quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um Marlboro e dois cigarros

- Acordem meninas, a janta ta na mesa - disse Carol, reconheci pela sua voz.
Yumi imediatamente se levantou, espreguiçando-se.
- To morrendo de fome, o que tem pra comer? - falou.
- Esquentamos aquelas pizzas congeladas - pizza de novo não, pensei.
Dani colocou o seu casaco e sai do quarto me deixando sozinha com Carol. Consegui enxergar com um pouco de força que Carol me olhava quieta.
- Vamos lá?
- Vai indo, to sem fome - falei com meu coração batendo muito forte - eu já desço com vocês.
Ela deu com os ombros e saiu porta a fora.
O que tinha acabado de acontecer? Ah, Yumi entendera a todas as minhas intensões e não havia feito nada para empedir, simplesmente havia me deixado ficar passando a mão - porque nem de longe aquilo era massagem - pelo seu corpo. E ela deixou-se levar pelo meu carinho, virando-se desempedindo minha mão para passar pela sua barriga. Eu precisava terminar o que havia começado. Sentia meu coração bater em todas as partes do meu corpo. Fiquei olhando para o teto durante muitos minutos, ouvi os barulhos da escada. Alguém estava subindo.
Renata apareceu na porta, entrou no quarto fechando a porta por trás de si.
- Pegou ela? - perguntou sentando-se na sua cama sem olhar nos meus olhos.
Fiz que não com a cabeça.
Ela repetiu meu gesto levantando-se.
- Você é mais devagar do que eu pensava - saiu me deixando sozinha novamente.
As pizzas já estavam frias quando finalmente decidi sair do quarto, mal consegui comer um pedaço. Ainda estava atordoada pelo que tinha acontecido a minutos atrás com Yumi. Ela estava sentada no sofá da sala, nem se virou quando Maurício soltou um berro de alegria que "até que enfim você apareceu sua dorminhoca".
Estava me sentindo um pouco sufocada com tudo aquilo, resolvi que iria dar uma volta. O centro da prainha não era muito longe dali.
- Onde você vai sua doida? - perguntou Déia quando abri a porta que dava para a rua.
- Já venho - falei baixinho no seu ouvido.
Quando sai, vi que Déia me acompanhava, fechando a porta.
- Onde você vai?
- Já venho - me imitou.
Caminhamos em silêncio, passamos pelo centro sem parar. Havia um número considerável de pessoas por ali jogando sinuca. Caminhando sem rumo chegamos a beira da praia. Tinha uma espécie de duna, muito pequena para uma duna, mas ainda assim uma duna. Sentamos. Déia tirou um cigarro do bolso, com dificuldade conseguiu acender seu Marlboro. Ventava muito e era um vento que cortava o rosto de tão frio.
- O que que ta pegando? - virou-se para mim.
- Ta tão na cara assim?
- Primeiro Renata sai puta do quarto, fiquei duas horas tentando convencê-la de que Yumi não estava dando bola para você - minha cara se fechou - não Manu, ela estava ou pelo menos parecia que sim, mas a Rê ficou meio mordida com isso. - voltei a sorrir - depois de sei lá quanto tempo vejo a Mi descendo as escadas fechando o casaco - não me olha com essa cara, eu vi que quando ela deitou ainda estava usando ele, depois de também sei lá quanto tempo enfim você resolveu descer com uma cara estranha, muito engraçada.
- Segunda pessoa que diz que eu tenho uma cara estranha e engraçada - falei olhando para as ondas que se formavam no mar.
- Mas não é feia, é engraçada.
- Me sindo muito melhor agora - falei sem animo.
- Para Manu, você é linda.
- De que adianta eu ser linda - enfatizei o linda - se a porra da Yumi não me da um beijo.
- Então é isso, vocês passaram todo aquele tempo no quarto e você não foi capaz de beijar a menina?
- Agora só faltava você vir me chamar de frouxa, a Renata já me fez esse favor.
- Mas o que aconteceu então, duvido que vocês realmente estavam dormindo.
Contei resumidamente, apesar dos pedidos insistentes pelos detalhes, sobre o que acontecera.
- Foi isso, nada de mais - falei entristecendo.
- Como assim nada de mais? Desculpa Manu, se de onde você vem heteros ficam se esfregando, mas aqui só quem faz isso, quando se trata de duas meninas, são gays - e riu alto - Então ela deixou você ficar se aproveitando dela assim, na maior - falou mais para sí mesma do que para mim - essa Yumi nunca me enganou.
- Déia, se a porcaria da Carol não tivesse aparecido eu tinha conseguido mais coisas, tenho certeza.
- Ah Manu, me poupe, não coloque a culpa na pobre da menina, você que foi uma besta de não ter comido a Yumi de uma vez - e riu-se mais ainda. É, não era só eu que pensava desse jeito.
- Ah digo eu, vai a merda Déia - empurrei-a brincando - Eu preciso de sexo, to quase ganhando um negócio aqui.
- Você precisa de ajuda? - me perguntou em tom de brincadeira - não sou a Yumi mas sei fazer coisas bem legais - falou me abraçando sem parar de rir.
- Nem me provoca Déia, que eu me aproveito de você aqui mesmo.
Abriu os braços para mim, mas voltou a me abraçar de lado.
- A Rê ta louca pra te comer - falou assoprando a fumaça para o lado.
- Nossa, me sinto um pedaço de picanha mal passada agora. Déia riu.
- Menina, a Rê não quer compromisso com você, aproveita isso e tira a barriga da miséria. Sério que aqueles dedinhos habilidosos com as baquetas fazem coisas inacreditáveis.
- P. que pariu Déia, quem que a Renata não transou dessa cidade?
Ri junto com ela - A Yumi, a Carol e a Má. O resto todo ela já marcou território e ah - fez uma reverência para mim - e você, é claro. Mas também é claro que isso em breve mudará.
- A Micheli, ela não traçou a Micheli - falei inocente.
- Não pouco né?
- Como assim? - arregalei meus olhos.
- Essa Micheli aí era louca pela Renata.
- Que mundo pequeno esse dos gays, e agora você quer ficar com as sobras da Renata?
- Vai a merda, tem muita mulher pra contar história, a Micheli é boa de mais, to nem aí pra quantas ela já fez qualquer coisa. Só sei que eu também quero fazer - soltou uma gargalhada que ecoou longe.
- Você não presta - falei rindo.
- Você que presta até de mais.
- Eu não sei o que ta me dando, eu não era assim - tive um breve momento de nostalgia lembrando de quando namorava com Luciana.
- Então essa Yumi tem mais importancia do que eu pensava - interrompeu meus pensamentos - pelo que você me contou, você não era assim tão puritana, você deve ta apaixonada mesmo.
- Que apaixonada que nada, ta louca?
Ela ficou quieta. Aquilo me irritou.

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