quinta-feira, 23 de julho de 2009

Enfim o fim

Déia voltara com um café para cada uma na mão. Ela sabia da minha paixão por café preto. Fiquei mais feliz. Decidi que não ficaria mais triste (como se fosse tão fácil).
- Déia, vou te deixar lá na sua casa né?!
- Ai, nem me fala... A Malu... Que merda.
- O que aconteceu?
- Hoje é aniversário da Malu, não tinha te contado?
- Não.
- Pois é, a Renata resolveu fazer uma festa surpresa pra ela... Ta todo mundo lá.
- Ah... desculpa ter tirado vocês de lá...
- Não te preocupa Manu - falou Yumi sorrindo novamente pra mim - elas podem ficar sozinhas um pouco. Você quer ir junto pra lá?
- Sinceramente não, vou pra casa, me deixa em qualquer lugar que eu vou.
Deixara Déia em casa e sem descer do carro, continuamos andando. Mas não era em direção a minha casa.
- Onde você ta me levando?
- Você ta com fome?
- Não, onde você ta indo? Quero ir pra casa... - falei nenhum pouco decidida.
- E eu quero cuidar de você Manu, assim como você sempre cuidou de mim.
Sorri sem saber o que dizer.
- Então me deixa em casa...
- Não vou deixar você sozinha.
- Mas a Débora deve estar lá. Ah, eu tinha me esquecido, ela deve estar lá com o seu namorado - fiquei triste, o que eu mais queria naquele momento era ficar quietinha na minha cama, dormindo, dormindo, esperando pra ver se aquela dor do meu peito passava de uma vez por todas.
- Viu só, você vai ficar é comigo.
Senti meu coração voltar a bater novamente, sorri para mim mesma.
- E porque a gente não ta indo lá pra sua casa então?
- Ai, nem me fale... Deu mais uma confusão lá. Minha mãe é louca, meu pai pior ainda, meu irmão só quer saber de se trancar no quarto com a sua namorada... E eu é que me vire nessa confusão.
- E o que isso me impede de ir pra lá?
Vi que ela ficara sem jeito.
- Ah... é que minha mãe meio que não sabe nada de mim, sabe?
- Hm... e?
- E ela meio que desconfiou já que a... - ela se calara.
- Então você e a Jéssica estão bem? - perguntei tentando disfarçar minha tristeza que já não era mais por causa de Patrícia.
- É... - respondeu ficando quieta novamente.
- Que bom pra vocês, pelo menos alguém tem que ser feliz nessa vida né? - falei me entristecendo mais ainda.
- Ah, mas nem é assim não... As coisas sei lá... só são, entende?
- Não - confessei.
- Sei lá, às vezes parece que quando a gente espera muito pra uma coisa acontecer, quando ela acontece tem mais chance de não ser tudo aquilo que imaginamos, entende?
- Tento - sorri.
- Pois é... Acho que é isso. Ela é legal, eu gosto dela.
- Só legal?
- É, só legal.
- E você acha isso bom?
- Não sei, é fácil - deu com os ombros.
- Você e essa seu fetiche por coisas fáceis - sorri, empurrando-a carinhosamente.
- Ah, pra que confusão?
- Olha... Quando eu gosto das pessoas, não gosto porque sei que terei confusão com ela, mas nem muito menos porque acho que ela é fácil... Eu gosto porque gosto, e se permaneço é porque eu quero.
- Mas quem disse que eu não quero?
Ficamos novamente em silêncio.
Fomos ao shopping que ficava perto dali. Ela insistiu que eu estava muito magra, que precisava comer alguma coisa. Lembrei instintivamente de Patrícia e de todo o seu carinho que tinha por mim, para eu me cuidar, para não comer só porcarias, dela em si. Era engraçado, naquele tempo todo que eu havia trocado de cidade e deixado tudo aquilo para trás (como se fosse possível), eu não havia ficado pensando em Patrícia. Ri nervosa. Era engraçado como podemos ser egoístas e só querer essas coisas quando não podemos ter. Era assim que eu era. Ponto final. Não iria mudar de uma hora pra outra. Não desfaria tudo que já havia feito e causado em Patrícia. Era impossível. Naquela hora, provavelmente Patrícia estaria embarcando no avião, indo em direção não só a Canadá, mas em direção oposta de mim. O sem mim que demorou tanto tempo pra eu acreditar que um dia chegaria. O dia em que ela me olharia nos olhos, profunda, direta, com certeza (coisa que ela nunca tivera), e me daria tchau. E iria. Coisa que eu já tinha feito há tanto tempo. Iria, para longe e para sempre. Me conformei. Por mais clichê era assim que tinha que ser, e pronto. Mais do que conformação. Era uma confirmação. Era aquilo, e deu. Ok, pensei ainda tentando coordenar meus pensamentos. Se era isso, eu tinha perdido Patrícia (e já fazia tanto tempo, porque aquilo ainda me doía daquele jeito?). Perdi quando não dei razão a mim mesma, quando não me escutei. E se tivesse me escutado, ia voltar ao passado. E se voltasse? O que eu iria fazer? Talvez as mesmas coisa que já tinha feito há tanto tempo atrás. Sim, iria. Então pra que voltar e sofrer tudo de novo? Não que eu tivesse sofrido, eu era muito mais egoísta do que a coitada da Patrícia achava. Eu não havia sofrido. Depois talvez. Mas sofrido de mim, pena de mim, e só de mim. Não de Patrícia. Sofria porque no fim tudo dera errado para mim, não que antes havia dado para os outros. Os outros eram os outros, eu era só eu e isso.
Mas naquela manhã de sábado, ao vê-la acordar, daquele jeito que sempre sonhava, que gostava tanto. Ao vê-la. Ao receber em troca seu olhar sincero (e isso era o que mais doía). E a constatação. A confirmação. A certeza. O fim. Isso sim era triste. E isso era maior do que minha autopiedade. Isso era maior do que meu egoísmo. Isso era maior até do que o amor que um dia eu sentira por ela. O fim. O inevitável, que por tantas vezes esteve nas nossas mãos o transformar em reversível, mas que por estar justo nas mãos erradas, não o fora. Então fim. O fim esperado desde o começo de tudo. Afinal, por mais que não sabia quando que tudo começara, sabia que um dia sim, o fim. O fim apareceria, da forma mais pura, mais doce, mais angelical e mais maquiavélica. Mas apareceria. E quando assim o fizesse, eu iria ceder todas minhas forças, e deixaria que ele tomasse as rédeas. Que controlasse tudo. E eu, ali presente, ou mais ausente ainda, o deixaria fazer o que quisesse. O fim.

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