déia concordou.
- Eu tenho uma dúvida que nunca saiu da minha cabeça Luiz - voltou-se para ele - Naquela minha festa de aniversário, vocês não fizeram nada? Absolutamente nada? Tudo bem que vocês não tenham se beijado, mas nem uma rapidinha?
Luiz riu.
- Isso não faz parte da brincadeira - assumiu um tom mais sério.
- Então você fala isso porque alguma coisa tem e você nunca quis me falar!
- Eu não to falando nada seu louco.
- Eu nunca transei com um cara - falou Maurício decidido, tomando dois grandes goles. Entregou o copo para Déia. A essa altura Paulinho e Leandro já haviam subido para o quarto. Estávamos todos sentados no chão. Luiz, Jéssica (ela mudara de posição), Déia, Micheli, Renata, Yumi, eu e Maurício (também havia mudado de lugar para ficar ao lado de Luiz).
Luiz pegou o copo, olhou-o profundamente.
- Você ta esperando que eu beba né?
- Sim - sorriu Maurício.
- Por que posso saber?
- Porque eu acho que aconteceram muitas coisas no meu aniversário que você não me contou.
- Cara, você é muito preconceituoso, porque você não acredita que eu posso ser seu amigo e de todos vocês sem ser gay? Que merda! - passou o copo sem beber.
- Essa é a minha resposta Maurício - falou em um tom muito sério - eu continuo sendo hetero, continuo gostando de pegar meninas, e nem por isso vou deixar de ser seu amigo, mesmo você dando pra todos os caras que conhece por aí - gritou alto, levantando-se e saindo de casa. Maurício o seguiu. Ficamos todas paradas estáticas sem entender direito porque aquela brincadeira levara aquela briga entre os dois.
Jéssica pegara o copo que fora jogado no chão por Luiz. Olhou-o como se ele estivesse a falar com ela. Ou talvez eu estivesse tão bêbada a ponto de enxergar coisas a mais.
Bebeu um gole e passou para Déia.
- A gente vai continuar com a mesma pergunta?
- Acho que sim né? - respondeu Jéssica - para não quebrar a tradição da brincadeira temos que fechar o círculo.
- Desde quando existe tradição pra isso?
- Desde quando ninguém mais conhece essa brincadeira e eu sou a única que sim - riu-se estranhamente.
- Hmm, pois eu não preciso beber para essa pergunta - sorriu vitoriosa.
Porém Micheli bebera, passando para Renata que a imitara tomando um gole quase que interminável daquela caipirinha sem gelo e com muita vodka. O copo chegara em mim. Nunca havia feito nada com homens. Nada além de beijo. E só.
Entreguei o copo intocável para Yumi, que custou a pegá-lo da minha mão.
- Você? - ela fez a cara mais incrédula que eu já tinha visto.
- Eu o que? - perguntei custando a fixar Yumi em uma só imagem, pois tudo ficara embaraçosamente duplo e embaçado.
- Você é virgem? - e deixou-se soltar uma risada um pouco nervosa.
Déia seguiu-a rindo também, e logo estavam todas rindo, inclusive eu.
- Claro que não né?! - respondi ainda tentando fazer com que as duas imagens de Yumi se tornassem uma só.
- Como não se a pergunta era se já tinha transado com um cara e você disse que não?!
Arranquei o copo de sua mão, com muita conficção. Engraçado que quando bebemos conseguimos ser pessoas mais corajosas. E acredito também que somos mais sinceros com o que sentimos e o que pensamos. Por mais que o álcool tome conta, ele deixa muitas vezes escapar muitas verdades que tentamos no nosso dia-a-dia esconder socialmente. É por certo que perdemos a razão quando bebemos. Mas também sabemos que não podemos agir só com a razão, que às vezes precisamos dar um chute pro alto e ver o que acontece, sem ter tudo planejado. Claro que eu sabia que era "errado" beber para poder se soltar, mas que então aproveitasse a situação para enfim deixar bem claro para Yumi que eu gostava de mulheres. Por um segundo eu vacilei, olhei para os lados sem enxergar absolutamente nada. Prometi silenciosamente mais uma vez parar de beber. Fechei os olhos por mais alguns segundos, sentindo que minha cabeça fortemente era lançada para todos os lados, girando em um movimento sem fim. Talvez eu devesse me deixar levar por aquele caminho tortuoso e cheio de curvas, pra ver onde daria. Abri os olhos com força para voltar a realidade. Vi que as meninas me olhavam, e também seguiam o movimento da minha cabeça, girando, girando, girando.

3 comentários:

Alice disse...

Esses jogos sempre geram situações constrangedoras...

Ana disse...

ta.
=/
não entendi esse ultimo parágrafo.
Meio confuso. no final, ela falou (claramente) que gosta de meninas pra tal japonesa ou não?

Nana disse...

será que ela vai conseguir dizer?