terça-feira, 7 de julho de 2009

O príncipe

Luiz estava sentando no sofá da sala de frente para a televisão assistindo um programa sobre baleias. Ele parecia alguém que já tinha visto com aquela roupa. Usava uma touca na cabeça, uma jaqueta preta de couro, um moletom que deixava seu capuz ficar por cima da jaqueta, uma calça jeans e um tênis branco.
- Nossa Luiz, sabe com quem que você ta parecendo?
- Quem?
- O Justin Timberlake - falei rindo.
- Sério? Olha aquele cara faz sucesso com as menininhas né? Então eu to bem - falou voltando-se para mim.
Por alguns segundos fiquei pensando porque ele falara isso se era gay.
- Que foi?
- Nada - respondi.
Ele soltou uma risada grossa.
- Você também acha que eu sou gay é isso?
- Ué, não é?
- Só porque sou amigo dos gays, e que não chamo eles de viados e filhos da puta, não quer dizer que eu seja né?
Sorri um pouco sem graça.
- Mas você nunca ficou com homens? - perguntei ainda incrédula.
- Não - falou ele com uma cara reprovação - Eu gosto de mulheres. O seu amigo aí, o Maurício até que tentou - falou um pouco mais baixo - mas eu prefiro mulheres, sabe? Mais parecidas como você.
- Hm - concordei - é que sei lá...
- Normal, todo mundo acha, mas eu não pareço né?!
- Ah não sei, acho que não - sorri.
- Menos mal, todo mundo sempre acha que eu sou, os amigos do Maurício sempre chegam em mim, tentando me converter. E quando eu digo que não sou fazem cara feia pra mim. No fim eu é que sofro preconceito por andar com gays mas não ser - fez um beiço meio estranho.
- Imagino - sorri - é que você se veste bem, é gentil e é difícil de ver homens assim.
Luiz abriu um largo sorriso - é, mas eu sou assim. E por eu gostar de lugares bacanas, sair para jantar em restaurantes, essas coisas, várias meninas já confundiram minhas intenções achando que eu era gay, é um saco.
Ri de suas caras.
- E isso só se confirma quando eu digo quem são meus amigos, mas não quer dizer nada né?! Porque olha você, anda com um monte de meninas gays, e nem por isso você é - sorriu se aproximando um pouco mais de mim. Ele estava realmente interessado em conversar.
- Olha Manu, eu já passei por maus bocados, se é difícil ser gay hoje em dia, é mais difícil ainda você não ser e não ter problemas com isso.
- Imagino, você já deve ter passado por muitas coisas mesmo. E eu acho que é mais difícil ainda quando você é homem né, porque vivemos numa sociedade machista ainda.
- É, mas todos anos de experiência me fizeram ser mais relaxado com essas coisas, nem me estresso mais. Só não gosto quando os caras ficam insitindo que eu sou gay, um saco!
- Mas você é assim porque não é mais um menininho.
- Ah, agora você vai me chamar de velho é?
- Não, mas de maturo.
- Mas ser maturo é bom.
- Sim.
Conversamos ainda sobre música, teatro, cinema. Percebi que ele começara a se aproximar a cada novo movimento e que o tom da conversa aos poucos deixava de ser casual.
- Mas sabendo que eu não sou gay, você não se pergunta porque eu vim pra praia? - retomou o assunto.
- Ué, não são teus amigos?
- São... Mas não é só por isso né!?
- É porque então? - perguntei suspeitando a futura trajetória daquela conversa.
- Ah Manu...Eu gostei de conhecer você e as meninas.
- Que bom, eu também gostei de ter conhecido você.
- Só que eu queria conhecer mais de você.
- Mas estamos nos conhecendo - sorri amarelo. Pensei se eu não acabara de ser um pouco grossa com ele, mas já bastava o rapaz da sinuca, estava farta de meninos. Sorri para mim mesma.
- Bom Luiz, vou tomar um banho que hoje a noite vai ser muito fria e não me arriscarei a entrar no chuveiro assim - sai com a certeza de que aquela fora uma das mentiras mais mal contadas por mim. Ele por sua vez manteve o beiço estranho apenas me acompanhando com os olhos.