segunda-feira, 27 de julho de 2009

Feliz aniversário

- To pronta, cadê você meu amor?
- To quase, em 15 minutinhos eu chego aí.
- Você me disse isso faz meia hora Pati.
Riu um pouco nervosa - é que minha mãe - abaixou a voz - ta me enchendo o saco, porque ela acha que o André, sabe?
- Sei amor.
- Pois é, ela quer que eu me arrume toda, e você sabe que eu não gosto dessas coisas - riu novamente.
- Sei.
- Ela quer que eu use vestido Manu - falou manhosamente.
- Eu nunca vi você de vestido, deve ficar linda - sorri para mim mesma.
- E salto alto.
Soltei uma risada gostosa. Não cabia a imagem de Patrícia, uma menina que jogava futebol com os meninos, que andava de calça jeans surrada, pudesse usar um vestido e salto alto.
- Vai ficar linda, só anda logo que a festa dele é pra ser surpresa, fica chato nós chegarmos depois dele né?!
- Eu sei, mas esse vestido ta justo de mais - continuou rindo - ai, minha mãe, tchau.
- Tchau.
Depois de mais vinte minutos de espera, o telefone novamente tocou. Ouvi algum resmungo da minha tia, subi o quarto para poder falar melhor com Patrícia.
- Você está vindo? - perguntei.
- Como você sabia que era eu?
- Porque você já deveria estar aqui.
- Acho melhor nos encontrarmos na casa dele mesmo, vou me atrasar mais um pouco, minha mãe...
- Não acredito, eu estou te esperando faz um tempão pra isso? Você ir sozinha?
- Manui... - abaixou a voz - desculpa, mas minha mãe ainda está me enchendo o saco... Sabe como é, faz parte do jogo né?!
Sim fazia parte do jogo. Esse jogo sujo que jogávamos. Esse jogo que nenhuma das duas gostava, mas que éramos obrigadas a jogar. Obrigadas no sentido de que eu não tinha nada a perder em expor nossa relação, minha tia não dava a mínima para o que eu fazia ou deixasse de fazer. Para ela eu era apenas alguém que coabitava a sua casa, pois assim que eu fizesse 18 anos (coitada) eu iria sair e viver a minha vida bem longe dela. Já Patrícia tinha todo o apoio de sua família abalado se no fim eles ficassem sabendo de nós. Pelo menos era isso que achávamos que aconteceria quando descobrissem nosso crime. Fui pensando em todas essas coisas a caminho da casa de André, o tal namorado da minha menina. No fim éramos nós que deveríamos estar ganhando parabéns, afinal nos escondíamos com unhas e dentes de todos e de tudo, entranhadas apenas com o nosso amor, aquele amor puro e sujo ao mesmo tempo. Que merda de vida era aquela que vivíamos, tendo que usar o André para ilustrar o nosso relacionamento ao invés de simplesmente chegar na casa de Dona Amélia, e ir buscar a sua querida filha pela mão, levando-a para a festa.
Doce ilusão. Que seja doce então. A ilusão, o André, o nosso amor, enfim que seja um parabéns para nós.

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